Mulheres podem ser Pastoras e liderarem igrejas assim como os homens fazem? A Bíblia permite essa possibilidade, ou as igrejas que permitem o pastorado feminino estão erradas?
Algumas denominações aceitam a ordenação feminina, enquanto outras a rejeitam com base em interpretações das Escrituras.
Diante disso, é fundamental que essa discussão não seja vista como uma disputa entre homens e mulheres. Existem mulheres que defendem que o pastoreio deve ser exclusivo dos homens, enquanto há homens que acreditam que as mulheres também podem exercer esse ministério.
O cerne da questão, porém, não está em ideologias modernas, mas na interpretação das Escrituras.
Neste estudo bíblico tentaremos trazer um pouco de luz a este tema e com base principalmente naquilo que a Bíblia diz vamos apontar algumas soluções para a polêmica do pastorado feminino.
O objetivo deste texto é desmistificar o papel da mulher na Igreja, quer seja em cargos de liderança, ou em outro serviço. Em contrapartida também vamos nos esforçar em abrir os olhos de muitas mulheres em relação ao seu chamado e capacidade para contribuir com o crescimento do Reino de Deus.
O papel das mulheres na Bíblia: Liderança, Protagonismo e Espiritualidade.
A Bíblia apresenta um retrato rico e multifacetado do papel das mulheres ao longo da história da fé. Longe de serem personagens secundárias, muitas mulheres desempenharam papéis essenciais em momentos decisivos do povo de Deus. Desde líderes políticas e espirituais até profetisas, juízas e missionárias, a Palavra de Deus destaca a importância da mulher na condução do plano divino.
Antes de falarmos mais abertamente sobre o ministério pastoral feminino e se as mulheres podem ser pastoras ou não, precisamos relembrar um pouco do protagonismo feminino destacado nas escrituras.
Débora – A Juíza e Profetisa.
Débora foi uma das maiores líderes de Israel. Além de juíza, foi também profetisa, conduzindo o povo tanto em sabedoria quanto em batalhas. Quando Israel estava sob a opressão dos cananeus, foi Débora quem incentivou Baraque a enfrentar os inimigos. Sua liderança inspirou Israel a buscar o Senhor:
“Naquele tempo, julgava Débora, profetisa, mulher de Lapidote, a Israel. Ela se assentava debaixo da palmeira de Débora, entre Ramá e Betel, na região montanhosa de Efraim; e os filhos de Israel subiam a ela a juízo.” (Juízes 4:4-5)
Ester – A Rainha que Salvou Seu Povo.
Ester, uma jovem judia, tornou-se rainha da Pérsia e desempenhou um papel crucial para a preservação do povo de Deus. Quando o decreto de destruição contra os judeus foi emitido, Ester, com coragem e fé, intercedeu perante o rei, arriscando sua própria vida, são dela essas palavras registradas nas Escrituras:
“Vai, ajunta a todos os judeus que se acharem em Susã, e jejuai por mim, e não comais nem bebais por três dias, nem de noite nem de dia; eu e as minhas servas também jejuaremos. Depois, irei ter com o rei, ainda que é contra a lei; se perecer, pereci.” (Ester 4:16)
Miriã – A Profetisa e Líder Musical.
Miriã, irmã de Moisés e Arão, teve um papel importante na liderança do povo de Israel. Ela é reconhecida como profetisa e liderou as mulheres em louvor ao Senhor após a travessia do Mar Vermelho:
“Então, Miriã, a profetisa, irmã de Arão, tomou um tamborim na mão, e todas as mulheres saíram atrás dela com tamboris e com danças. E Miriã lhes respondia: Cantai ao Senhor, porque sumamente se exaltou e lançou no mar o cavalo com o seu cavaleiro.” (Êxodo 15:20-21)
Ana – O Exemplo de Oração e Consagração.
Ana, mãe do profeta Samuel, é um exemplo de perseverança e fé. Estéril por muitos anos, orou fervorosamente ao Senhor e fez um voto de que, se tivesse um filho, o consagraria a Deus. Sua oração foi respondida, e Samuel tornou-se um dos maiores profetas de Israel:
“Ela, pois, com amargura de alma, orou ao Senhor e chorou abundantemente. E fez um voto, dizendo: Senhor dos Exércitos! Se benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva não te esqueceres, mas lhe deres um filho varão, ao Senhor o darei por todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passará navalha.” (1 Samuel 1:10-11)
Maria – A Mãe do Salvador.
Maria, a mãe de Jesus, foi escolhida para um dos papéis mais significativos da história da humanidade: gerar o Messias. Sua resposta ao chamado divino demonstra sua fé e obediência ao Senhor:
“Disse, então, Maria: Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo ausentou-se dela.” (Lucas 1:38)
A Mulher do Fluxo de Sangue – Exemplo de Fé Perseverante.
Uma mulher que sofria há 12 anos de uma enfermidade encontrou cura ao tocar em Jesus com fé. Sua história revela o poder da fé genuína:
“Porque dizia: Se eu apenas lhe tocar as vestes, ficarei curada. E logo se lhe estancou a hemorragia, e sentiu no corpo estar já curada do seu flagelo.” (Marcos 5:28-29)
Priscila – Professora da Palavra.
Priscila, junto com seu marido Áquila, teve um papel importante no ensino das Escrituras. Eles discipularam Apolo, um pregador eloqüente, corrigindo sua compreensão do evangelho:
“Ele começou a falar ousadamente na sinagoga; mas quando Priscila e Áquila o ouviram, levaram-no consigo e lhe expuseram com mais exatidão o caminho de Deus.” (Atos 18:26)
Febe – A Diaconisa da Igreja.
Febe era uma mulher ativa no serviço da igreja, identificada como diaconisa. Paulo a elogiou por seu trabalho e recomendou que fosse recebida com honra:
“Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que é serva da igreja que está em Cencréia, para que a recebais no Senhor, como convém aos santos, e a ajudeis em qualquer coisa que de vós necessitar; porque tem sido protetora de muitos, e de mim, inclusive.” (Romanos 16:1-2)
Maria Madalena – A Primeira Testemunha da Ressurreição.
Maria Madalena foi uma das primeiras a ver Jesus ressuscitado e recebeu a missão de anunciar a ressurreição aos discípulos:
“Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, lhe disse em hebraico: Raboni! (que quer dizer Mestre). Recomendou-lhe Jesus: Não me detenhas; porque ainda não subi para meu Pai, mas vai ter com meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus.” (João 20:16-17)
Segundo a Bíblia, mulheres podem ser pastoras, ou não?
Embora a Bíblia destaque mulheres como líderes, profetisas, evangelistas e exemplos de fé. Desde o Antigo Testamento até a Igreja Primitiva, existem diretrizes claras sobre o papel das mulheres no ensino e na liderança espiritual. Em 1 Timóteo 2:11-12, está escrito:
“A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio.” (1 Timóteo 2:11-12)
Chamados diferentes para homens e mulheres.
Deus parece ter designado funções distintas para homens e mulheres na igreja, o que está relacionado tanto à ordem da criação quanto às consequências da queda. O próprio texto bíblico explica essa razão:
“Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão.” (1 Timóteo 2:13-14)
Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, estabelece uma restrição ao ensino e à autoridade espiritual da mulher sobre os homens, o que implica que o pastoreio não é uma função feminina na igreja.
Estas restrições ainda valem hoje?
Há quem argumente que essa restrição se aplicava apenas ao contexto do século I, visto que as mulheres da época não possuíam acesso à educação formal. No entanto, o texto bíblico não menciona essa questão como fator determinante.
Se a escolaridade fosse um critério essencial para o ministério, os próprios discípulos de Jesus, em sua maioria, não seriam qualificados. Portanto este argumento não é válido.
Outro argumento utilizado é o de que Paulo estava se referindo apenas à igreja de Éfeso, já que a epístola foi direcionada a Timóteo, que pastoreava naquela cidade.
Éfeso possuía um templo dedicado à deusa Ártemis, onde as mulheres ocupavam papéis de liderança no culto pagão. Contudo, a carta não faz menção a essa prática como justificativa para a restrição ao ensino feminino.
Alguns alegam que Paulo estaria se referindo a maridos e esposas, e não a homens e mulheres em geral. Porém, as palavras gregas usadas no texto abrangem ambos os gêneros de forma ampla.
Além disso, nos versículos anteriores (1 Timóteo 2:8-10), a distinção entre homens e mulheres é clara e não há indícios de que o assunto tenha mudado subitamente nos versículos seguintes.
Mas o Velho Testamento não menciona mulheres liderando o povo de Deus?
A objeção mais frequente é a menção de personagens bíblicas femininas que exerceram algum tipo de liderança, como Miriã, Débora e Hulda. No entanto, quando analisamos o contexto, percebemos que essas mulheres foram exceções e não a norma.
Débora, por exemplo, foi a única juíza mencionada entre treze homens, e Hulda era a única profetisa de sua época. Além disso, a questão do Antigo Testamento não se aplica diretamente ao modelo estabelecido para a igreja no Novo Testamento.
Mas o Novo Testamento não mostra mulheres em posição de liderança?
No Novo Testamento, algumas mulheres, como Priscila e Febe, desempenharam papéis importantes no ministério. Priscila, junto com seu marido Áquila, ensinou Apolo em particular:
“Ele começou a falar ousadamente na sinagoga. Mas, ouvindo-o Priscila e Áquila, tomaram-no consigo e, com mais exatidão, lhe expuseram o caminho de Deus.” (Atos 18:26)
Isso demonstra que Priscila auxiliou no ensino, mas não há registros de que tenha exercido autoridade espiritual sobre homens na congregação. Já Febe é descrita como “diaconisa” ou “serva”:
No entanto, o fato de ser diaconisa não significa que ocupava uma posição de ensino autoritativo, pois as qualificações para presbíteros incluem ser “marido de uma só mulher”, algo claramente voltado para os homens:
“É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar.” (1 Timóteo 3:2)
O fundamento da restrição ao ensino pastoral feminino está na ordem da criação. Deus estabeleceu o homem como líder espiritual da família e da igreja, como vemos em Efésios:
“As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido, como ao Senhor; porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo este mesmo o salvador do corpo.” (Efésios 5:22-23)
Isso não significa que as mulheres sejam inferiores, mas que possuem um chamado diferente dentro da estrutura eclesiástica. Elas são incentivadas a ensinar outras mulheres e crianças:
“Quanto às mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias em seu proceder, não caluniadoras, não escravizadas a muito vinho, sejam mestras do bem, a fim de instruírem as jovens recém-casadas a amarem ao marido e a seus filhos.” (Tito 2:3-4)
As mulheres desempenham um papel crucial na igreja, contribuindo com dons como hospitalidade, misericórdia e ensino entre mulheres e crianças. No entanto, a liderança espiritual e a pregação autoritativa sobre os homens são funções designadas aos homens, conforme o padrão bíblico.
Dessa forma, a restrição ao pastoreio feminino não é baseada em preconceito ou inferioridade, mas na ordem estabelecida por Deus para o funcionamento da igreja.
Ao seguirmos essa estrutura, estamos respeitando o propósito divino e contribuindo para a edificação do Corpo de Cristo, cada um dentro da vocação que lhe foi designada.
A proibição do Pastorado Feminino não é proibição do Protagonismo feminino.
Embora Paulo tenha dado instruções restritivas em alguns contextos no que se refere as mulheres, também vemos que ele menciona várias mulheres que trabalhavam ativamente na pregação do Evangelho, como Priscila (Atos 18:26), Febe e Júnia, (Romanos 16:7) e também as filhas de Filipe, que profetizavam (Atos 21:9).
Esses exemplos mostram que as mulheres desempenharam funções de ensino e liderança na igreja primitiva e tinha protagonismo, embora não fossem pastoras.
O que podemos perceber com isso é que as mulheres sempre tiveram protagonismo na obra de Deus.
Foi para as mulheres que o Senhor Jesus apareceu primeiro e as mandou testemunhar aos outros.
As mulheres sempre estiveram acompanhando o ministério de Jesus, aliás com exceção do Apóstolo João, eram elas quem estavam na crucificação enquanto os discípulos se dispersaram. No entanto, mesmo com este protagonismo, Jesus escolheu dose discípulos homens e não mulheres. Isso significa que cada um tem o seu lugar na obra de Deus.
Existem ministérios e posições onde mulheres se encaixam melhor, e de igual modo ministérios e posições onde homens se encaixam melhor. Isso não é tentar apagar o protagonismo feminino, mas na verdade, Deus está usando cada um onde seu potencial é melhor aproveitado.
Desafios culturais, psicológicos e espirituais para o pastorado feminino.
O pastorado não é fácil, nem para homens e muitos menos para mulheres. O cargo de pastor, quando executado segundo as Escrituras pode ser extremamente difícil e cansativo.
Infelizmente, mulheres em cargos pastorais podem enfrentar dificuldades bem maiores que os homens, no que se refere a aceitação por parte da congregação ou resistência de colegas do ministério, por exemplo.
Em algumas culturas, mulheres em posição de autoridade podem ser vistas com desconfiança, dificultando o exercício pleno do ministério.
Muitos membros podem não aceitar a liderança pastoral feminina por convicções teológicas, o que pode gerar divisões na igreja.
Se a pastora for casada, pode surgir um dilema entre sua liderança espiritual na igreja e a submissão ao marido conforme Efésios 5:22-24.
O ministério pastoral envolve aconselhamento em crises, luto e conflitos espirituais, o que pode ser desgastante emocionalmente para uma mulher.
O trabalho pastoral exige uma rotina intensa, incluindo viagens, cultos, visitas e administração, o que pode ser exaustivo, especialmente para mães que precisam conciliar com a maternidade e o cuidado com a família.
O contato frequente com homens, especialmente em aconselhamento, pode gerar fofocas, desconfianças ou até mesmo situações impróprias.
Diferente dos homens, há poucos exemplos bíblicos e históricos de mulheres exercendo o ministério pastoral, tornando o caminho mais difícil.
Mulheres pastoras são exceção e não regra. Conheça algumas delas:
O principal requisito para a liderança na igreja sempre foi o caráter e a chamada de Deus, conforme 1 Timóteo 3:1-7 e Tito 1:5-9. Se mulheres, como Débora e Priscila, foram usadas por Deus para ensinar e guiar, isso não poderia se aplicar também ao pastorado?
A Bíblia mostra que Deus pode levantar mulheres em certas circunstâncias, mas o padrão para a liderança pastoral é masculino conforme podemos ver na Bíblia.
Casos como Débora, Hulda e Priscila demonstram exceções que ocorreram em momentos específicos, mas não estabelecem um modelo para o governo da igreja. Assim, o ministério pastoral feminino pode ocorrer, mas não como a norma bíblica.
Podem existir casos específicos em que uma mulher precise assumir o cargo pastoral. Porém isso precisa ser feito dentro de uma direção especifica de Deus. Alias na história do protestantismo tivemos algumas exceções de destaque.
Houve mulheres que exerceram papéis de liderança espiritual, ainda que o pastorado feminino tenha sido mais raro e, na maioria dos casos, tenha ocorrido em denominações específicas. Aqui estão algumas mulheres que tiveram influência no movimento protestante e no ministério cristão:
1. Margaret Fell (1614-1702) – Líder Quaker e “Mãe do Quakerismo.”
Margaret Fell foi uma das figuras fundadoras do movimento quaker na Inglaterra.
Ela escreveu tratados defendendo o direito das mulheres de pregar, incluindo Women’s Speaking Justified (1666), onde argumentava que Deus usava mulheres como profetas e líderes espirituais.
Sua liderança não era de uma pastora no sentido tradicional, mas teve forte influência na teologia e prática do movimento quaker, que permitiu a pregação feminina desde o início.
2. Phoebe Palmer (1807-1874) – Evangelista e Teóloga do Movimento Holiness.
Palmer foi uma das líderes do movimento de santidade (Holiness Movement) nos EUA.
Pregava em reuniões de avivamento e ensinava sobre a “vida santificada” no Espírito Santo.
Influenciou igrejas metodistas, nazarenas e pentecostais, que mais tarde adotaram a ordenação feminina em algumas denominações.
3. Aimee Semple McPherson (1890-1944) – Fundadora da Igreja do Evangelho Quadrangular.
Evangelista e uma das pioneiras do pentecostalismo nos EUA. Fundou a Igreja do Evangelho Quadrangular, que permitiu a ordenação de mulheres.
Ela construiu a Angelus Temple, uma das maiores igrejas de Los Angeles nos anos 1920. Seu ministério influenciou o pentecostalismo e ajudou a consolidar a presença feminina na liderança religiosa.
4. Florence Crawford (1872-1936) – Fundadora da Igreja Pentecostal de Deus.
Importante no movimento pentecostal nos EUA foi uma pregadora e líder denominacional influente.
A história mostra que, embora o ministério pastoral feminino tenha sido incomum, houve mulheres em papéis de liderança e influência dentro do protestantismo, especialmente em movimentos pentecostais e de avivamento.
A ordenação feminina ainda é debatida entre diferentes denominações, mas o fato de algumas mulheres terem tido um impacto significativo na igreja é inegável.
Conclusão:
Embora, como pudemos ver neste estudo, a Bíblia não nos de bases para defender o livre exercício pastoral por parte das mulheres, reconhecemos que existem situações e exceções. Vimos situações semelhantes tanto na Biblia, como na História do Cristianismo.
O mais importante é que cada igreja e denominação busque direção na Palavra de Deus e na oração. Acima de tudo, devemos reconhecer que Deus usa homens e mulheres para cumprir Sua vontade, e nosso foco deve ser sempre a propagação do Evangelho e o crescimento do Reino de Deus.