Divórcio na Bíblia. Um cristão pode se divorciar e casar novamente?

O tema do divórcio à luz da Bíblia é um dos mais delicados, especialmente porque toca diretamente na vida de milhares de cristãos que enfrentam crises conjugais, abandono, traições e, em casos ainda mais graves, violência doméstica. Neste artigo, abordaremos com profundidade o que a Bíblia realmente diz sobre o divórcio, o adultério e a esperança para quem sofre problemas em várias áreas de sua vida que acabam levando a esse desfecho.

Mas antes mesmo de começarmos a discutir este tema precisamos lembrar que Deus odeia o divorcio e isto está claro em sua Palavra no livro de Malaquias:

“Eu odeio o divórcio”, diz o Senhor, o Deus de Israel, e “o homem que se cobre de violência como se cobre de roupas”, diz o Senhor dos Exércitos. Por isso tenham bom senso; não sejam infiéis. (Malaquias 2:16)

Embora o divorcio não seja uma opção para cristãos verdadeiramente convertidos, não podemos trata-lo de forma simplória, simplesmente anulando este tema do meio cristão.

O divórcio existe entre os cristãos e tem inclusive crescido nos dias de hoje. Muitos crentes tem se divorciando e até contraindo novos matrimônios, portanto, o objetivo deste estudo é trazer uma visão bíblica clara sobre este assunto polêmico e transmitir uma orientação útil que quem passou, ou está passando por este momento ou passará no futuro.

 

O Que a Bíblia Diz Sobre o Divórcio? Ele é permitido aos cristãos?

O divorcio na Bíblia

A questão do divórcio na Bíblia é um tema complexo e debatido, com várias passagens que abordam a prática sob diferentes perspectivas. A Bíblia apresenta algumas permissões para o divórcio, mas também enfatiza o valor do matrimônio e a fidelidade. Vamos analisar as passagens mais relevantes.

Casamento e divórcio no Antigo Testamento.

O Antigo Testamento apresenta o casamento como uma união sagrada e permanente entre um homem e uma mulher, estabelecida pelo próprio Deus no princípio da criação: “serão ambos uma só carne” (Gênesis 2:24). O ideal divino sempre foi a união vitalícia, sem separação.

No entanto, com o endurecimento do coração humano, surgiram permissões legais para o divórcio. Em Deuteronômio 24:1-4, Moisés regulamentou a prática para evitar abusos: se o marido encontrasse algo vergonhoso na esposa, poderia dar-lhe uma carta de divórcio, formalizando a separação. Ainda assim, essa permissão visava proteger a mulher em um contexto cultural que muitas vezes a deixava vulnerável.

Outras leis, como Êxodo 21:10-11, garantiam que uma esposa negligenciada teria direito à liberdade, caso o marido não suprisse suas necessidades básicas. Ao final do Antigo Testamento, Deus, por meio do profeta Malaquias, deixa claro seu repúdio ao divórcio, classificando-o como uma traição à aliança matrimonial (Malaquias 2:16).

Assim, embora o divórcio tenha sido tolerado em Israel, o ideal bíblico sempre apontou para a fidelidade e a indissolubilidade do casamento.

Casamento e divórcio no Novo Testamento.

No Novo Testamento, Jesus aborda o divórcio em várias passagens, destacando que a permissão para o divórcio não é a intenção original de Deus para o casamento. Uma das passagens mais importantes está em Mateus:

“Alguns fariseus aproximaram-se dele, para o testar, e perguntaram: ‘É lícito ao homem divorciar-se de sua mulher por qualquer motivo?’ Jesus respondeu: ‘Não lestes que no princípio o Criador os fez macho e fêmea, e disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá à sua mulher, e serão os dois uma só carne? Assim, não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, não o separe o homem.’ Perguntaram-lhe: ‘Então, por que Moisés ordenou dar carta de divórcio e repudiá-la?’ Jesus lhes disse: ‘Moisés, por causa da dureza do vosso coração, permitiu que vós repudiásseis as vossas mulheres; mas no princípio não foi assim. Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, exceto por causa de adultério, e casar com outra, comete adultério.'” (Mateus 19:3-9)

Aqui, Jesus destaca que o plano de Deus para o casamento é que seja indissolúvel, mas ele concede uma exceção para o caso de adultério. Ou seja, o divórcio é permitido quando há infidelidade conjugal, mas fora desse caso, o divórcio é considerado uma violação da vontade de Deus.

Em Mateus 5:31-32, Jesus também aborda o divórcio:

“Também foi dito: ‘Quem repudiar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio.’ Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, exceto por causa de adultério, faz com que ela se case com outro, e quem se casar com a repudiada comete adultério.” (Mateus 5:31-32)

Essas passagens indicam que o divórcio é permitido apenas em casos específicos de adultério, mas que, idealmente, o casamento deve ser duradouro e fiel.

O apóstolo Paulo também aborda o divórcio em 1 Coríntios. Ele instrui os cristãos a permanecerem casados, mas reconhece situações em que o divórcio pode ser necessário:

“Às casadas, dou este mandamento, não eu, mas o Senhor: que a mulher não se separe do marido. Se, porém, ela se separar, que permaneça sem casar, ou que se reconcilie com o marido. E ao marido não deixe de ser com a mulher. Quanto aos outros, digo eu, não o Senhor: Se algum irmão tem mulher descrente, e ela consente em viver com ele, não a deixe. E se alguma mulher tem marido descrente, e ele consente em viver com ela, não o deixe. Pois o marido descrente é santificado pela mulher, e a mulher descrente é santificada pelo marido. Caso contrário, os vossos filhos seriam imundos; mas agora são santos.” (1 Coríntios 7:10-15)

Ele permite o divórcio quando há um cônjuge descrente que deseja se separar.

Então, segundo a Bíblia, a inerrante Palavra de Deus, o divórcio deve ser uma última opção, após tentativas de reconciliação, e não uma prática trivial. A recomendação bíblica é sempre a preservação do casamento, buscando a reconciliação e a paz entre os cônjuges.

 

O Divórcio na Bíblia e os problemas de interpretação do termo grego original.

O Divórcio na Bíblia e os problemas de interpretação do termo grego original.

Os principais textos bíblicos usados para proibir o divorcio no meio cristão são Mateus 5:32 e Mateus 19:9 e como sabemos, existe certo debate em relação a estes textos, onde alguns afirmam que eles não trazem uma tradução exata daquilo que Jesus disse nos originais gregos.

A grande discussão gira em torno do significado exato da palavra πορνεία (porneia). Em muitas traduções ela aparece como “imoralidade sexual” ou “relações sexuais ilícitas”, mas o termo é mais amplo do que simplesmente adultério (que em grego é μοιχεία — moicheia).

Original grego:

καὶ λέγω ὑμῖν, ὅτι ὃς ἐὰν ἀπολύσῃ τὴν γυναῖκα αὐτοῦ, μὴ ἐπὶ πορνείᾳ, καὶ γαμήσῃ ἄλλην, μοιχᾶται.

Tradução direta:

“E eu vos digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher, a não ser por causa de porneia, e se casar com outra, comete adultério.”

Realmente isso abre espaço para diferentes interpretações, algumas até mais abrangentes que o adultério.

1. Interpretação tradicional (mais comum):

Jesus permite o divórcio apenas em caso de infidelidade conjugal (adultério).

Isso se baseia na ideia de que “porneia” = adultério. Assim, o divórcio só seria permitido nesse contexto específico.

2. Interpretação mais ampla (linguística):

Jesus permite o divórcio em caso de qualquer tipo de imoralidade sexual grave, incluindo abuso sexual, incesto ou outras formas destrutivas de perversão no relacionamento.

Aqui, os estudiosos apontam que “porneia” pode abranger mais do que adultério consumado, especialmente quando o casamento está sendo destruído por pecados sexuais de natureza mais grave ou contínua, como: Pornografia, frieza conjugal, chantagens envolvendo o relacionamento sexual, ou mesmo infidelidades mais básicas como flertes, cobiça a terceiros e outros comportamentos considerados imorais que promovem também infidelidade.

3. Interpretação relacionada ao noivado (cultural):

Alguns estudiosos sugerem que Jesus estava se referindo a relações sexuais ilícitas durante o noivado, como no caso de José e Maria (Mateus 1:18-19).

Segundo essa visão, o termo “porneia” teria um significado restrito ao contexto judaico de noivado, onde a infidelidade durante esse período poderia justificar a separação.

4. Interpretação judaica do termo:

No judaísmo do tempo de Jesus, especialmente entre os escolas rabínicas de Hillel e Shammai, havia debate:

  • Escola de Shammai (mais rígida): só permitia o divórcio por adultério.
  • Escola de Hillel (mais liberal): permitia por “qualquer motivo”, inclusive por uma esposa “queimando a comida”.

 

Jesus parece estar respondendo a essa controvérsia, e Ele se posiciona de forma mais próxima à escola de Shammai, mas com nuances.

Enquanto a interpretação tradicional entende que o divórcio é permitido apenas em caso de adultério, outros estudiosos (inclusive alguns teólogos evangélicos conservadores) compreendem porneia como algo mais abrangente, incluindo pecados sexuais graves ou destrutivos, que poderiam justificar o fim do casamento, portanto, permitindo o divórcio e um novo casamento sem que haja adultério da parte da vítima.

 

Um cristão pode se divorciar em caso de violência doméstica?

Um cristão pode se divorciar em caso de violência doméstica?

Agora a nossa analise começa a ficar mais complexa. Esse é um cenário difícil e que envolve uma análise cuidadosa dos princípios bíblicos sobre casamento, divórcio e novas uniões. Vamos explorar essa questão com base nas Escrituras.

Como já mencionamos, Jesus, em Mateus 19:3-9, disse que o divórcio só seria permitido em casos de adultério (infidelidade conjugal).

A Bíblia não especifica explicitamente se o divórcio é permitido em casos de violência. A ênfase de Jesus foi que o divórcio não era parte do plano original de Deus para o casamento, mas, em situações de infidelidade, Ele fez uma exceção.

No entanto, a questão da violência doméstica envolve mais do que apenas um caso de infidelidade. A violência é bem pior que a infidelidade. Ela pode ser vista como uma quebra do pacto de amor, cuidado e respeito que deve existir em um casamento.

A Bíblia enfatiza a necessidade de proteção para os vulneráveis, conforme Salmo 82:3-4 e outros versículos que falam sobre defender os oprimidos.

Nesse contexto, pode-se argumentar que a violência no casamento prejudica a segurança emocional e física do cônjuge, criando uma violação do vínculo conjugal.

Em 1 Coríntios 7:15, Paulo menciona que, se o cônjuge descrente se separar, o outro “não está sujeito à servidão” e pode ficar livre para se separar também. Embora Paulo estivesse se referindo ao caso de um cônjuge descrente, esse princípio pode ser aplicado em situações de abuso, onde um cônjuge não está mais disposto a manter um relacionamento saudável e seguro e por conta disso já perdeu sua fé em Cristo.

A ideia de “não estar sujeito à servidão” pode ser interpretada como uma permissão para que a vítima de abuso se separe de um relacionamento que coloca sua vida ou bem-estar em risco.

Um cristão nunca deve se submeter a um casamento onde sofre agressões. A orientação bíblica quanto a isso vai além do divórcio. Também devem ser tomadas precauções não só para que o cônjuge agressor seja tirado da comunhão bíblica como responda judicialmente pelos crimes cometidos.

A Bíblia nos ensina que os cônjuges devem se tratar com amor e respeito. Efésios fala sobre como o marido deve amar sua esposa:

“Maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela… Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama a si mesmo.” (Efésios 5:25-28)

Esse amor é descrito como sacrificial, o que implica em cuidar da esposa com respeito e proteção, sem recorrer à violência.

Da mesma forma, 1 Pedro instrui os maridos a tratarem suas esposas com compreensão e honra:

“Igualmente, vós, maridos, convivam com elas com discernimento, dando honra à mulher como ao vaso mais frágil, como sendo herdeiras convosco da graça da vida, para que não se interrompam as vossas orações.” (1 Pedro 3:7)

A violência, seja física ou emocional, é uma violação direta do mandamento de amar e respeitar o cônjuge.

É errada a ideia que alguns cristãos tem de que a mulher deve se submeter as agressões de seu marido só porque é casada perante Deus e perante os homens. Isso também vale para maridos que sofrem agressões físicas por parte de suas esposas.

Em ambos os casos o agressor já dissolveu o matrimonio, cometendo pecados terríveis, piores que o adultério e deve responder criminalmente perante as leis terrenas.

A Bíblia ensina que devemos buscar a paz e a justiça nas nossas relações. Romanos diz:

“Se for possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens.” (Romanos 12:18)

A violência no casamento destrói essa paz e, muitas vezes, coloca em risco a segurança e o bem-estar de um dos cônjuges. Em situações de violência, a Bíblia não sugere que a vítima deva permanecer em um ambiente de abuso, pois a proteção da vida e a saúde física e emocional são essenciais.

Então para fecharmos este assunto, embora a Biblia não seja clara sobre o divorcio em casos de violência domestica podemos concluir que ele é indicado sim, e permitido, se nos basearmos em vários outros princípios bíblicos. Deus não é um sádico para considerar justo um cônjuge estar preso o resto de sua vida a um agressor. Nenhuma igreja deve defender isso! Nenhum pastor deve ensinar que uma esposa deve se manter casada caso sofra violência doméstica, nestes casos, apoiar este tipo de servidão é cruel e anticristã, além de criminosa.

A Igreja tem o dever moral a bíblico que se opor a estes casos e buscar a punição bíblica e legal para cônjuges violentos, não importa o quão fieis eles sejam em outras áreas, mesmo que sejam pastores ou lideres cristãos.

“Defende o fraco e o órfão; faze justiça ao aflito e ao necessitado. Livra o fraco e o pobre; tira-os da mão dos ímpios.” (Salmo 82:3-4)

 

Um cristão pode se divorciar sem ser por adultério ou outro problema grave como violência?

Um cristão pode se divorciar sem ser por adultério ou outro problema grave como violência?

E no caso de cônjuges que decidem mutuamente em se divorciar sem ser por motivos de adultério, só porque não querem mais viver juntos? Qual o posicionamento bíblico sobre isso?

Vamos desenvolver esse tópico com base em três eixos: A visão bíblica do casamento como aliança, o ensino de Jesus sobre o divórcio, e o desafio moderno de lidar com separações consensuais que não envolvem adultério, mas simplesmente “não querer mais viver juntos”.

Divórcio consensual sem adultério: o que diz a Bíblia?

Nos tempos atuais, tornou-se comum casais optarem por se separar de forma consensual, sem brigas ou traições, apenas pela alegação de “incompatibilidade” ou por “não se amarem mais”. À luz da Bíblia, esse tipo de divórcio encontra um grande desafio: a ausência de base bíblica para a dissolução do casamento fora da infidelidade sexual.

1. O casamento como aliança indissolúvel.

Jesus reafirma o plano original de Deus ao citar Gênesis:

“Portanto, o que Deus ajuntou, não o separe o homem.” (Mateus 19:6)

O casamento não é apenas um contrato civil ou um acordo emocional, mas uma aliança espiritual diante de Deus.

Essa aliança é baseada no compromisso, e não apenas em sentimentos ou circunstâncias momentâneas. Romper essa aliança sem causa justa (biblicamente falando) é visto como quebra de fidelidade para com Deus, e não apenas com o cônjuge (Malaquias 2:14-16).

2. Jesus restringe o divórcio.

Na mesma passagem de Mateus 19, Jesus é questionado:

“É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?” (Mateus 19:3)

Na época, os fariseus estavam divididos entre duas escolas rabínicas: uma mais conservadora (Escola de Shammai) que só permitia o divórcio em caso de imoralidade, e outra mais liberal (Escola de Hillel) que aceitava o divórcio até por razões triviais. Jesus se alinha claramente com a visão mais rígida:

“Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de relações sexuais ilícitas, e casar com outra, comete adultério.” (Mateus 19:9)

Ou seja, Jesus exclui a possibilidade do divórcio voluntário por “desgaste” ou “falta de amor”, deixando como única exceção a porneia que já analisamos a fundo anteriormente (imoralidade sexual).

3. E se ambos concordarem em se separar?

Mesmo que os dois cônjuges estejam de comum acordo e vivam em paz com a decisão, a Bíblia ainda os vê como ligados espiritualmente, exceto se houver uma base bíblica para o rompimento.

Paulo trata disso em 1 Coríntios 7:

“Aos casados, ordeno, não eu, mas o Senhor: que a mulher não se aparte do marido. Se, porém, se apartar, que fique sem casar, ou que se reconcilie com o marido; e que o marido não deixe a mulher.” (1 Coríntios 7:10-11)

Aqui vemos que a separação pode ocorrer em casos difíceis, mas o novo casamento não é liberado, a não ser que haja adultério envolvido. A instrução bíblica é clara: ou a reconciliação, ou a continência.

4. E a graça de Deus para os que já se separaram assim?

É aqui que entra o equilíbrio entre verdade e graça. A Bíblia ensina os padrões ideais de Deus, mas também revela que Ele é misericordioso, compreensivo e restaurador.

Alguém que se divorciou sem causa bíblica, mas depois se arrependeu e entregou sua vida a Cristo, não está condenado eternamente. O pecado do divórcio, como qualquer outro pecado pode ser perdoado mediante arrependimento sincero. No entanto, isso não muda o ensino: não é certo divorciar-se apenas por vontade mútua sem motivo bíblico.

Então, seguindo essa ideia qualquer um pode se divorciar e casar de novo? Claro que não!

Vamos explicar isso melhor nos próximos tópicos. Por enquanto o que sabemos mediante a Bíblia é que o divorcio consensual por qualquer motivo que não seja o adultério não é bíblico, Deus não se agrada disso. Porém esse não seria um pecado imperdoável como alguns imaginam e defendem.

 

Segundo a Bíblia, os divorciados e casados de novo são adúlteros pelo resto da vida?

Segundo a Bíblia, os divorciados e casados de novo são adúlteros pelo resto da vida?

Existem correntes cristãs que defendem a ideia de que todo cristão divorciado e casado novamente vive em um “eterno adultério” e por causa disso não poderá entrar no Reino dos Céus conforme está escrito em 1 Coríntios e no livro de Apocalipse:

Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, (1 Coríntios 6:9-10)

“Fora ficam os cães, os que praticam feitiçaria, os adúlteros…” (Apocalipse 22:15)

No entanto essa é uma interpretação errônea. Se assim fosse, o adultério seria classificado como um pecado sem perdão, e sabemos que só existe um pecado sem perdão mencionado inclusive por Jesus, que é a Blasfêmia contra o Espírito Santo. (Mateus 12:31-32)

Essas passagens falam de pecados contínuos, não arrependidos, como estilo de vida rebelde contra Deus. Ou seja, não estão se referindo a pessoas que pecaram, se arrependeram e vivem buscando agradar ao Senhor, mesmo que tenham erros no passado.

Outros defendem que os divorciados por motivos que não sejam adultério devem se manter solteiros pelo resto da vida pois se chegarem a casar novamente cometem adultério e tornam o novo cônjuge adultero. No entanto esta é outra conclusão baseada em uma interpretação errônea das Escrituras pois também classificaria o adultério como pecado sem perdão ainda que os divorciados não casassem novamente.

Então, qual o posicionamento bíblico correto em relação aos cristãos divorciados e casados de novo?

Segundo a Bíblia, a pessoa que se divorcia e se casa novamente sem base bíblica legítima (como infidelidade conjugal) comete adultério no ato do novo casamento, mas não é chamada de adúltera continuamente para o resto da vida.

Jesus ensinou que “quem se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, e se casar com outra, comete adultério” (Mateus 19:9).

O adultério descrito está no ato da nova união feita de forma indevida, não no sentido de um estado contínuo diário de adultério.

Depois do novo casamento, embora a origem tenha sido pecaminosa, a nova união é reconhecida como um casamento verdadeiro, e as pessoas são chamadas a viver em fidelidade nesse novo relacionamento.

A Bíblia não ordena que uma pessoa que se casou novamente de forma errada deva se separar novamente para “corrigir” o erro (Deuteronômio 24:1-4 proíbe retornar ao primeiro cônjuge após novo casamento).

Ou seja: o novo casamento, mesmo iniciado em pecado, deve ser honrado a partir dali. O arrependimento sincero pelo erro cometido é possível, mas a nova união é respeitada.

Resumindo em uma frase: O adultério acontece no rompimento e no novo casamento fora do padrão de Deus, mas não é um pecado permanente que precisa ser “recometido” todo dia.

Então, seguindo essa lógica, todos podem casar, se divorciar, casar novamente e seguir a vida sabendo que serão perdoados?

É claro que não! A Bíblia leva o casamento muito a sério. Mas também leva a sério a justiça, a compaixão e a misericórdia.

Nenhum cristão casa pensando em se divorciar no futuro. Existem pessoas que sofrem abusos, que passam por problemas conjugais, ou que cometem erros e pecados que acabam por destruir seu casamento e que depois de divorciadas, desejam reconstruir a vida com temor a Deus.

Sim, o pecado é real, mas a graça também é. E essa graça não é uma permissão para pecar, mas um caminho de restauração para quem sofreu, se arrependeu ou deseja recomeçar em Cristo.

“O Senhor é justo em todos os seus caminhos, e bondoso em todas as suas obras.” (Salmo 145:17)

Jesus enfrentou uma mulher adúltera, que pela Lei deveria ser apedrejada. Mas Ele disse:

“Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou? … Nem eu te condeno. Vai, e não peques mais.” (João 8:3-11)

Jesus não relativizou o pecado, mas demonstrou graça, perdão e uma nova chance. Esse é o coração do evangelho.

Se você está passando por algo assim, saiba que Deus vê, conhece e se importa. E não há condenação para quem está em Cristo Jesus (Romanos 8:1).

 

Por que Deus não liberou o divórcio por qualquer motivo?

Deus proíbe o divórcio

Desde o princípio, Deus estabeleceu o casamento como uma aliança sagrada e inquebrável. Ao criar o homem e a mulher, Ele declarou: “Portanto deixará o homem seu pai e sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma só carne” (Gênesis 2:24). Essa união representa muito mais do que um contrato social: é um reflexo do próprio amor de Deus e da fidelidade entre Cristo e Sua Igreja (Efésios 5:31-32).

Por isso, Deus odeia o divórcio conforme já mencionamos (Malaquias 2:16). O Senhor sabe que o rompimento de um casamento fere profundamente não apenas o casal, mas também os filhos, as famílias, a sociedade e, acima de tudo, o testemunho espiritual do amor e da aliança que Ele mesmo estabeleceu com seu povo. O divórcio é a quebra de algo que deveria ser permanente, seguro e abençoado.

Ainda assim, por causa da dureza dos corações humanos, Deus permitiu o divórcio em situações excepcionais, como infidelidade sexual (Mateus 19:9) e abandono por parte de um cônjuge descrente (1 Coríntios 7:15). Mesmo nestes casos, o divórcio não é um mandamento, mas uma permissão dolorosa. A prioridade de Deus sempre foi a reconciliação, a restauração e o perdão.

Quanto a novos casamentos após o divórcio, a Bíblia deixa claro que, fora das exceções previstas, casar-se novamente configura adultério (Mateus 5:32; Lucas 16:18). E mesmo quando o novo casamento ocorre, Deus não esconde as dificuldades envolvidas.

Recomeçar uma nova vida conjugal implica carregar feridas emocionais, lidar com mágoas não curadas, enfrentar os traumas do passado e vencer a desconfiança. Muitas vezes, a estrutura da nova família se torna mais frágil, surgem conflitos de identidade, de papéis e de convivência, afetando até mesmo os filhos de casamentos anteriores.

Deus defende o casamento duradouro porque sabe que a estabilidade, o compromisso e a fidelidade são fontes de bênção e segurança emocional para o homem, a mulher, os filhos e toda a sociedade. Cada casamento restaurado é um testemunho vivo da graça e do poder de Deus para transformar corações e curar relacionamentos quebrados.

Assim, o divórcio, embora permitido em casos extremos, nunca deve ser visto como uma solução fácil ou simples. É sempre uma ferida no plano perfeito de Deus. E mesmo aqueles que, por arrependimento e fé, recomeçam suas vidas, precisam reconhecer que a graça de Deus é essencial para superar as marcas do passado e viver um futuro de fidelidade.

O cristão é chamado a honrar o casamento, buscar o perdão e a reconciliação sempre que possível, e viver com seriedade o compromisso diante de Deus, para que o amor que une um casal seja um reflexo da aliança eterna entre Cristo e Sua Igreja.

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PR. Monteiro Junior

Sou Pastor e eterno estudante de Teologia. Apaixonado pela História da Igreja e por todas as áreas importantes para o nosso crescimento espiritual. Estudo desde sempre temas ligados a Apologética, Arqueologia Bíblica e Escatologia e me dedico a ensinar e compartilhar o conhecimento relacionados principalmente a estes temas.

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