Será que Jesus Cristo teve irmãos de sangue e não somente discípulos e seguidores? Caso a resposta seja positiva, quem seriam os irmãos de Jesus?
Podemos encontrar provas da existência dos irmãos de Jesus na Bíblia e na História?
Sim, Jesus Cristo teve irmãos, conforme mencionado em diversas passagens bíblicas. Os evangelhos e outras partes do Novo Testamento fazem referência não somente a seus irmãos, mas também a suas irmãs.
Os nomes de alguns irmãos de Jesus são inclusive mencionados no Evangelho de Marcos e no Evangelho de Mateus.
Neste estudo não somente vamos comprovar que Jesus teve irmãos, como também iremos explicar porque muitas vezes esta informação é encoberta ou combatida por algumas igrejas.
A Bíblia nos revela que Jesus teve irmãos e também quem eram os irmãos de Jesus.
Conforme sabemos mediante as Escrituras, Jesus foi o primeiro filho de Maria e José, sendo filho biológico de Maria e tendo José como seu pai adotivo, já que Jesus Cristo foi gerado pelo Espírito Santo e não era filho legitimo de José.
Após Maria conceber a Jesus ela teve outros filhos, provavelmente irmãos de Jesus por parte de mãe.
O Novo Testamento menciona isso claramente, registrando inclusive os nomes destes irmãos. Além desses quatro irmãos, os evangelhos também mencionam a existência de irmãs, mas sem citar seus nomes:
“Não é este o filho do carpinteiro? O nome de sua mãe não é Maria, e não são seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? Não estão conosco todas as suas irmãs? De onde, pois, ele obteve todas essas coisas?” (Mateus 13:55-56)
Encontramos também muitas outras citações bíblicas relacionadas aos irmãos de Jesus, vamos conferir algumas delas:
“Falava ainda Jesus à multidão quando sua mãe e seus irmãos chegaram do lado de fora, querendo falar com ele.” (Mateus 12:46)
“A mãe e os irmãos de Jesus foram vê-lo, mas não conseguiam aproximar-se dele, por causa da multidão.” (Lucas 8:19)
“Então chegaram a mãe e os irmãos de Jesus. Ficando do lado de fora, mandaram alguém chamá-lo. Havia muita gente assentada ao seu redor; e lhe disseram: “Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e te procuram”. “Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?”, perguntou ele. Então olhou para os que estavam assentados ao seu redor e disse: “Aqui estão minha mãe e meus irmãos! Quem faz a vontade de Deus, este é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. (Marcos 3:31-35)
Eles eram irmãos biológicos de Jesus?
Há diferentes interpretações sobre a relação exata desses irmãos com Jesus, vamos mencionar agora as principais:
Irmãos de sangue (filhos de Maria e José) – Essa é a interpretação mais comum entre protestantes, indicando que Maria e José tiveram outros filhos após o nascimento de Jesus.
Meio-irmãos (filhos de José de um casamento anterior) – Defendida por algumas tradições cristãs antigas, como a Igreja Ortodoxa, que sustenta que José era viúvo e tinha filhos antes de se casar com Maria.
Primos – A tradição católica muitas vezes adota essa visão, com base na ideia de que o termo “irmão” poderia ser usado para primos ou parentes próximos no contexto judaico.
Eram discípulos e não irmãos de sangue – Muitos católicos também sustentam essa teoria afirmado que os discípulos se tratavam como irmãos e por isso é sensato pensar que quando a Bíblia menciona irmãos está falando na verdade de discípulos.
De todas as teorias mencionadas as únicas possibilidades consideradas verdadeiras são as que afirmam que os irmãos de Jesus mencionados na Bíblia ou eram realmente irmãos de sangue de Jesus, filhos de Maria e José, ou apenas filhos de José de um casamento anterior. Veremos a seguir o porquê a possibilidade dos irmãos serem irmãos legítimos é a mais viável.
Como Jesus poderia ter irmãos se Maria permaneceu sempre virgem?
A crença na perpétua virgindade de Maria é uma doutrina sustentada apenas pela Igreja Católica e pela Igreja Ortodoxa. No entanto está claro que esta doutrina não possui embasamento bíblico.
Os textos bíblicos nos mostram que Maria não permaneceu virgem após o nascimento de Jesus, mas consumou seu casamento e provavelmente teve outros filhos. Vejamos o que a Bíblia diz:
“E José, despertando do sono, fez como o anjo do Senhor lhe ordenara, e recebeu sua mulher; e não a conheceu até que deu à luz seu filho, o primogênito; e pôs-lhe o nome de Jesus.” (Mateus 1:24-25)
A expressão “não a conheceu até” (do grego heos – ἕως) implica uma mudança depois do evento descrito. Normalmente, essa construção no grego indica que uma condição foi verdadeira até certo ponto, mas não necessariamente depois. Isso sugere que, após o nascimento de Jesus, Maria e José tiveram uma vida conjugal normal.
“E deu à luz seu filho primogênito, e envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem.” (Lucas 2:7)
A palavra primogênito (prototokos – πρωτότοκος) significa o primeiro de uma série de filhos, e não um “único filho” (que seria monogenes – μονογενής, usado para descrever Jesus como Filho único de Deus em João 3:16). Isso reforça a ideia de que Maria teve outros filhos.
Os irmãos e irmãs de Jesus mencionados no Novo Testamento, aparecem associados a Maria e a Jesus. Maria é mencionada como mãe de todos eles, e José neste caso não é sequer é citado. Se eles não eram filhos de Maria, mas de um casamento anterior de José, porque mencionariam Maria mãe e não José como pai?
“Não é este o filho do carpinteiro? E não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? E não estão entre nós todas as suas irmãs?” (Mateus 13:55-56)
O Testemunho da Igreja Primitiva sobre a virgindade perpetua de Maria.
A ideia da virgindade perpétua de Maria só começou a se fortalecer no século IV, principalmente através dos escritos de teólogos como Jerônimo e Agostinho. No entanto, antes disso, muitos líderes cristãos primitivos acreditavam sim que Maria teve outros filhos.
Helvídio (séc. IV d.C.) – Um escritor cristão primitivo argumentou que Maria teve outros filhos após Jesus. Ele baseava essa crença nas passagens bíblicas mencionadas que já mencionamos anteriormente. Dizia que o próprio texto bíblico era claro e que não havia necessidade de interpretações alegóricas.
Tertuliano (séc. II-III d.C.) – Chamado de “Pai da Igreja”, sustentava que Maria teve filhos além de Jesus, o que reforça que essa ideia já existia nos primeiros séculos do cristianismo.
Em seus escritos, ele não faz qualquer defesa da virgindade perpétua, mas trata Maria e José como um casal normal após o nascimento de Jesus. Em De Monogamia, ele menciona que Maria teve filhos com José.
O contexto judaico do casamento.
Na cultura judaica, o casamento envolvia obrigatoriamente a consumação da união. Se José não tivesse relações com Maria após o nascimento de Jesus, isso seria extremamente incomum para os padrões da época. Não há evidências históricas de que José teria feito um voto de castidade perpétua, algo incomum para um judeu.
O conceito de virgindade perpétua surge mais tarde.
A doutrina da virgindade perpétua de Maria foi consolidada após os primeiros séculos da Igreja. O Concílio de Latrão (649 d.C.) decretou oficialmente essa crença, embora muitos cristãos anteriores já tivessem discordado dessa ideia.
A análise bíblica e histórica indica que Maria e José tiveram um casamento normal após o nascimento de Jesus. Versículos como Mateus 1:25 e Lucas 2:7 sugerem que Maria teve outros filhos, e o contexto judaico fortalece essa interpretação. Embora a doutrina da virgindade perpétua tenha sido adotada posteriormente por algumas tradições cristãs, não há evidências bíblicas claras que a sustentem.
Por que o Catolicismo afirma que Maria permaneceu virgem e Jesus nunca teve irmãos?
Por volta dos séculos III e IV, muitos cristãos passaram a ver o sexo e o casamento como inferiores à virgindade e ao celibato. Esse pensamento foi forte especialmente nos monges do deserto e na Igreja do Ocidente.
Jerônimo (347–420 d.C.) – Defendia que a virgindade era um estado mais elevado que o casamento.
Com essa mentalidade, muitos cristãos passaram a crer que Maria, por ser a mãe de Deus, jamais poderia ter tido relações conjugais após o nascimento do Senhor.
Irineu de Lyon (130–202 d.C.) – Chamou Maria de a “Nova Eva” e viu nela um papel especial na salvação. Se Eva era “pura” antes da queda, então, para alguns teólogos, Maria deveria permanecer “pura” mesmo depois do nascimento de Jesus.
Santo Agostinho (354–430 d.C.) – Defendia que o nascimento de Jesus não poderia “manchar” a virgindade de Maria.
Essa ideia está ligada à santidade da maternidade divina. Assim, para o pensamento católico, se Maria tivesse tido relações conjugais depois do nascimento de Jesus, isso diminuiria sua condição especial.
Outro fator importante foi a ideia de que Maria deveria ser diferente das outras mulheres. A Igreja desenvolveu um culto mariano que exaltava sua pureza, e a virgindade perpétua fazia parte disso.
Se Maria tivesse tido outros filhos, ela seria apenas uma mãe comum.
Se ela permaneceu sempre virgem, então ela era única, separada do resto da humanidade.
Isso ajudava a reforçar sua posição especial na teologia católica.
A virgindade perpétua de Maria acabou se tornando um dogma (doutrina oficial obrigatória) porque estava ligada a outros ensinamentos católicos como:
Imaculada Conceição (1854) – A ideia de que Maria nasceu sem pecado original da mesma forma que Jesus.
Assunção de Maria (1950) – A crença de que Maria foi levada ao céu de corpo e alma e não morreu como qualquer outro cristão de sua época.
Se um dogma fosse questionado, outros poderiam ser colocados em dúvida. Por isso, a Igreja Católica defende a virgindade perpétua de forma inflexível.
O que podemos concluir sobre isso é que essa tradição de Maria ter permanecido virgem mesmo após o nascimento de Jesus não surgiu da Bíblia, mas de teólogos como Orígenes, Eusébio, Epifânio, Jerônimo e Agostinho.
Foi reforçada por ideias ascéticas e a exaltação de Maria como “Nova Eva”. Tornou-se um dogma oficial ao longo dos séculos, com apoio de concílios e da tradição católica.
Mas, biblicamente, não há nada que prove que Maria permaneceu virgem. Pelo contrário, as evidências indicam que Jesus teve irmãos biológicos.
Os cristãos dos séculos I e II não criam assim. Aliás, mesmo na Igreja do séculos IV e V haviam muitos questionamentos sobre este assunto, este dogma nunca foi aceito de forma homogênea por todos os cristãos até hoje.
De onde saiu a ideia que os irmãos de Jesus eram seus primos, discípulos, ou filhos apenas de José?
Quando afirmamos que Jesus Cristo teve irmãos, os principais argumentos usados por aqueles que não acreditam nisso são geralmente três:
- Os irmãos de Jesus Cristo mencionados na Bíblia eram na verdade seus discípulos, pois estes se tratavam como irmãos.
- Os irmãos de Jesus Cristo eram na verdade seus primos ou parentes próximos.
- Os irmãos de Jesus Cristo eram na verdade filhos de José, fruto de um primeiro casamento.
Mas de onde vieram essas interpretações?
Mais uma vez, essas ideias surgiram da parte dos Pais da Igreja que defenderam ou lançaram as bases para o Dogma da Perpetua Virgindade de Maria, como: Orígenes (c. 185–253 d.C.), Epifânio de Salamina (c. 310–403 d.C.), Jerônimo (c. 347–420 d.C.) e Agostinho de Hipona (354–430 d.C.).
Orígenes foi um dos primeiros a defender a virgindade perpétua de Maria e sugerir que os “irmãos” de Jesus eram filhos de José de um casamento anterior.
Epifânio (no final do século IV) foi ainda mais radical, ele afirmou que Maria manteve-se virgem antes, durante e depois do parto e também fortaleceu a teoria de que os irmãos de Jesus eram filhos de José de um casamento anterior.
Jerônimo foi um dos teólogos mais influentes a argumentar que os irmãos de Jesus eram primos, e não filhos de Maria.
Ele interpretou a palavra grega adelphoi (irmãos) como podendo significar parentes próximos, mas ignorou que o Novo Testamento usava outra palavra específica para primos (anepsios – Colossenses 4:10).
Agostinho endossou a virgindade perpétua de Maria e comparou-a a Eva, defendendo que os irmãos de Jesus Cristo nunca poderiam ter existido.
De quais fontes históricas eles tiraram essas informações?
Provavelmente eles tiraram parte dessas informações do Protoevangelho de Tiago (também chamado de “Evangelho de Tiago” ou “Natividade de Maria”) é um evangelho apócrifo escrito por volta de 150 d.C.
Esse é o primeiro documento conhecido a afirmar explicitamente que Maria permaneceu virgem antes, durante e depois do nascimento de Jesus.
O Novo Testamento foca em Jesus e sua missão. O Protoevangelho de Tiago, por outro lado, exalta Maria, dando um peso maior à sua virgindade do que à obra de Cristo.
Esse evangelho não foi incluído no cânon bíblico, mas influenciou fortemente a tradição católica e os primeiros teólogos como Orígenes e Jerônimo.
É no Protoevangelho de Tiago que encontramos as informações que Maria foi consagrada ao serviço de Deus desde a infância, que José era um viúvo idoso escolhido para ser apenas seu guardião.
Esse evangelho afirma que Maria foi criada no Templo de Jerusalém e alimentada por anjos (não há evidência disso na tradição judaica).
Também lemos que durante o nascimento de Jesus, uma parteira examinou Maria e declarou que ela continuava virgem mesmo após o parto e que os “irmãos” de Jesus eram filhos de José de um casamento anterior.
Por conta destas informações podemos concluir que os Teólogos e Pais da Igreja mencionados devem ter sido grandemente influenciados por estes escritos.
Por que as informações do Protoevangelho de Tiago não são consideradas verdadeiras?
O Protoevangelho de Tiago, de onde os teólogos mencionados provavelmente retiraram a afirmação de que Jesus não teve irmãos e Maria permaneceu sempre virgem não foi considerado verdadeiro pelos cristãos do primeiro século e nem mesmo pelo Catolicismo Romano.
O livro foi escrito por volta de 150 d.C., muito tempo depois dos eventos narrados no Novo Testamento e da morte dos apóstolos, tornando improvável que tenha sido baseado em testemunhos oculares confiáveis.
Os escritos aceitos no Novo Testamento tinham que ser de autoria apostólica ou de alguém diretamente ligado aos apóstolos.
Este evangelho também contém detalhes que não aparecem em nenhuma fonte histórica confiável e que soam como lendas ou exageros teológicos.
Enquanto os Evangelhos canônicos (Mateus, Marcos, Lucas e João) eram amplamente usados e aceitos na Igreja primitiva, o Protoevangelho de Tiago não era citado pelos primeiros Pais da Igreja como Escritura inspirada.
Por isso, a Igreja primitiva nunca o considerou inspirado e ele foi rejeitado para o cânon bíblico.
Ou seja, ele não pode ser usado como prova confiável para defender a virgindade perpétua de Maria e nem como conteúdo probatório sobre os irmãos de Jesus.
Como sabemos que os irmãos de Jesus não eram seus primos, discípulos, ou filhos só de José?
Tanto a Bíblia quanto a história mostram que esses “irmãos” eram realmente filhos de Maria de José, ou seja, a interpretação mais natural e coerente é que os irmãos de Jesus eram realmente seus irmãos de sangue.
Como sabemos que os irmãos de Jesus não eram na verdade seus primos?
Como já mencionamos anteriormente, o primeiro teólogo a defender que os irmãos de Jesus mencionados na Bíblia eram na verdade seus primos foi Jerônimo que interpretou a palavra grega adelphoi (irmãos) como primos ou parentes, mas ignorou que o Novo Testamento usava outra palavra específica para primos (anepsios – Colossenses 4:10).
Portanto, a alegação católica, que permanece até hoje, de que o termo “irmãos” (ἀδελφοί – adelphoi em grego) poderia significar “parentes próximos”, como primos tem três problemas sérios:
O grego possuía uma palavra específica para “primo” (anepsios), mas o Novo Testamento nunca a usa para os irmãos de Jesus.
Quando Paulo fala de Marcos, primo de Barnabé, usa anepsios (Colossenses 4:10), mas quando menciona os irmãos de Jesus, usa adelphoi, o termo natural para irmãos de sangue.
Se eram primos, por que sempre são mencionados junto com Maria, a mãe de Jesus?
O texto de Marcos 6:3 liga os nomes diretamente a Jesus e sua mãe. Se fossem primos, isso precisaria ser explicado de outra forma.
Os primeiros cristãos falavam aramaico, e no aramaico havia distinção entre irmãos e primos.
Se a intenção era dizer que eram primos, haveria alguma referência mais clara.
A teoria de que eram primos não tem suporte no grego do Novo Testamento nem na cultura da época.
Como sabemos que os irmãos de Jesus não eram na verdade seus discípulos?
Outra hipótese é que os chamados “irmãos” de Jesus eram apenas seus discípulos ou seguidores próximos. Essa ideia também é defendida pelo Catolicismo atual, porém esta teoria também não poderia ser verdadeira.
O Novo testamento faz clara distinção entre os discípulos de Jesus e os irmão de Jesus como nos exemplos a seguir:
“Os irmãos de Jesus lhe disseram: “Você deve sair daqui e ir para a Judeia, para que os seus discípulos possam ver as obras que você faz. Ninguém que deseja ser reconhecido publicamente age em segredo. Visto que você está fazendo estas coisas, mostre-se ao mundo”. Pois nem os seus irmãos criam nele (João 7:3-5)
Se os “irmãos” fossem discípulos, por que não criam nele, e por que são mencionados separadamente?
No livro de João temos um versículo bem mais claro onde podemos ver que os discípulos não eram os mesmos irmãos pois eles são citados juntos. Logo, se os discípulos fossem os mesmos irmãos de Jesus, por que seriam citados duas vezes?
“Depois disso, desceu a Cafarnaum, ele, sua mãe, seus irmãos e seus discípulos, e ficaram ali não muitos dias.” (João 2:12)
No livro de Atos também encontramos outra referência que aniquila completamente a ideia de que os discípulos eram seus irmãos, pois o texto também faz distinção entre os dois grupos de pessoas, mencionando os nomes dos discípulos de Jesus e também citando sua mãe e irmãos:
“E, entrando, subiram ao cenáculo, onde habitavam Pedro e Tiago, João e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelote, e Judas, filho de Tiago. Todos estes perseveravam unanimemente em oração e súplicas, com as mulheres, e Maria, mãe de Jesus, e com seus irmãos.” (Atos 1:13-14)
Em Mateus temos o trecho onde os irmãos de Jesus estão fora, enquanto Jesus está dentro com seus discípulos. Se fossem a mesma coisa, esse detalhe não teria sentido.
“Falava ainda Jesus ao povo, e eis que sua mãe e seus irmãos estavam do lado de fora, pretendendo falar-lhe. Disse-lhe, então, alguém: Eis que estão ali fora tua mãe e teus irmãos, que querem falar-te. Ele, porém, respondendo, disse ao que lhe falara: Quem é minha mãe? E quem são meus irmãos? E, estendendo a mão para os seus discípulos, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos.” (Mateus 12:46-49)
O contexto bíblico deixa claro que os “irmãos” de Jesus não eram apenas seguidores, mas membros de sua família.
Como sabemos que os irmãos de Jesus não eram filhos só de José de um outro casamento anterior?
Essa ideia, defendida por Orígenes e algumas tradições católicas e ortodoxas, sugere que José era viúvo e já tinha filhos antes de se casar com Maria. No entanto ela também não se sustenta e pode ser desmentida também pela própria Bíblia.
A Bíblia nunca menciona que José tinha outros filhos antes de Jesus e os irmãos de Jesus aparecem sempre junto de Maria, nunca sozinhos com José.
Se José tivesse filhos mais velhos, por que Jesus, na cruz, entregou Maria aos cuidados de João (João 19:26-27)?
O costume judeu era que o filho mais velho cuidasse da mãe viúva, mas se Jesus tivesse irmãos mais velhos, essa responsabilidade deveria ser deles, e não de João. E se os supostos filhos não fossem próximos de Maria a ponto de não a considerarem como mãe, por que sempre aparecem ao lado dela?
Essa hipótese não tem base bíblica sólida e parece ser uma tentativa tardia de defender a virgindade perpétua de Maria.
Por que acreditamos que os irmãos de Jesus mencionados na Bíblia eram mesmo irmãos biológicos?
A explicação mais lógica e coerente com a Bíblia é que os irmãos de Jesus eram seus irmãos biológicos, filhos de Maria e José após o nascimento de Jesus.
Até o Apóstolo Paulo reconhece isso e faz distinção entre os Apóstolos e Tiago irmão do Senhor quando escreve sua carta aos Gálatas:
“E não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor.” (Gálatas 1:19)
Paulo confirma que Tiago era irmão de Jesus, não primo ou seguidor.
Esta afirmação de Paulo pode ser inclusive cruzada com os escritos do historiador Flávio Josefo que menciona “Tiago, irmão do Senhor” em seus escritos de Antiguidades Judaicas.
“Mas o sumo sacerdote Anano, que tinha um caráter ousado, aproveitou a morte do procurador Festo e, sem ter permissão adequada, reuniu o Sinédrio e trouxe diante dele o irmão de Jesus, chamado Cristo, de nome Tiago, e alguns outros. Tendo-os acusado de transgredirem a Lei, os entregou para serem apedrejados.” (Antiguidades Judaicas 20.9.1)
Também eé confirmado por Hegésipo que foi um dos primeiros historiadores cristãos e escreveu sobre a morte de Tiago, mencionando sua ligação direta com Jesus.
“Tiago, o irmão do Senhor, recebeu o governo da Igreja juntamente com os apóstolos. Desde os tempos do Senhor até os nossos, ele foi chamado de Justo, pois muitos se chamavam Tiago. Ele foi santo desde o ventre de sua mãe. Não bebia vinho nem bebida forte, e nunca comeu carne.” (Citado por Eusébio em História Eclesiástica 2.23.4)
Existem ainda outras citações e documentos históricos por parte de Eusebio que fazem esta ligação e mostram que o Tiago mencionado era mais que um apóstolo, sempre sendo mencionado como “Irmão de Jesus.” Por que fazer essa diferenciação se ele fosse apenas mais um de seus apóstolos?
Conclusão.
A ideia de que Jesus teve irmãos biológicos é sustentada tanto pelas Escrituras quanto por fontes históricas. O Novo Testamento menciona repetidamente os irmãos de Jesus, incluindo Tiago, José, Simão e Judas (Mateus 13:55; Marcos 6:3), e os distingue dos discípulos. Paulo, escrevendo apenas duas décadas após a crucificação, chama Tiago explicitamente de “irmão do Senhor” (Gálatas 1:19), um termo que dificilmente se aplicaria a um mero seguidor.
Historicamente, Flávio Josefo, um historiador judeu do primeiro século, registra a morte de Tiago e o identifica como “irmão de Jesus, chamado Cristo” (Antiguidades Judaicas 20.9.1). Essa menção é crucial, pois Josefo não era cristão e não tinha interesse em promover doutrinas da fé cristã, o que confere ainda mais credibilidade ao relato.
Outros escritores primitivos, como Hegésipo e Eusébio, reforçam que Tiago era irmão de Jesus e líder da Igreja em Jerusalém.
Assim, tanto o texto bíblico quanto as evidências históricas sustentam que Jesus teve irmãos de sangue, filhos de Maria e José, o que desmonta a tese de que eram apenas primos ou discípulos.