O Batismo com o Espírito Santo e os Dons Espirituais são partes importantes da experiência dos cristãos com Deus.
Nos dias de hoje, muitos crentes continuam a buscar e experimentar o batismo com o Espírito Santo. Testemunhos modernos relatam como essa experiência transforma vidas, trazendo renovação espiritual, cura e capacitação para o ministério. Igrejas ao redor do mundo continuam a enfatizar a importância dessa experiência, encorajando seus membros a buscar uma relação mais profunda com Deus através do Espírito Santo.
Além disso, os Dons do Espírito Santo distribuídos à Igreja são de grande importância para o serviço cristão. Eles ajudam a manter a pureza e santidade dos servos de Deus, corroboram com a manutenção e defesa do cristianismo coibindo a proliferação de heresias e influência de falsos espíritos, falsos ensinamentos e doutrinas. Também promovem a cura, libertação, pregação intrépida da Palavra de Deus e certamente servem como influência para a conversão dos não crentes, quando usados da forma correta.
No entanto, o Batismo com o Espírito Santo e os Dons Espirituais nem sempre estiveram presentes e acessíveis em todos os períodos na história da Igreja de Jesus Cristo.
Neste estudo, vamos explorar as manifestações dos Dons Espirituais e do Batismo com o Espírito Santo através da história, desde os tempos da Igreja Primitiva até o período da Reforma Protestante. Você pode conferir mais Estudos Bíblicos com temas semelhantes a este nos seguintes links:
O Batismo com Espírito Santo e os Dons Espirituais nos tempos apostólicos.
O batismo com o Espírito Santo e os dons espirituais desempenharam um papel crucial na igreja primitiva, conforme documentado no Novo Testamento. A experiência inicial do derramamento do Espírito no Pentecostes marcou o início de uma nova era para a comunidade cristã, onde o poder e a presença do Espírito Santo foram evidentes de maneira tangível.
O evento do Pentecostes, registrado em Atos 2:1-4, é o marco inicial do batismo com o Espírito Santo. Jesus havia prometido aos seus discípulos que seriam batizados com o Espírito Santo (Atos 1:5, Lucas 24:49), uma promessa que se cumpriu com a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos reunidos em Jerusalém. Este evento não apenas inaugurou a era do Espírito, mas também equipou os discípulos com poder para testemunhar sobre o Evangelho e o poder de Deus. (Atos 1:8). Você pode entender melhor esta manifestação divina de um ponto vista bíblico lendo este outro artigo: O que é Batismo com o Espírito Santo, para que serve e o que a Bíblia diz sobre ele?
Manifestação de Línguas:
No Pentecostes, os apóstolos começaram a falar em outras línguas conforme o Espírito lhes concedia (Atos 2:4). Essas línguas eram entendidas por judeus de várias partes do mundo, que estavam em Jerusalém para a festa, cada um ouvindo as maravilhas de Deus em seu próprio idioma (Atos 2:6-11). Este fenômeno inicial de falar em línguas teve um propósito evangelístico pois servia de sinal para os não crentes. Se desejar entender o ato de “falar em línguas” mais profundamente, sugerimos também a leitura deste outro post, onde falamos especificamente do dom de línguas: Dons Espirituais: Conheça a fundo os Dons de Inspiração ou Elocução.
A Expansão do Evangelho, do Pentecostes e dos Dons Espirituais na era Apostólica:
Após o Pentecostes, o livro de Atos documenta várias outras ocasiões em que os crentes receberam o batismo com o Espírito Santo. Em Atos 8:14-17, Pedro e João são enviados a Samaria para orar pelos novos convertidos para que recebessem o Espírito Santo. Este evento destaca a expansão do evangelho além de Jerusalém, cumprindo a promessa de Jesus em Atos 1:8.
A Casa de Cornélio: Quebrando Barreiras Culturais:
Em Atos 10, o Espírito Santo é derramado sobre os gentios na casa de Cornélio, um centurião romano. Pedro, enquanto pregava, vê os gentios falando em línguas e exaltando a Deus, uma confirmação de que o Espírito Santo havia sido concedido a eles da mesma maneira que aos apóstolos no Pentecostes (Atos 10:44-46). Este evento foi crucial para a igreja primitiva, pois confirmou que o batismo com o Espírito Santo não era limitado aos judeus, mas estava disponível para todos os povos.
Os Discípulos em Éfeso:
Em Atos 19:1-6, Paulo encontra alguns discípulos em Éfeso que não haviam ouvido falar do Espírito Santo. Após serem batizados em nome do Senhor Jesus, Paulo impõe as mãos sobre eles, e eles recebem o Espírito Santo, falando em línguas e profetizando. Este relato enfatiza a importância do ensino correto e da imposição de mãos para recepção do Espírito Santo.
Dons Espirituais nas Epístolas Paulinas e a Variedade destes Dons:
As epístolas paulinas fornecem uma teologia mais desenvolvida sobre os dons espirituais. Em 1 Coríntios 12-14, Paulo descreve uma variedade de dons dados pelo Espírito para o bem comum. Esses dons incluem sabedoria, conhecimento, fé, curas, milagres, profecia, discernimento de espíritos, línguas e interpretação de línguas (1 Coríntios 12:8-10). Cada um desses dons é distribuído conforme a vontade do Espírito, visando edificar a igreja.
Dons Espirituais em Romanos e Efésios:
Além de 1 Coríntios, Paulo também menciona dons espirituais em Romanos 12:6-8 e Efésios 4:11-13. Em Romanos, ele fala sobre dons como profecia, ministério, ensino, exortação, contribuição, liderança e misericórdia. Em Efésios, ele descreve os dons ministeriais de apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres, dados para equipar os santos para o trabalho do ministério e edificação do corpo de Cristo.
Desde o Pentecostes até as várias comunidades cristãs espalhadas pelo Império Romano, o Espírito Santo atuou de maneira poderosa, capacitando os crentes a testemunhar, edificar a igreja e viver uma vida cheia do poder de Deus. As experiências dos primeiros cristãos, conforme registradas no Novo Testamento, continuam a ser uma fonte de inspiração e orientação para os crentes até hoje.
O Batismo com o Espírito Santo e os Dons Espirituais na Época dos Pais da Igreja.
Os Pais da Igreja, líderes e teólogos cristãos dos primeiros séculos após os apóstolos, tiveram um papel fundamental na formação da doutrina e prática cristã. A continuidade do batismo com o Espírito Santo e dos dons espirituais foi um tema significativo durante este período, refletindo a importância desses fenômenos para a vida da igreja primitiva. É provável que os Pais da Igreja ainda tenham experimentado o batismo com o Espírito Santo e os Dons Espirituais já que alguns dos primeiros bispos e presbíteros denominados “Pais da Igreja” eram discípulos diretos dos Apóstolos originais, comissionados pelo próprio Jesus Cristo e estiveram presentes no dia de Pentecostes.
Embora não tenhamos tantas menções quanto gostaríamos em relação a este assunto em seus escritos, encontramos alguns textos que podem nos ajudar a entender o que eles pensavam ou conheciam em relação à manifestação do Batismo e dos Dons Espirituais em seu tempo.
Justino Mártir menciona os Dons Espirituais:
Justino Mártir (100 a 160 d.C.), um dos primeiros apologistas cristãos, escreveu sobre o Espírito Santo e os dons espirituais. Em seu “Diálogo com Trifão”, Justino menciona que os dons do Espírito ainda estavam presentes na igreja de seu tempo. Ele argumenta que os cristãos possuíam os mesmos dons espirituais que os apóstolos, incluindo profecia, curas e falar em línguas, como uma evidência contínua da presença e do poder do Espírito Santo:
“Porque os dons proféticos permanecem conosco até o presente momento” (Diálogo com Trifão, 39)
“Hoje é possível ver entre nós, mulheres e homens que possuem dons do Espírito de Deus” (Diálogo com Trifão, 88)
Hipólito de Roma também menciona os Dons Espirituais:
Hipólito (170 a 236 d.C.), ainda que de forma limitada, menciona os dons espirituais como se eles fossem importantes em sua época:
“Não é necessário que cada um dos fiéis expulse demônios, ou que ressuscite os mortos, ou que fale em línguas; mas um único dom concedido já é vantajoso para a salvação dos incrédulos” (Constituições dos Santos Apóstolos, Livro VIII, 1)
Irineu de Lyon menciona os Dons Espirituais presentes em seu tempo:
Irineu de Lyon (130 a 202 d.C.), em sua obra “Contra Heresias”, também testemunha a presença dos dons espirituais na igreja do segundo século. Ele relata que muitos em sua congregação exerciam dons como profecia, cura e falar em línguas, tendo atribuído esses fenômenos ao Espírito Santo, que continuava a operar entre os crentes. Irineu defendia que esses dons eram uma confirmação da verdadeira fé cristã e uma ferramenta para a edificação da igreja:
“Seus discípulos, recebendo graça dEle, realizam em Seu nome milagres, de modo a promover o bem-estar dos outros homens, de acordo com o dom que cada um recebeu dele. Pois alguns certamente expulsam verdadeiramente os demônios, e aqueles que foram assim purificados dos espíritos malignos frequentemente acreditam [em Cristo] e se juntam à Igreja. Outros têm presciência das coisas vindouras: eles vêem visões e expressões proféticas. Outros ainda, curam os doentes colocando as mãos sobre eles, e eles são totalmente curados. Sim, além disso, como eu disse, até mortos foram ressuscitados, e permaneceram entre nós por muitos anos. E o que mais devo dizer? Não é possível nomear o número dos dons que a Igreja, espalhada pelo mundo inteiro, recebeu de Deus, em nome de Jesus Cristo, que foi crucificado sob Pôncio Pilatos, e que ela exerce dia a dia em benefício dos gentios, não praticando engano contra ninguém, nem aceita qualquer recompensa por causa de tais intervenções milagrosas. Pois, como ela recebeu livremente de Deus, livremente também ministra [para outros]” (Contra Heresias, Livro II, 32:4)
“Da mesma forma, também ouvimos muitos irmãos na igreja que possuem dons proféticos, e que, através do Espírito, falam todos os tipos de línguas e trazem à luz para o bem comum as coisas escondidas dos homens e declaram os mistérios de Deus, que são também ‘espirituais’ como chama o apóstolo, porque participam do Espírito” (Contra as Heresias, Livro V, 6:1)
Tertuliano e sua experiência com os Dons Espirituais e as Línguas:
Tertuliano (160 a 220 d.C.), um dos primeiros teólogos latinos, foi um ardente defensor da continuidade dos dons espirituais. Em suas obras, Tertuliano descreve experiências de visões, profecias e falar em línguas em sua comunidade. Ele argumenta que esses dons eram um testemunho da operação contínua do Espírito Santo e um sinal da autenticidade da fé cristã.
Em seus escritos contra Marcião, Tertuliano condenou o movimento herético, comparando-o com os genuínos cristãos de seu tempo que possuíam dons espirituais:
“Deixe Marcião então exibir, como dons de seu deus, alguns profetas, que não falem pelo sentido humano, mas com o Espírito de Deus, e como previram as coisas vindouras e manifestaram os segredos do coração; deixe-o produzir um salmo, uma visão, uma oração – apenas deixe que seja guiado pelo Espírito, em êxtase, isto é, em um arrebatamento, sempre que uma interpretação de línguas lhe ocorrer; deixe-o mostrar-me também que qualquer mulher de linguagem altiva em sua comunidade já tenha profetizado entre as irmãs especialmente sagradas dele. Agora, todos esses sinais (de dons espirituais) se encontram do meu lado sem qualquer dificuldade, e eles concordam, também, com as regras, as dispensações e as instruções do Criador; portanto, sem dúvida, o Cristo, o Espírito e o apóstolo pertencem exclusivamente ao meu Deus” (Contra Marcião 5.8)
Orígenes também tem textos onde manifestações espirituais são abordadas:
Orígenes (185 a 273 d.C.), um dos mais influentes teólogos e estudiosos da igreja antiga, também reconheceu a operação dos dons espirituais. Em sua obra “Contra Celsus”, ele menciona que os cristãos de seu tempo ainda exerciam dons de cura e expulsão de demônios, atribuídos ao poder do Espírito Santo. Orígenes via esses dons como um meio pelo qual Deus demonstrava Sua presença e poder contínuos na igreja. Em uma das passagens de sua obra, ele narra uma crítica de Celso contra as línguas estranhas faladas pelos cristãos:
“A estas promessas, são acrescentadas palavras estranhas, fanáticas e completamente ininteligíveis, das quais nenhuma pessoa racional poderia encontrar o significado, porque elas são tão obscuras, que não têm um significado em seu todo.” (Contra Celso, Livro VII, 9)
Esta citação em questão é uma crítica de Celso registrada por Orígenes em sua obra “Contra Celso”. Celso criticava a natureza aparentemente irracional e obscura de certas práticas cristãs, como o falar em línguas. Orígenes, por sua vez, inclui essa crítica em sua obra apologética para refutá-la e defender a validade dessas práticas dentro da fé cristã. Muitas vezes esta citação é atribuída ao próprio Orígenes como se ele estivesse negando o Dom de Línguas e fazendo uma crítica sobre as línguas, no entanto, basta ler o contexto para perceber que esta é uma fala de Celso e não de Orígenes.
Declínio, Persistência e a Mudança de Ênfase:
Com o tempo, houve uma mudança na ênfase da prática dos dons espirituais na igreja. À medida que a igreja se institucionalizava e se tornava mais estruturada, a manifestação dos dons espirituais começou a ser menos comum e menos enfatizada.
O próprio Orígenes, por volta do século III, já menciona que este operar do Espírito Santo estava ficando cada vez mais raro:
“O Espírito Santo deu sinais de Sua presença no início do ministério de Cristo, e após Sua ascensão Ele deu ainda mais; mas desde então esses sinais diminuíram, embora ainda haja vestígios de Sua presença em alguns que tiveram suas almas purificadas pelo Evangelho e suas ações reguladas por sua influência.” (Contra Celso, Livro VII, 8)
Assim, depois do quarto século, praticamente não se ouve mais falar de Batismo com Espírito Santo ou da manifestação dos dons espirituais.
Apesar do declínio geral na prática visível dos dons espirituais, ainda encontramos registros de sua persistência em vários contextos ao longo da história da igreja mesmo após o quarto século. Escritos de figuras como Agostinho de Hipona sugerem que, embora menos frequentes, experiências carismáticas e dons espirituais ainda ocorriam. Agostinho inicialmente acreditava que os dons espirituais haviam cessado, mas mais tarde em sua vida, ele reconheceu relatos de milagres e curas em sua comunidade.
O Batismo com o Espírito Santo e os Dons do Espírito na Época Medieval.
Encontrar referências ao Batismo com o Espírito Santo e aos dons espirituais na época medieval é uma tarefa um pouco complexa. Embora os primeiros cristãos tenham tido um começo realmente marcado pela presença de Deus, sabemos que, com o tempo, problemas já existentes acabaram por tirar o foco do verdadeiro Evangelho. Dogmas católicos foram inseridos, alianças estatais foram estabelecidas, e o pecado e a corrupção — que não precisamos detalhar aqui — foram removendo o brilho e as manifestações espirituais de dentro da Igreja.
Existem alguns registros de que Pacômio, um monge cristão do século IV e fundador do cenobitismo (vida monástica comunitária), falava em grego e latim sem nunca ter estudado essas línguas. Isso foi atribuído ao Espírito Santo.
Agostinho de Hipona (354 a 430 d.C.), em “Cidade de Deus”, expressa uma visão mais reservada sobre os dons espirituais e parece reconhecer que tais manifestações eram mais comuns nos tempos apostólicos e menos frequentes em sua época:
“Por que, então, esses milagres, que você afirma serem realizados hoje em dia? Eu mesmo, quando era jovem, conheci um homem cego que foi curado em Milão, junto ao corpo dos santos mártires. Mas esses milagres, mesmo sendo realizados com menos frequência do que naqueles dias, não nos permitem duvidar de que o mesmo Espírito está operando também em nossos tempos.”
No entanto, existe uma referência onde ele parece defender a prática da imposição de mãos para recebimento do Batismo com o Espírito Santo:
“Fazemos ainda o que os apóstolos realizavam quando impuseram as mãos sobre os samaritanos e rogaram o batismo com o Espírito Santo. Esperamos que os convertidos falem novas línguas” (OLIVEIRA, 2009, p. 24).
Portanto, o que podemos concluir sobre este período da história da Igreja é que foi um período de institucionalização e formalização da teologia cristã e do Catolicismo Romano, com menos ênfase nos dons espirituais carismáticos. No entanto, acreditamos que experiências espirituais e outras manifestações do Espírito Santo certamente continuaram a ocorrer em contextos específicos.
Podemos supor que movimentos dissidentes e reformistas podem ter mantido viva a chama do fervor espiritual e dos dons carismáticos, preparando o terreno para um renascimento dessas práticas nos séculos subsequentes.
O Batismo com o Espírito Santo e os Dons Espirituais antes e durante a Reforma Protestante.
Durante os períodos pré-reformista e reformista, que abrangem principalmente os séculos XIV ao XVII, houve um ressurgimento significativo do interesse e da prática dos Dons Espirituais e do Batismo com o Espírito Santo.
A Reforma Protestante, liderada por figuras como Martinho Lutero e João Calvino, marcou uma mudança radical na teologia e na prática cristã, incluindo uma nova ênfase em algumas áreas relacionadas aos Dons do Espírito Santo.
Movimentos Dissidentes:
Valdenses (século XII), fundados por Pedro Valdo, enfatizavam a simplicidade evangélica e, em alguns casos, manifestações espirituais, como profecia e curas.
Segundo uma pesquisa feita pelo jornalista norte-americano John Sherrill, antes de aceitar o pentecostalismo, publicada sob o título: “They Speak in Other Tangues” os primeiros valdenses falavam em línguas estranhas manifestando os dons carismáticos de maneira semelhante aos pentecostais modernos.
Gerônimo Savonarola (1452-1498 d) um frade dominicano e pregador italiano que se destacou por suas críticas à corrupção na Igreja e à Imoralidade da sociedade de sua época, foi excomungado e executado em 1498 pela Igreja Católica Romana.
Embora não existam muitos registros sobre sua vida, Savonarola, aparentemente tinha dons de profecia e visões. Seus seguidores muitas vezes atribuíram suas previsões e mensagens a uma inspiração divina.
Ele fez várias profecias sobre a destruição de Roma e a queda dos Medici, algumas das quais foram interpretadas por seus apoiadores como sinais de seu envolvimento com o Espírito Santo.
João Wycliffe (1320-1384 d.C.), precursor da Reforma, desafiou a autoridade papal e a corrupção na Igreja. Embora seu foco principal não fosse os dons espirituais, ele preparou o caminho para questionamentos mais profundos sobre a prática e a espiritualidade cristã.
João Hus (1369-1415 d.C.), influenciado por Wycliffe, também desafiou a autoridade da Igreja Católica e destacou a importância de uma vida cristã autêntica, o que incluía a busca pela pureza espiritual.
Reforma Protestante:
Martinho Lutero (1483-1546 d.C.) enfatizou a justificação pela fé e os sacramentos do Batismo e da Eucaristia. Ele não focou diretamente no batismo com o Espírito Santo como uma experiência distinta.
Lutero reconhecia a operação dos dons espirituais, mas via muitos deles como cessados ou menos comuns na era moderna. Ele acreditava que Deus ainda podia operar milagres, mas que eles não eram a norma.
Existem referências do século 19, escritas pelo respeitável historiador T. L. Souer onde ele afirma que Lutero falava em línguas estranhas, profetizava e também interpretava as línguas. Esta informação pode ser encontrada nas obras “História da Igreja Alemã”, do historiador (vol. 3, p. 406), e também no livro “Pentecostes para os Dias de Hoje”, do escritor Emílio Conde (apud 1985, p. 88, Op. Cit., p. 38).
Também encontramos depoimentos e estudos do Doutor Jack Deer, eminente professor e historiador batista, do Seminário Teológico de Dallas que corroboram com esta ideia de Lutero possuir dons semelhantes aos pentecostais do nosso tempo.
Os anabatistas (1525 d.C.), um grupo radical dentro da Reforma, enfatizavam a experiência pessoal do Espírito Santo e, em alguns casos, relatavam manifestações dos dons espirituais, incluindo profecia e curas. (Op. Cit., p. 38).
Menno Simons (1496-1561 d.C.), líder anabatista, acreditava na experiência direta do Espírito Santo e na importância de uma vida cristã piedosa.
Existem também registros de que alguns Huguenotes (1560-1650 d.C) mesmo seguindo a tradição reformada de João Calvino, afirmavam falar em línguas estranhas (BODDy apud GILBERTO, 2006, p. 38).
Ao escrever sobre o avivamento entre os Huguenotes o Reverendo Anglicano A. A. Boddy confirma a existência do Dom de Línguas entre eles:
“Quando Luiz XIV da França, e, 1685 revogou o Edito de Nantes, no qual havia dado liberdade religiosa, esforçou-se por levar protestantes de volta a Igreja Católica Romana. Os Huguenotes eram guiados por João Cavalier a inacessíveis montanhas. Entre esta gente perseguida havia os que falavam em línguas.”
Relatos de dons carismáticos, línguas estranhas e outras manifestações espirituais também são mencionadas no meio dos Quakers (1647-1650 d.C), ou Sociedade dos Amigos, que foram fundados por George Fox na Inglaterra.
Segundo relatos de W. C. Braithwait, ao se referir as primeiras reuniões, ele as descreve da seguinte maneira:
“Esperando no Senhor, recebemos com frequência o derramamento do Espírito sobre nós e falamos em novas línguas”.
Também encontramos registros de Batismo com Espirito Santo e Dons Espirituais entre os Pietistas (1666 a.C.), um movimento de renovação dentro do luteranismo que surgiu na Alemanha. Os Pietistas enfatizavam a necessidade de uma experiência pessoal e íntima com Deus.
No livro The Pilgrim Church, na página 468, o historiador Edmund Hamer Broadbent (1861-1945) menciona a ação do Dom de Línguas no culto pietista:
“Um estranho êxtase espiritual vinha sobre alguns ou sobre todos, e começavam a falar em línguas. De quando em quando essas manifestações se repetiam. A muitos deles, estas coisas pareciam mostrar que, agora, eram um só coração e uma só alma no Senhor”.
Também encontramos evidências de Batismo com Espirito Santo e Dons Espirituais no meio dos Shakers (1774-1771 d.C), um grupo fundado por Ann Lee. Eles emergiram a partir de um grupo Quaker e são conhecidos por suas práticas comunitárias e celibatárias.
Os Shakers acreditavam em vários dons espirituais, incluindo a cura, profecia, discernimento dos espíritos e línguas estranhas. Mantinham uma forte ênfase na vida comunitária e na busca de uma vida espiritual profunda. (Op. Cit., p. 38).
Conclusão:
A trajetória do Batismo com o Espírito Santo e dos Dons Espirituais, desde os tempos apostólicos até os reformadores, mostra uma continuidade e transformação significativa na história da igreja. Os primeiros cristãos, guiados por líderes como Paulo, viam os dons espirituais como ferramentas essenciais para a edificação da igreja e a propagação do evangelho. Mesmo com menos registros no período dos Pais da Igreja, figuras como Justino Mártir, Irineu de Lyon e Tertuliano relataram a continuidade desses dons, apesar dos debates sobre sua permanência após a era apostólica.
Ainda conseguimos encontrar registros dessas manifestações durante a Idade Média e também durante os períodos pré-reformista e reformista, testemunhando a constante e poderosa obra do Espírito na igreja ao longo dos séculos.
Todos estes servos de Deus, movimentos e grupos de cristãos que foram mencionados até aqui experimentaram algo muito parecido com aquilo que aconteceu em Pentecostes com os primeiros discípulos, ainda que não o tenham vivido em sua totalidade. Por conta disso, podemos concluir que aquele mesmo Espírito que operou em Pentecostes continuou acessível durante todos estes períodos históricos da Igreja de Cristo.