O que a arqueologia nos diz sobre Jesus? Ela confirma que Jesus existiu e caminhou entre nós?
A arqueologia tem sido uma aliada fundamental na comprovação histórica de Jesus Cristo e do contexto em que Ele viveu.
Embora a ciência arqueológica não possa confirmar eventos sobrenaturais, diversas descobertas fornecem evidências concretas sobre personagens, locais e práticas mencionadas nos Evangelhos que estão diretamente ligados a pessoa de Jesus.
É fato que não há uma grande quantidade de evidências arqueológicas diretas sobre Jesus Cristo. Isso ocorre porque Jesus não deixou registros escritos próprios, não era uma figura política de alto escalão e foi crucificado como um criminoso comum, um tipo de execução que não costumava gerar vestígios arqueológicos preservados.
No entanto, há diversas evidências indiretas que corroboram sua existência, como inscrições, ossuários, construções e menções em textos antigos. Elas são tão abundantes e constantes na arqueologia que podemos quase que reconstruir a história no entorno de Jesus através de artefatos e vestígios encontrados.
Os primeiros anos da vida de Jesus Cristo, incluindo seu nascimento e infância, são temas de grande debate entre historiadores e arqueólogos.
Durante séculos, críticos questionaram a existência de lugares como Belém e Nazaré na época de Jesus.
Nos últimos anos, descobertas arqueológicas forneceram novas evidências que reforçam o contexto histórico dos relatos bíblicos sobre o nascimento e a infância de Cristo. Este artigo explora as principais evidências arqueológicas relacionadas a esse período da vida de Jesus, ele será o primeiro de uma série que pretende cobrir as mais relevantes descobertas arqueológicas que evidenciam a existência de Jesus Cristo.
Jesus nasceu em Belém? Existe alguma evidência arqueológica disso?
A tradição cristã afirma que Jesus nasceu em Belém, com base nos relatos dos Evangelhos de Mateus (2:1) e Lucas (2:4-7). No entanto, Os céticos argumentam que a falta de evidências arqueológicas diretas, as diferenças nos relatos evangélicos e a possível intenção teológica de conectar Jesus à profecia de Miqueias lançam dúvidas sobre seu nascimento em Belém. Também defendem a ideia de que Belém sequer existia na época de Jesus.
Até o momento, não há inscrições, documentos ou evidências arqueológicas diretas que comprovem que Jesus nasceu em Belém.
Nenhum achado arqueológico menciona Jesus especificamente em Belém no século I d.C.
Mas por que deveriam haver achados arqueológicos deste fato? Quem era Jesus na época de seu nascimento perante o mundo?
Ele não era filho de um rei terreno, nem mesmo de um governador romano, ou de um judeu influente, portanto é perfeitamente aceitável que não exista qualquer registro histórico de seu nascimento em Belém, além das fontes cristãs.
Além do mais, Belém no século I d.C. era uma pequena vila agrícola com uma população estimada entre 300 e 1.000 habitantes. Comparado a Jerusalém, que tinha cerca de 40.000 habitantes, Belém era insignificante politicamente.
Mas e quanto ao fato de afirmarem que Belém sequer existia na época de Jesus, isso pode ser desmentido?
Descobertas arqueológicas comprovam que Belém, a cidade onde Jesus nasceu existia em sua época.
Por muito tempo críticos da Bíblia afirmaram que Belém não teria existido, por não encontrarem citações históricas relevantes, ou evidências arqueológicas, e também por não conseguirem comprovar que a região onde Belém estava situada era habitada na época de Jesus.
Alguns acadêmicos sugeriam que os evangelistas criaram Belém como local de nascimento de Jesus para encaixar o relato na profecia messiânica de Miqueias 5:2 (“E tu, Belém Efrata, de ti sairá aquele que governará Israel”). Como Jesus era conhecido como “Jesus de Nazaré”, os céticos argumentavam que Belém poderia ter sido um acréscimo literário para reforçar a ideia de que Jesus era o Messias prometido.
As primeiras escavações na região de Belém encontraram vestígios de ocupação em períodos mais antigos (Idade do Ferro, cerca de 1200 a.C.), mas havia um “vazio arqueológico” referente ao período do Novo Testamento.
No entanto, escavações posteriores acharam evidências da ocupação de Belém no século I d.C., incluindo cerâmica, casas e depósitos de alimentos da época romana.
Além disso, um selo do século VII a.C., com a marca do governador de Jerusalém mencionando “Belém”, foi encontrado sob a praça do Muro das Lamentações, em um edifício do período do Primeiro Templo. A descoberta, inédita em seu contexto arqueológico, traz um selo com duas figuras e a inscrição em hebraico antigo “governador da cidade”. O selo confirma a existência da cidade durante o período do Primeiro Templo [1]
Essas descobertas derrubam a tese de que Belém era uma invenção literária, confirmando que era um local real e habitado na época de Cristo.
Se Belém existia na época de Jesus, e tinha exatamente as características mencionadas nos Evangelhos, e temos fontes primárias históricas cristãs que atestam que Jesus nasceu ali, por que deveríamos discordar disso? Só por que as fontes são cristãs?
Portanto, é mais sensato crer que a Bíblia diz a verdade e a arqueologia corrobora isso ao nos apresentar a cidade onde Jesus nasceu.
O local onde Jesus nasceu ainda é reconhecido em Belém.
A tradição cristã identifica uma gruta em Belém como o local do nascimento de Jesus. Essa caverna, está sob a Igreja da Natividade e tem sido venerada como o local exato onde Maria deu à luz a Jesus desde pelo menos o século II d.C. e tem grandes possibilidades de ser o verdadeiro local de seu nascimento, por vários motivos:
1. Os primeiros Pais da Igreja reconheciam esse local como o lugar onde Jesus nasceu.
O primeiro registro escrito sobre essa caverna vem do apologista cristão Justino Mártir (c. 150 d.C.), que mencionou que Jesus nasceu “em uma caverna perto de Belém.”
“Antes, porém, quando o menino nasceu em Belém, como José não encontrasse onde alojar-se nessa aldeia, retirou-se para uma gruta próxima. Então, estando aí os dois, Maria deu à luz a Cristo e o colocou em uma manjedoura, onde os magos da Arábia o encontraram ao chegar.”[2]
Orígenes (c. 248 d.C.) também confirmou que os cristãos da época reconheciam essa gruta como o local do nascimento de Cristo em seus escritos Contra Celso.
“Mas, para se convencer de que Jesus nasceu em Belém, se alguém, depois da profecia de Miqueias e depois da história registrada nos evangelhos pelos discípulos de Jesus, desejar mais provas, mostra-se, é bom saber, de acordo com a história evangélica de seu nascimento, em Belém, a gruta em que ele nasceu, e, na gruta, a manjedoura em que foi envolvido em panos. E o que se mostra aí é famoso em toda a região, mesmo entre os estranhos à fé, pois nesta gruta nasceu este Jesus que os cristãos adoram e admiram.”[3]
De acordo com a tradição cristã Jerônimo (c. 347–420 d.C.) teólogo, e erudito cristão conhecido principalmente por sua tradução da Bíblia para o latim, chamada Vulgata, viveu nas cavernas da Gruta da Natividade, em Belém, por grande parte dos seus últimos anos de vida. Ele se estabeleceu ali por volta de 386 d.C. e permaneceu até sua morte em 420 d.C.
Ele desejava estar próximo dos lugares sagrados ligados à vida de Jesus. Acreditava que a proximidade com a Gruta da Natividade o ajudaria a aprofundar sua compreensão das Escrituras. Fundou um mosteiro e uma escola de estudos bíblicos em Belém, tornando-se um centro de ensino cristão.
Ao lado da Gruta da Natividade, existe uma pequena caverna associada a Jerônimo, que é um local de peregrinação dentro da Basílica da Natividade, em Belém até hoje.
2. As tentativas de profanação e destruição do local e também preservação.
O imperador Adriano (que governou entre aproximadamente 117 e 138 d.C.) procurou apagar e modificar a lembrança do local tradicional do nascimento de Jesus ao ordenar a construção de um santuário dedicado ao deus Adônis sobre a caverna. Esse fato é mencionado também por Justino Mártir, Orígenes, Jerônimo e também aparece no Protoevangelho de Tiago (autor anônimo).
Também tivemos ações para a preservação e reconhecimento do local: No século IV, a Imperatriz Helena (mãe de Constantino) visitou Belém e ordenou a construção da Basílica da Natividade sobre a gruta, a qual existe até hoje.
3. Evidências arqueológicas confirmam a autenticidade do local.
A caverna ainda existe e pode ser visitada na Basílica da Natividade, sendo um dos locais cristãos mais antigos continuamente venerados.
Escavações arqueológicas sob a basílica revelaram estruturas do século I d.C., indicando que a área já era habitada na época de Jesus.
Fragmentos de mosaicos do século IV, da época de Constantino, ainda estão preservados no local.
Foi encontrada uma inscrição em grego do século IV que faz referência a Jesus como “Cristo nascido de Maria”, reforçando a tradição do local.
4. Jesus provavelmente nasceu em uma gruta e não em um estábulo de madeira.
A ideia de que Jesus nasceu em um estábulo vem da interpretação tradicional do relato bíblico, mas há fortes indícios de que ele tenha nascido realmente em uma gruta usada como abrigo para animais.
Em muitas casas judaicas do século I, os estábulos ficavam em cavernas naturais anexadas às casas.
Arqueólogos descobriram várias casas do período que possuíam grutas anexas que serviam para abrigar os animais, confirmando que essa prática era comum.
Dessa forma, não há contradição entre a Bíblia dizer que Jesus foi colocado em uma manjedoura e a tradição que aponta que ele nasceu em uma gruta, pois a manjedoura poderia estar dentro desse espaço.
Assim, a ideia do estábulo de madeira é mais uma construção ocidental tardia, não se encaixando com o contexto dos tempos de Jesus, nem com as construções judaicas, enquanto a explicação da gruta tem mais respaldo arqueológico e histórico.
A Gruta da Natividade não é uma prova arqueológica direta do nascimento de Jesus, mas sua veneração desde os primeiros séculos do Cristianismo indica que já existia uma forte tradição oral associada ao local. As escavações arqueológicas confirmam que a área era habitada no século I d.C., tornando plausível que Jesus tenha nascido ali.
A arqueologia comprova que Nazaré, onde Jesus foi criado, existia em seu tempo.
Muitos céticos e ateus também afirmam que Nazaré, embora exista hoje, não existia na época de Jesus, mas isso é pura especulação.
Existem descobertas em Nazaré de ruínas de casas do século I, túmulos judaicos e um reservatório de água, confirmando que Nazaré era uma vila habitada no tempo de Jesus.
A arqueóloga Yardena Alexandre em suas escavações em Nazaré encontrou pedações de cerâmica do primeiro século e 165 moedas, algumas dos séculos XIV ou XV, mas outras do período helenístico, hasmoneu e romano antigo, ou seja, moedas também dos dias de Jesus.[4]
O arqueólogo Ken Dark descobriu uma casa do século I d.C. sob o Convento das Irmãs de Nazaré.
A construção era de pedra e argamassa, semelhante às descrições de casas judaicas do período, e estava localizada em um local reverenciado desde a época bizantina como sendo a casa de José, Maria e Jesus. Tradições afirmam que aquele é o local onde Jesus passou sua infância, no entanto, isto não pode ser confirmado ainda.[5]
Essa identificação é sustentada por tradições locais e pela presença de igrejas bizantinas construídas no local, indicando a importância religiosa atribuída ao sítio ao longo dos séculos pelos cristãos.
Embora não possamos ter certeza que encontramos a casa onde Jesus viveu, ainda assim temos a aldeia, onde segundo as Escrituras, Ele passou sua infância. E a temos devidamente comprovada pela arqueologia, com construções e artefatos datados do período em que Ele teria estado lá.
A existência de Nazaré como local onde Jesus foi criado é aceita e crida até por estudiosos como Bart Ehrman agnóstico ateísta. [6]
Descobertas arqueológicas em Nazaré fazem referência Jesus.
Nazaré foi o cenário de um dos primeiros episódios documentados na vida de Jesus, a anunciação do seu nascimento, que ocorreu por volta do final do século I a.C.
Segundo o Evangelho de Lucas, o anjo Gabriel foi enviado por Deus para informar Maria de que, através do poder do Espírito Santo, ela conceberia e daria à luz Jesus, o Filho de Deus (Lucas 1:26-38).
A Igreja da Anunciação em Nazaré é tradicionalmente associada ao local onde se acredita que a casa de Maria estava situada, o mesmo lugar onde, segundo a tradição cristã, o anjo Gabriel teria anunciado a ela o nascimento de Jesus.
Sob a moderna Basílica da Anunciação e a igreja dos cruzados do século XI, foram encontrados os vestígios de uma igreja bizantina datada do século V d.C., com dimensões aproximadas de 20 metros por 8 metros.
O piso de mosaico dessa igreja bizantina apresenta uma dedicatória escrita em grego: “para Konon, diácono de Jerusalém”, acompanhada de uma cruz decorativa. Abaixo dessa estrutura, arqueólogos descobriram uma pia batismal, pisos de mosaico com cruzes decorativas, paredes revestidas com grafites e uma escada que dava acesso a uma caverna. Entre os grafites, foram encontradas frases como “Senhor, Cristo, ajuda a tua serva Valéria… e dá a palma à dor… Amém” e “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, ajuda Génio e Elpisius, Achille, Elpidius, Paul, Antonis… servos de Jesus”.
Evidências Arqueológicas.
Em termos de evidências arqueológicas, o que se sabe é que a área onde a igreja está localizada tem sido um ponto de contínuas escavações.
Foram nestas escavações, realizadas sob a igreja, que os arqueólogos descobriram vestígios da casa do século I, que poderia ser o local mencionado na tradição. No entanto, a evidência direta de que essa casa foi, de fato, a casa de Maria não pode ser comprovada, e a identificação exata é, em grande parte, baseada na tradição religiosa e em fontes antigas.
Essa casa tem características arquitetônicas que são consistentes com a construção de casas judaicas da época de Jesus, o que leva muitos a associá-la ao período em que Maria teria vivido.
Acredita-se que os primeiros cristãos, a partir do século II, já estavam cientes da importância do local e começaram a venerá-lo como o lugar da Anunciação.
O Censo de Lucas 2:1 e a Historicidade do Nascimento de Jesus.
O Evangelho de Lucas registra que José e Maria viajaram de Nazaré para Belém devido a um decreto de recenseamento emitido pelo imperador César Augusto:
“Naqueles dias, foi publicado um decreto de César Augusto, convocando toda a população do império para recensear-se.” (Lucas 2:1)
Essa afirmação tem sido questionada por historiadores e céticos que argumentam que não há registros diretos de um censo que exigisse que as pessoas retornassem às suas cidades de origem. No entanto, um exame detalhado dos registros históricos e administrativos do Império Romano sugere que o relato de Lucas é plausível.
Os censos eram práticas comuns no Império Romano, realizados para fins fiscais e administrativos. O próprio Augusto menciona em seu documento autobiográfico, Res Gestae Divi Augusti, que ordenou censos em 28 a.C., 8 a.C. e 14 d.C. Esses censos visavam contabilizar a população para tributos e controle militar.
A província da Judeia, embora não fosse diretamente governada por Roma até 6 d.C., estava sob a influência do Império, sendo um estado vassalo sob o reinado de Herodes, o Grande. Os romanos frequentemente impunham censos em regiões que estavam sob sua administração indireta.
O Papel de Quirino.
Lucas menciona que o censo ocorreu “quando Quirino era governador da Síria” (Lucas 2:2). O problema levantado por críticos é que os registros históricos indicam que Quirino governou a Síria e realizou um censo em 6 d.C., enquanto Jesus teria nascido antes disso, durante o reinado de Herodes, que morreu em 4 a.C.
No entanto, há evidências que sugerem que Quirino poderia ter ocupado um cargo administrativo na Síria antes de sua governança oficial. A inscrição Lapis Venetus menciona Quirino supervisionando assuntos administrativos na região, o que indica que ele esteve envolvido em um censo anterior ao de 6 d.C.
O Censo de 8 a.C. e sua possível aplicação na Judeia.
Outro ponto relevante é que o censo ordenado por Augusto em 8 a.C. pode ter levado anos para ser implementado em algumas regiões do Império. A burocracia romana era complexa, e algumas províncias levavam tempo para cumprir as ordens imperiais. Se esse censo começou a ser aplicado na Síria e na Judeia alguns anos depois, poderia coincidir com o período do nascimento de Jesus.
Ademais, há evidências de que os censos romanos exigiam deslocamentos. No Egito romano, por exemplo, documentos mostram que as pessoas eram obrigadas a se registrar em suas cidades ancestrais. Esse costume pode ter sido aplicado também na Judeia, explicando por que José e Maria viajaram a Belém, cidade de Davi e local da linhagem de José.
Embora não haja um documento romano específico que mencione um censo exatamente como descrito por Lucas, os registros históricos demonstram que censos ordenados por Augusto eram comuns e levavam tempo para serem executados.
Portanto, longe de ser uma contradição histórica, o relato de Lucas está alinhado com as práticas romanas conhecidas.
Registros históricos dos primeiros cristãos confirmam o nascimento de Jesus.
Os Pais da Igreja acreditavam que os registros do censo mencionado em Lucas 2 ainda existiam em sua época e que poderiam ser consultados para verificar a veracidade do relato. Não há menção de um debate específico sobre a questão cronológica entre Quirino e o nascimento de Jesus, como os estudiosos modernos fazem.
Em seu Diálogo com Trifão, Justino Mártir (100-165 d.C.), menciona que o nascimento de Jesus ocorreu sob o reinado de Quirino, governador da Síria, e sugere que os registros do censo ainda existiam em sua época:
“Sabe-se que há no país dos judeus uma aldeia que dista de Jerusalém trinta e cinco estádios e que nela nasceu Jesus Cristo, como podeis comprovar pelas listas do recenseamento, feitas sob Quirino, que foi o vosso primeiro procurador na Judéia.” [7]
“Temeroso, José não a expulsou 151 de casa. Ao contrário, na ocasião do primeiro recenseamento da Judéia, no tempo de Quirino, subiu de Nazaré, onde vivia, para inscrever-se em Belém, sua terra de origem.”[8]
No tratado Contra Marcião, Tertuliano (155-220 d.C.) também menciona o censo e relaciona o nascimento de Cristo com Quirino. Ele afirma que os registros do censo poderiam ser consultados para comprovar a historicidade do nascimento de Jesus.
“Mas há também um censo realizado sob Augusto, no qual pode-se buscar o nome de José e Maria, do qual Cristo descendeu.” [9]
Em sua História Eclesiástica, Eusébio de Cesareia (c. 260–339 d.C.) também menciona que Jesus nasceu sob o reinado de Augusto e que alguns registros oficiais ainda existiam, corroborando a narrativa de Lucas.
“No quadragésimo segundo ano do império de Augusto, no vigésimo oitavo da sujeição do Egito e da morte de Antônio e de Cleópatra, extinta a dinastia dos Ptolomeus no Egito, por ocasião do primeiro recenseamento, quando Quirino governava a Síria (cf. Lc 2,2), nasceu nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, de acordo com as profecias, em Belém da Judéia.” [10]
Podemos confiar no testemunho dos Pais da Igreja sobre o nascimento de Jesus?
Embora os Pais da Igreja tenham vivido décadas ou séculos depois do nascimento de Jesus, suas referências ao censo e nascimento de Jesus são consideradas confiáveis, até por historiadores ateus. Eles afirmam que existiam documentos oficiais que corroboravam os eventos bíblicos, e tanto Justino quanto Tertuliano alegam que esses registros estavam acessíveis.
Justino Mártir (100–165 d.C.), viveu cerca de 70 a 130 anos depois do nascimento de Jesus. Sendo um cristão erudito do século II, Justino teve acesso a registros romanos e tradições orais ainda relativamente próximas dos eventos bíblicos.
Tertuliano (160–220 d.C.), viveu cerca de 160 a 220 anos depois de Jesus. Como advogado e apologista cristão, ele tinha conhecimento das leis e registros romanos e, muitas vezes, fazia referência a documentos históricos em seus escritos.
Eusébio de Cesareia (c. 260–339 d.C.), viveu cerca de 260 a 300 anos após o nascimento de Cristo. Sua obra História Eclesiástica é baseada em fontes mais antigas, incluindo escritos hoje perdidos.
Nenhum destes Pais da Igreja jamais foi desmentido em relação ao nascimento de Cristo ou sua existência.
Portanto, seus escritos mostram que, mesmo sem os documentos originais disponíveis hoje, havia na época registros que confirmavam a narrativa cristã. Assim, suas citações são valiosas, pois refletem tanto a tradição cristã primitiva quanto evidências que aparentemente estavam disponíveis no século II e III.
Existem evidências sobre os Reis Magos que seguiram uma estrela até Jesus?
As evidências arqueológicas diretas sobre os Reis Magos são bastante limitadas, e não há registros físicos ou documentos históricos que confirmem explicitamente sua existência fora do relato do Evangelho de Mateus. No entanto, algumas descobertas e teorias podem ser consideradas relevantes ao contexto histórico e cultural em que os Magos aparecem. Aqui estão algumas delas:
1. Tabuinhas Cuneiformes da Babilônia.
há registros astronômicos babilônicos, como a tabuinha decifrada por P. Schnabel em 1925, que documentam uma conjunção de Júpiter e Saturno na constelação de Peixes em 7 a.C. Esse evento é uma possível explicação para a “estrela” mencionada no Evangelho de Mateus e sugere que os Magos poderiam ter sido sacerdotes-astrônomos da Pérsia ou Babilônia, que interpretavam eventos celestes como presságios.
2. Ruínas da Cidade de Sippar e Escolas de Astronomia.
A cidade de Sippar, localizada na Babilônia, abrigava uma das principais escolas de astronomia e astrologia da antiguidade. Essa cidade era um centro de aprendizado para os “Magos” (termo usado para sacerdotes e estudiosos do zoroastrismo e astrologia), o que reforça a hipótese de que os sábios mencionados no Evangelho de Mateus vieram de uma tradição astronômica sofisticada.
3. As Inscrições na Antiga Cidade de Marib, no Iêmen.
No sul da Arábia, na antiga cidade de Marib (atual Iêmen), existiam caravanas de mercadores que levavam ouro, incenso e mirra, os mesmos presentes que os Magos ofereceram a Jesus. Algumas inscrições descobertas nessa região confirmam que esses itens eram frequentemente enviados a reis e templos no Oriente Médio.
4. Referências em Textos Apócrifos e Tradições Antigas.
Embora não sejam evidências arqueológicas diretas, existem textos apócrifos que expandem a narrativa dos Magos, como o Evangelho Armênio da Infância, que menciona nomes e detalhes de sua viagem. Algumas dessas tradições indicam que os Magos poderiam ter sido sacerdotes zoroastrianos da Pérsia.
Apesar de não existirem provas arqueológicas robustas e definitivas da identidade dos Reis Magos, descobertas como tabuinhas cuneiformes, ruínas de escolas de astronomia na Babilônia e registros comerciais no Iêmen reforçam o contexto histórico do relato bíblico. O fato de o Evangelho de Mateus mencionar que estudiosos do Oriente vieram saudar Jesus é coerente com práticas conhecidas de astronomia e interpretações astrológicas da época.
Existem evidências históricas do massacre dos bebês por Herodes?
O Evangelho de Mateus nos diz que Herodes mandou matar bebês menores de dois anos ao saber do nascimento de Jesus. Será que temos evidências históricas disso?
Ainda que ignorássemos que o Evangelho de Mateus é um registro histórico deste fato, e pouco importa as argumentações dos críticos da Bíblia sobre isto, mesmo assim, existem referências em tradições judaico-cristãs, escritos apócrifos e fontes pagãs indicando que a história do “massacre dos inocentes”, descrito em Mateus 2:16 pode ter realmente acontecido.
O relato de Mateus se encaixa perfeitamente no perfil violento de Herodes, tornando o evento historicamente plausível.
Herodes, o Grande, é frequentemente lembrado como um monarca extremamente cruel e paranoico. Seu reinado foi marcado por muitas atrocidades, tanto contra seu próprio povo quanto contra membros de sua família. Portanto, mandar matar bebês de menos de dois anos para proteger seu reinado, seria bem do seu feitio.
Herodes executou sua esposa Mariamne, da dinastia dos Hasmoneus, em 29 a.C. Ele a acusou de conspiração, após suspeitar que ela fosse infiel.
Ele executou seu filho mais velho, Antípater, em 4 a.C., acusando-o de tentar usurpar o trono. Antípater foi condenado à morte depois de ser acusado de conspiração.
Os dois filhos de Herodes com Mariamne também foram executados por ordem de seu pai. Alexandre e Aristóbulo, foram mortos em 7 a.C., e acredita-se que Herodes os matou devido ao medo de que eles tomassem o poder.
Herodes era obsessivamente paranoico em relação à lealdade de sua família, e qualquer sinal de possível traição, mesmo que infundado, era tratado com extrema violência. Ele matou vários de seus parentes, incluindo outros filhos e netos.
Em alguns relatos históricos, Herodes é acusado de envenenar sua mãe, Alexandra, e outras pessoas próximas a ele, como uma forma de eliminar ameaças ou tentar garantir sua posição.
Outras fontes além do Evangelho de Mateus.
Macróbio ou Ambrósio Teodósio Macróbio foi um escritor e filólogo romano, autor das Saturnais e do Comentário ao Sonho de Cipião, que nasceu por volta de 370 na Numídia, na África.
Ele escreve em Saturnália:
“Quando ele [imperador Augusto] ouviu que entre os meninos da Síria com menos de dois anos de idade que Herodes, o rei dos judeus, tinha mandado matar, seu filho também havia sido morto, ele disse: ‘é melhor ser o porco de Herodes do que seu filho’.” [11]
Muitos afirmam que Macróbio era na verdade cristão, e estava escrevendo para cristãos. No entanto isso não é provável pois o cristianismo não é sequer mencionado em nenhuma de suas obras e o autor possuía grande interesse em rituais pagãos o que não condiz com os praticantes do cristianismo na época.
Também encontramos o mesmo texto no Protoevangelho de Tiago (capítulo 22), que descreve-se que, após o fracasso da tentativa de Herodes de descobrir onde estava o menino Jesus com a ajuda dos magos, ele ordena a execução das crianças. O trecho específico fala sobre o massacre, mas de forma resumida, comparado com o Evangelho de Mateus.
Embora esse texto apócrifo não tenha o mesmo peso histórico que os evangelhos canônicos, ele oferece uma narrativa paralela que ecoa a descrição de Mateus e contribui para a tradição cristã dos primeiros anos da vida de Jesus.
O nascimento e a infância de Jesus estão alinhados com o contexto histórico da época.
O nascimento, a infância e a vida de Jesus estão profundamente inseridas no contexto histórico do século I, tanto no cenário político quanto no social e religioso.
Os Evangelhos situam seu nascimento no reinado de Herodes, o Grande (ca. 40–4 a.C.), um monarca cliente de Roma, enquanto César Augusto governava o Império Romano.
O censo mencionado em Lucas 2:1-3, ordenado por Augusto, reflete práticas reais de recenseamento do período, ainda que haja debates sobre sua data exata.
Na juventude de Jesus, a Palestina estava dividida entre os filhos de Herodes, com a Galileia sendo governada por Herodes Antipas e a Judeia diretamente administrada por prefeitos romanos, como Pôncio Pilatos.
Além disso, achados arqueológicos, como inscrições, moedas e ruínas de sinagogas do período, corroboram o ambiente descrito nos Evangelhos, evidenciando que Jesus viveu em um tempo de forte domínio romano, tensões entre diferentes grupos judaicos e expectativas messiânicas.
Essa convergência entre a narrativa bíblica e a história documentada reforça a credibilidade dos relatos sobre a vida de Jesus.
Todo o cenário histórico no entorno de Jesus é amplamente respaldado por descobertas arqueológicas, documentos e tradições históricas que possuem seu valor.
Pessoas ligadas a infância de Jesus são comprovadas por fontes históricas e arqueológicas, conforme podemos conferir:
Herodes, o Grande (ca. 40–4 a.C.).
Herodes possui moedas cunhadas com seu nome, restos de suas construções monumentais, como a reconstrução do Segundo Templo, Massada, Cesareia Marítima, o Heródio e o palácio de Jericó.
Existe também o túmulo no Heródio, identificado em 2007 pelo arqueólogo Ehud Netzer.
César Augusto (27 a.C.–14 d.C.).
Achados arqueológicos sobre o Imperador Augusto incluem Inscrições e estátuas por todo o Império Romano. Res Gestae Divi Augusti, um documento oficial gravado em pedra detalhando suas realizações, moedas de seu reinado são amplamente encontradas.
Quirino, governador da Síria (6–12 d.C.) (ligado ao censo mencionado em Lucas 2:1-3).
Sobre Quirino temos evidências arqueológicas incluindo Inscrições romanas mencionando seu governo, incluindo a Lapis Tiburtinus, encontrada em Tívoli, Itália.
Herodes Arquelau (4 a.C.–6 d.C.) (filho de Herodes, governante da Judeia após sua morte, mencionado em Mateus 2:22).
Possui Moedas com seu nome e título e inscrição em Cesareia Marítima mencionando sua posição.
Herodes Antipas (4 a.C.–39 d.C.) (outro filho de Herodes, governante da Galileia, região onde Jesus cresceu).
Sobre Herodes Antipas temos moedas emitidas por ele, ruínas de construções atribuídas ao seu governo, incluindo a cidade de Tiberíades.
Nazarenos e judeus da época.
Ruínas de Nazaré do século I, incluindo casas e uma caverna associada à tradição cristã, ossuários e sinagogas do período, como a sinagoga de Migdal (Magdala), próxima ao Mar da Galileia.
Flávio Josefo (37–100 d.C.) historiador judeu, menciona vários desses personagens e o contexto da época. Inscrições e textos confirmando sua autoria de Antiguidades Judaicas e Guerras dos Judeus também são encontradas.
Embora personagens como Maria, José e os magos ainda não tenham evidências diretas, o contexto arqueológico confirma o ambiente social e político no qual viveram.
Conclusão.
As descobertas arqueológicas que mais diretamente se associam aos personagens bíblicos da infância de Jesus são aquelas que nos ajudam a entender o ambiente e o contexto social da época, como as evidências encontradas em Nazaré, Herodes, e os locais do ministério de João Batista. No entanto, a falta de artefatos diretamente ligados a personagens específicos como José, Maria e outros ainda é um desafio na arqueologia bíblica. A maior parte das evidências diretas refere-se ao contexto histórico e geográfico, e não tanto a objetos ou inscrições específicas desses personagens.
A ausência de descobertas arqueológicas diretas sobre a infância de Jesus não é um argumento contra sua existência, pois a arqueologia raramente preserva registros de pessoas comuns. No entanto, as evidências históricas, o contexto arqueológico e as fontes não cristãs confirmam que ele viveu em Nazaré no primeiro século e que sua infância e nascimento estão alinhados com a história da época.
Nos tempos antigos, a maioria das histórias eram transmitidas oralmente, especialmente entre as comunidades judaicas e cristãs primitivas. Os Evangelhos foram escritos algumas décadas após os eventos, baseando-se em testemunhas oculares e relatos preservados. Isso era comum na historiografia da época.
Além das narrativas bíblicas, há fontes não cristãs que mencionam Jesus, como Flávio Josefo, Tácito e Suetônio. Esses historiadores mencionam sua existência e impacto histórico, reforçando que ele não é uma figura mitológica.
Mesmo que não tenhamos achados arqueológicos diretamente ligados à infância de Jesus, há evidências sólidas do contexto histórico no qual ele nasceu.
Fontes pesquisadas:
[1] The Jerusalem Post (https://www.jpost.com/features/in-thespotlight/bethlehem-seal-discovered-in-jerusalem)
[2] Patrística, volume 03, Justino de Roma, 1 e Il Apologias Diálogo com Trifão, página 152, Editora Paulus.
[3] Patrística, volume 20, Orígenes contra Celso, página 59, Editora Paulus.
[4] Yardena Alexandre, Israel Antiquities Authority (IAA), “Excavating the Jewish Village of Nazareth” (2009). https://winteryknight.com/2016/06/08/did-the-city-of-nazareth-exist-at-the-time-of-the-birth-of-jesus-2/
[5] Ken Dark, “Roman-Period and Byzantine Nazareth and Its Hinterland” (Palestine Exploration Quarterly, 2020). https://www.univision.com/explora/arqueologos-descubren-la-casa-de-jesus-de-nazareth
[6] https://ehrmanblog.org/did-nazareth-exist/
[7] Patrística, volume 03, Justino de Roma, 1 e Il Apologias Diálogo com Trifão, página 40, Editora Paulus.
[8] Patrística, volume 03, Justino de Roma, 1 e Il Apologias Diálogo com Trifão, páginas 151, 152, Editora Paulus.
[9] Tertuliano “Contra Marcião”, Livro IV, capítulo 7.
[10] Patrística, volume 15, Eusébio de Cesaréia, Capítulo 5, Página 37, Editora Paulus.
[11] Macróbius, Saturnália, Livro 11, p235, 11.