No dia 8 de maio de 2025, durante o conclave realizado no Vaticano, foi escolhido o novo Papa, Leão XIV, nascido Robert Francis Prevost. Ele é o 267º Papa da Igreja Católica e o primeiro pontífice nascido nos Estados Unidos.
Logo nas primeiras horas do anúncio de sua eleição, começaram a surgir várias matérias, vídeos e teorias de que ele seria o Anticristo, profetizado no livro de Apocalipse.
Muitos desses conteúdos mencionam Apocalipse 13, relacionando passagens bíblicas com peculiaridades do novo Papa. Um exemplo é a associação entre o nome “Leão XIV” e Apocalipse 13:2, que descreve o Anticristo com “boca como de leão”, sugerindo que o nome escolhido seria uma referência direta à profecia:
“E a besta que vi era semelhante ao leopardo, e os seus pés como os de urso, e a sua boca como a boca de leão; e o dragão deu-lhe o seu poder, e o seu trono, e grande poderio.” (Apocalipse 13:2)
Também foi bastante mencionado o fato de o novo Papa ser um americano, integrando um cenário bíblico onde o mundo é dominado por um presidente americano, um papa americano, em um país que agora investe pesadamente no desenvolvimento de IA (Inteligência Artificial).
Na concepção destes teóricos os Estados Unidos seriam a Grande Babilônia, o Presidente Donald Trump uma das bestas do Apocalipse e o novo Papa Leão XIV o Anticristo, enquanto a IA seria a própria Marca da Besta, o 666, ou mesmo a Imagem da Besta.
Entre tantas especulações, uma em especial voltou a ganhar força recentemente. Ela afirma que o novo Papa é o “oitavo rei” mencionado em Apocalipse 17, tendo, portanto, um papel direto nos eventos finais como aliado do Anticristo.
Essa teoria foi popularizada por nomes como Daniel Mastral, escritor cristão já falecido, que procura conectar acontecimentos políticos, históricos e religiosos com os textos proféticos da Bíblia.
Mas afinal, essas alegações têm algum fundamento bíblico, profético ou histórico?
É possível fazer tais afirmações com base em evidências ou elas se sustentam apenas em conjecturas e temores populares?
Neste artigo, vamos analisar a possibilidade do novo Papa ser o Anticristo, bem como todas essas teorias, à luz das Escrituras, da história da Igreja e da teologia bíblica.
É importante lembramos antes de continuarmos, que somos autores protestantes. Não apoiamos o catolicismo em suas doutrinas, no entanto estamos comprometidos com as Escrituras Sagradas e não concordamos com teorias conspiracionistas.
Também queremos sugerir um estudo bem mais abrangente focado unicamente na pessoa do Anticristo que vai certamente complementar a sua compreensão sobre ele: A Identidade do Anticristo: Quem é o Anticristo Segundo as Escrituras?
O Papa Leão XIV se encaixa na descrição bíblica do Anticristo?
O termo “Anticristo” aparece especificamente nas epístolas de João, com as seguintes características:
- Ele nega que Jesus é o Cristo (1 João 2:22);
- Nega o Pai e o Filho (1 João 2:22);
- Não confessa que Jesus veio em carne (1 João 4:3);
- Já havia muitos anticristos no tempo de João (1 João 2:18).
Já em outras partes da Bíblia, como em 2 Tessalonicenses 2, o apóstolo Paulo fala do “homem do pecado”, também chamado de “filho da perdição”, que se exalta contra Deus e se assenta no templo como se fosse Deus.
Essa figura tem sido interpretada como o Anticristo escatológico, um líder mundial que surgirá no fim dos tempos.
Em Apocalipse 13, há duas “bestas”: uma do mar (com poder político) e outra da terra (com aparência de cordeiro, mas que fala como dragão), muitas vezes interpretada como o falso profeta religioso que promove a adoração da primeira besta.
Essa tríade, dragão, besta e falso profeta é vista como uma espécie de paródia satânica da Trindade.
O Papa Leão XIV se encaixa nessa descrição do Anticristo?
Até o momento, não há qualquer evidência bíblica, profética ou factual que ligue o Papa Leão XIV às características bíblicas do Anticristo. Vamos analisar ponto a ponto:
O Papa Leão XIV nega Jesus como Cristo?
Como líder da Igreja Católica, ele afirma continuamente a divindade, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Seus discursos até agora têm sido cristocêntricos.
Ele nega o Pai e o Filho?
Não. Em suas primeiras declarações públicas como Papa, ele invocou a bênção do Pai, do Filho e do Espírito Santo, reafirmando a fé trinitária.
Ele está perseguindo cristãos ou promovendo adoração a si mesmo?
Até o momento, não há indício algum de perseguição religiosa promovida por ele, tampouco há qualquer sugestão de que esteja exigindo adoração pessoal.
Ele é um líder global com poder absoluto?
Embora o Papa seja uma figura influente, sua autoridade é majoritariamente espiritual e não política. Além disso, a Igreja Católica possui um colegiado de cardeais e bispos que limitam de certo modo a centralização do poder papal.
O papel da vigilância cristã e o cuidado com as teorias conspiratórias.
É verdade que a Bíblia nos orienta a vigiar (Mateus 24:42) e a não aceitar qualquer espírito ou liderança sem discernimento. A escatologia bíblica nos chama à prudência, e não à credulidade cega.
Porém, também é necessário distinguir vigilância de paranoia. Jesus alertou que muitos seriam enganados por falsos profetas e falsos cristos, mas também condenou os julgamentos precipitados (Mateus 7:1-5).
A profecia deve ser interpretada à luz do todo das Escrituras e não por emoções, boatos ou cortes sensacionalistas de vídeos e posts. Portanto, a menos que o novo papa faça exatamente aquilo que é atribuído ao Anticristo nas Escrituras, devemos rejeitar qualquer teoria que afirme que ele é esta pessoa.
Para que você consiga compreender a forma correta de interpretar as profecias bíblicas apocalípticas, sugerimos que comece por este outro estudo, aqui mesmo em nosso site: Escatologia: O Estudo das Últimas Coisas, através da História.
O Novo Papa, o Anticristo e a teoria do “oitavo rei” de Apocalipse 17.
Outra teoria bastante popular entre os intérpretes apocalípticos é a de que o novo Papa seria o “oitavo rei” mencionado em Apocalipse 17.
O texto bíblico diz:
“São também sete reis. Cinco já caíram, um existe, o outro ainda não chegou; e, quando chegar, deverá permanecer pouco tempo. E a besta, que era e já não é, é ela também o oitavo rei, e é dos sete, e vai à perdição.” (Apocalipse 17:10-11)
Essa passagem tem sido objeto de inúmeras interpretações ao longo da história. Alguns estudiosos entendem que esses “reis” simbolizam impérios ou governantes específicos que se opuseram a Deus e ao seu povo. Outros aplicam a profecia a uma sucessão de papas que teria começado após o Tratado de Latrão, assinado em 1929, quando o Vaticano foi reconhecido como Estado soberano.
É com base nesse marco que nomes como Daniel Mastral propuseram uma contagem simbólica de pontífices conforme mencionamos antes.
Segundo essa linha, o novo Papa Leão XIV seria o oitavo desde esse suposto reinício profético e, portanto, o tal “oitavo rei” que teria papel crucial nos eventos do fim.
O problema é que essa contagem varia bastante, dependendo de quem a faz.
Há dúvidas sobre quais papas devem ser incluídos, se os interinos contam, se Bento XVI, por ter renunciado, invalida a sequência, ou se a própria cronologia tem base bíblica real.
Além disso, o texto de Apocalipse 17 não faz menção direta a papas ou ao Vaticano, mas sim a uma mulher simbólica sobre uma besta escarlate, sentada sobre sete montes, o que muitos interpretam como uma alusão a Roma, cidade construída sobre sete colinas e não como os Estados Unidos.
Embora esse detalhe geográfico seja interessante, não é suficiente para afirmar com certeza que o “oitavo rei” se refere ao atual pontífice ou que ele esteja diretamente ligado ao Anticristo.
A linguagem simbólica e a variedade de interpretações possíveis exigem prudência. A associação direta entre a sucessão papal moderna e os reis de Apocalipse 17 não encontra apoio sólido na exegese bíblica tradicional.
Os Estados Unidos e a Grande Babilônia: A Besta do Apocalipse?
Outra teoria bastante discutida é a de que os Estados Unidos seriam a Grande Babilônia mencionada em Apocalipse 17 e 18, e que figuras políticas como o ex-presidente Donald Trump representariam uma das bestas do Apocalipse. Para compreender essa teoria, precisamos examinar alguns versículos-chave de Apocalipse 17:
“E vi a mulher sentada sobre uma besta escarlate, cheia de nomes de blasfêmia, que tinha sete cabeças e dez chifres.” (Apocalipse 17:3)
A mulher, aqui descrita, é muitas vezes interpretada como um símbolo de corrupção religiosa ou política. E muitos estudiosos afirmam que, ao longo da história, essa mulher representa sistemas corruptos ou nações poderosas que se opõem a Deus.
Alguns teóricos acreditam que, devido à influência mundial, à capacidade de projeção de poder e ao estilo de vida consumista, os Estados Unidos encaixariam perfeitamente nesse papel de “Babilônia”.
No entanto, é importante observar que, ao contrário do que a teoria sugere, Babilônia no contexto bíblico representa mais do que uma nação ou um império; ela simboliza uma ideologia corrupta e idólatra que busca substituir o governo de Deus. Por isso, quando se fala em Babilônia, o simbolismo está relacionado ao reino espiritual de rebelião contra Deus, mais do que a um único país ou poder terreno.
A teoria também conecta a Babilônia ao sistema econômico, afirmando que, assim como descrito em Apocalipse 18, o comércio global e a busca desenfreada por riquezas refletem práticas que poderiam ser associadas ao consumismo excessivo promovido pelas grandes potências econômicas, com destaque para os Estados Unidos.
Muitos pontos levantados pela teoria, como a liderança mundial dos Estados Unidos e sua influência sobre o mercado global, são usados para sustentar essa visão.
Outro ponto importante que é frequentemente levantado é a associação entre a besta e os líderes mundiais, especialmente o presidente Donald Trump, que, durante seu governo, se tornou uma figura polarizadora.
Algumas interpretações apontam que o caráter autoritário e a busca por poder absoluto para os EUA, que caracterizaram sua administração se alinham com as características da besta descrita em Apocalipse 13:1-10, que é descrita como uma figura política que emerge com poder, blasfêmia e domínio global.
Contudo, é necessário destacar que, ao examinar as escrituras de Apocalipse, vemos que a besta com sete cabeças e dez chifres, com a qual a mulher está associada, é um símbolo multifacetado de diversos reinos e poderes históricos que atuam contra Deus.
Interpretar esta besta como uma referência direta a uma pessoa específica, como Trump, pode ser uma leitura excessivamente simplista.
Além disso, a própria natureza de Babilônia em Apocalipse não deve ser vista de maneira literal, mas sim como uma alegoria de um império espiritual e moral em queda, aquele que defende a idolatria, o materialismo e a corrupção.
Assim, identificar uma nação contemporânea como a Babilônia é uma interpretação que precisa ser tratada com cautela, visto que as escrituras revelam estruturas espirituais e não apenas terrenas.
O Papa Leão XIV a Marca da Besta, a IA e as várias coincidências.
Não poderíamos deixar de mencionar que realmente existem várias coincidências em acontecimentos contemporâneos que podem levar alguns a formularem inúmeras teorias.
Os tempos que estamos vivendo realmente estão trazendo grandes mudanças nas esferas políticas, religiosas, na tecnologia, na economia e por isso é fácil alguém construir uma teoria apocalíptica e cima disso.
Outra ideia que circula com força renovada é a de que a Inteligência Artificial seria a própria Marca da Besta, mencionada em Apocalipse 13:16-18. A passagem diz:
“E faz que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, lhes seja posto um sinal na mão direita, ou na testa, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome. Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis.” (Apocalipse 13:16-18)
Segundo alguns teóricos, a rápida evolução da tecnologia, especialmente a inteligência artificial, estaria preparando o terreno para um sistema de controle global que seria imposto por meio de algoritmos, vigilância digital e imposição de identidade digital, tecnologias já em uso ou em desenvolvimento em nosso tempo.
Dentro dessa lógica, a IA seria a ferramenta usada para identificar, rastrear e controlar a humanidade.
Essa ideia se conecta com o temor de que um governo totalitário futuro possa exigir algum tipo de marca digital ou credencial eletrônica (como chips, QR Codes, ou identidades biométricas), todas operadas por sistemas inteligentes, para permitir transações financeiras, exatamente como descreve o texto de Apocalipse.
Alguns chegam a afirmar que a IA sendo uma “inteligência não-humana” que emula a mente humana, seria uma imitação profana da onisciência divina, uma “imagem viva” da besta (Ap 13:15), capaz de falar, pensar, decidir e punir quem se opõe ao sistema.
No entanto, quando lemos Apocalipse 13 dentro de seu contexto histórico e escatológico, percebemos que a marca da besta tem um simbolismo muito mais espiritual e teológico do que tecnológico.
A marca na testa e na mão remete a uma fidelidade consciente e prática ao sistema do Anticristo, em contraste com a marca dos servos de Deus (Ap 7:3; 14:1). Ou seja, trata-se de uma alusão ao comprometimento ideológico e moral, mais do que à tecnologia em si.
A Bíblia também afirma que a marca será aceita voluntariamente por aqueles que adorarem a besta (Ap 14:9-11), o que reforça que o problema central não é a ferramenta usada, mas a submissão espiritual ao sistema contrário a Cristo.
A IA pode, sim, ser um instrumento usado no futuro, como qualquer tecnologia pode ser, mas reduzi-la ao “666” sem base exegética sólida é, no mínimo, uma especulação apressada. Para ter um compreensão mais aprofundada sobre esse assunto não deixe de conferir este outro estudo bíblicos focado unicamente neste tema: O que é a Marca da Besta e quem é a Besta do Apocalipse?
Conclusão:
As especulações sobre o Papa Papa Leão XIV se misturam a outras ideias populares que enxergam os Estados Unidos como a Grande Babilônia, Donald Trump como uma das bestas do Apocalipse e a Inteligência Artificial como a própria Marca da Besta.
Estas ideias surgem da tentativa de aplicar acontecimentos e personagens contemporâneos aos símbolos apocalípticos, algo que tem sido feito ao longo da história por diferentes gerações.
Uma leitura responsável e equilibrada das Escrituras exige discernimento espiritual, conhecimento do contexto bíblico e cuidado para não transformar conjecturas em doutrina.
Assim, embora possamos observar paralelos e reflexões escatológicas nos eventos do presente, devemos lembrar que a Palavra de Deus se interpreta por si mesma e que os verdadeiros sinais do fim devem ser discernidos à luz da revelação bíblica de forma clara, e não apenas por especulações baseadas em manchetes e figuras públicas.
Como Jesus advertiu:
“Acautelai-vos, que ninguém vos engane.” (Mateus 24:4)