Um raro tecido de 3.800 anos tingido com o Escarlate Bíblico, um corante vermelho extraído de insetos da espécie Kermes vermilio, foi recentemente encontrado por pesquisadores da Autoridade de Antiguidades de Israel em colaboração com as Universidades Bar-Ilan e Hebraica de Jerusalém. Esse corante, também conhecido como vermelho carmesim, é amplamente citado na Bíblia, principalmente em contextos religiosos, como o tingimento de tecidos utilizados no Tabernáculo, nas vestimentas sacerdotais e em rituais de purificação.
A coloração escarlate era altamente valorizada pela complexidade de sua produção, que envolvia a coleta de pequenos insetos presentes em carvalhos. Seu valor simbólico e religioso era expressivo, representando pureza e santidade, além de ser associado ao pecado em algumas passagens bíblicas, como em Isaías 1:18, onde a escarlate é usada como metáfora para os pecados que poderiam ser purificados pela graça divina.
Além dos textos sagrados, o escarlate aparece também em documentos comerciais da Mesopotâmia, datados de cerca de 1425 a.C., que mostram sua ampla circulação e importância econômica no mundo antigo. A descoberta deste tecido, feita nas cavernas do deserto da Judeia, é agora a evidência mais antiga de um material tingido com o corante conhecido nas Escrituras como “Tola‘at Hashani”, ou verme escarlate.
Na Antiguidade, além do escarlate, outras tinturas como o Tekhelet (azul royal) e o Argaman (púrpura) eram altamente valorizadas. De acordo com os textos bíblicos, essas cores eram usadas nos tecidos do Tabernáculo e nas vestes sagradas, simbolizando autoridade, pureza e santidade.
Análises científicas confirmam a origem do corante.
Utilizando a técnica de Cromatografia Líquida de Alta Performance (HPLC), os pesquisadores identificaram que o tom vermelho vibrante do tecido foi obtido de insetos escamados que habitam o carvalho-terebinto, especificamente a espécie Kermes vermilio. Este corante era conhecido por sua raridade e pelo trabalho meticuloso envolvido em sua extração, uma tarefa limitada a um curto período do ano, quando os insetos atingiam seu teor máximo de corante. A Dr. Naama Sukenik, responsável pela pesquisa, explica que esse processo encarecia o produto, tornando-o reservado para cerimônias e vestimentas de alta importância, como as dos sacerdotes mencionados em Êxodo 28:5-6.
A preservação de tecidos em condições áridas, como as do deserto da Judeia, é rara, o que torna essa descoberta ainda mais significativa para o estudo da história antiga. As condições climáticas, com baixíssima umidade, ajudaram a manter o tecido em bom estado, proporcionando aos estudiosos uma oportunidade ímpar de compreender as práticas de tingimento e comércio de têxteis no Oriente Médio há quase quatro milênios.
Os Professores Zohar Amar e David Iluz, da Universidade Bar-Ilan, destacam a importância científica desse achado. Eles afirmam que, embora o tingimento com escarlate tenha sido documentado em períodos posteriores, esta descoberta é significativamente anterior, oferecendo uma visão das práticas de tingimento e do comércio têxtil no início da história de Israel.
Mais detalhes curiosos sobre a descoberta do Tecido Bíblico de 3.800 Anos.
A descoberta do tecido foi feita especificamente em escavações na “Caverna das Caveiras”, situada no Deserto da Judeia.
O pequeno pedaço de tecido datado de 3.800 anos, com menos de 2 centímetros de tamanho, foi achado durante uma operação destinada a proteger achados patrimoniais da região contra possíveis furtos.
A análise laboratorial revelou que o tecido, datado da Idade do Bronze Médio (1767-1954 a.C.), foi tingido com corante extraído de cochonilhas de carvalho, especificamente identificadas como o verme escarlate bíblico. Esta cor, conhecida como “verme escarlate”, curiosamente aparece 25 vezes na Bíblia, geralmente acompanhada pelo azul e pelo roxo, as cores mais preciosas e prestigiosas do mundo antigo.
O Dr. Uri Davidovich, diretor de escavação da Universidade Hebraica de Jerusalém, comentou: “Embora seja difícil saber como esse tecido chegou a essa caverna do deserto, ele é uma evidência significativa do conhecimento antigo no tingimento de fibras de lã usando cochonilhas para obter a cor vermelha já na Idade do Bronze Médio — cerca de 3.800 anos atrás.”
Na’ama Sukenik, da Autoridade de Antiguidades de Israel, destacou: “A descoberta importante preenche a lacuna entre as fontes escritas e as descobertas arqueológicas, fornecendo evidências de que a antiga indústria de tingimento têxtil já estava, nesta fase, suficientemente estabelecida para tingir usando animais.”
O estudo, uma colaboração entre a Autoridade de Antiguidades de Israel e as universidades Bar-Ilan e Hebraica, foi publicado recentemente no “Journal of Archaeological Science”.
Apesar da abundância de referências históricas ao uso de cochonilhas no tingimento têxtil no mundo antigo, muito poucos tecidos tingidos com insetos kermes foram encontrados antes do período romano.
Assim, o tecido vermelho encontrado na caverna do deserto da Judeia representa a evidência mais antiga conhecida de tecido de lã tingido com quermes, oferecendo uma visão valiosa sobre as técnicas de tingimento e as práticas comerciais da Idade do Bronze Médio.
Como a descoberta do Tecido de 3.800 comprova passagens bíblicas?
A descoberta do tecido tingido com escarlate oferece um vínculo físico entre os registros arqueológicos e as descrições bíblicas. Este tecido fornece uma prova concreta de que o escarlate, um corante de grande valor e significado simbólico, era realmente usado nos contextos descritos nas Escrituras. Além disso, a evidência física ajuda a validar as práticas e materiais mencionados na Bíblia, ilustrando como esses elementos sagrados eram integrados na vida religiosa e cultural do antigo Israel.
Êxodo 25:4 – Uso de escarlate no Tabernáculo.
Essa passagem descreve os materiais usados na construção do Tabernáculo, o local onde Deus habitava entre os israelitas durante a peregrinação no deserto. O escarlate é citado como um dos materiais nobres:
“Azul, púrpura, carmesim, linho fino e pelo de cabra”.
Êxodo 28:5-6 – Vestes sacerdotais.
As vestes dos sacerdotes, em especial do sumo sacerdote, eram feitas com materiais preciosos, incluindo o escarlate. O texto descreve o uso dessa cor nas vestes que simbolizam pureza, autoridade e santidade:
“Recebam ouro, e azul, púrpura, carmesim e linho fino; e com isso farão o éfode de ouro, de azul, púrpura, carmesim e linho fino retorcido, obra de artista”.
Levítico 14:4-6 – Rituais de purificação.
Nos rituais de purificação, especialmente para a cura de doenças como a lepra, o escarlate era usado junto com outros elementos. O escarlate, neste contexto, simboliza a purificação e renovação:
“Mandará, pois, o sacerdote que se tomem, para aquele que houver de purificar-se, duas aves vivas, limpas, e pau de cedro, e escarlata, e hissopo”.
Números 19:6 – Rito da novilha vermelha.
Outro ritual de purificação, o sacrifício da novilha vermelha, também incluía o uso de escarlate como parte do processo de santificação e expiação:
“O sacerdote tomará pau de cedro, hissopo e escarlata, e os lançará no meio da queima da novilha”.
Isaías 1:18 – O simbolismo do escarlate e o pecado.
Nesta passagem profética, o escarlate é utilizado para simbolizar o pecado, que pode ser purificado pela intervenção divina. O contraste entre o vermelho e o branco é uma imagem poderosa de redenção:
“Ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve”.
Josué 2:18 – O cordão de escarlate.
No relato de Raabe, a cor escarlate também aparece. Raabe, a mulher que ajudou os espias israelitas em Jericó, foi instruída a pendurar um cordão de escarlate em sua janela para que sua casa fosse poupada durante a invasão:
“Eis que, vindo nós à terra, atarás este cordão de fio de escarlata à janela, por onde nos fizeste descer”.
Apocalipse 17:3-4 – O escarlate na visão apocalíptica.
O livro de Apocalipse também faz uso simbólico da cor escarlate, representando poder, luxúria e corrupção no contexto das visões de João sobre o fim dos tempos:
“E vi uma mulher montada numa besta de cor escarlate, que estava cheia de nomes de blasfêmia”.
Qual o significado dessa descoberta para a Arqueologia Biblioteca?
A descoberta do tecido tingido com escarlate bíblico é mais um dos muitos marcos significativos para a arqueologia bíblica e para a confirmação das narrativas bíblicas. Este artefato de 3.800 anos não só fornece uma prova concreta do uso do corante escarlate, mas também corrobora detalhadamente as descrições encontradas nas Escrituras, como os tecidos sagrados do Tabernáculo e as vestimentas sacerdotais.
A importância desta descoberta vai além do seu valor material; ela representa um elo tangível entre os textos antigos e as práticas reais da antiguidade.
Este achado destaca a crescente confirmação das narrativas bíblicas através da pesquisa arqueológica. A cada nova descoberta, os pesquisadores conseguem corroborar mais aspectos das histórias e práticas descritas na Bíblia, o que contribui para uma compreensão mais rica e precisa do passado antigo. A cada dia, a arqueologia bíblica continua a revelar evidências que sustentam e enriquecem o conhecimento sobre a vida e as tradições do antigo Israel, demonstrando que as Escrituras refletem com precisão as realidades da época.
Portanto, a descoberta deste tecido escarlate não é apenas um avanço para o estudo dos corantes antigos, mas também uma confirmação tangível de que as narrativas bíblicas têm fundamentos históricos sólidos. À medida que mais achados como este são revelados, a confiança na precisão histórica da Bíblia se fortalece, e a compreensão das práticas culturais e religiosas do passado se torna mais completa.
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