As Setenta Semanas de Daniel e a Cronologia do Fim dos Tempos.

A profecia das “Setenta Semanas de Daniel” é um ótimo ponto de partida para começarmos a estudar a Escatologia Bíblica, pois este impressionante conjunto de profecias nos apresenta uma surpreendente cronologia do fim dos tempos.

A visão das Setenta Semanas foi dada ao profeta Daniel durante o cativeiro babilônico. Ele orava em arrependimento pelos pecados de Israel e buscava entendimento sobre o fim do exílio. Em resposta, o anjo Gabriel lhe apresentou uma cronologia divina de eventos que culminariam no advento do Messias e no estabelecimento da justiça eterna.

Essa profecia está registrada em Daniel 9:24-27 e abrange uma série de acontecimentos importantes na história de Israel e do mundo, culminando no fim dos tempos. Interpretar corretamente essa passagem exige atenção a detalhes cronológicos e simbólicos, além de uma análise comparativa com outras profecias bíblicas, como as encontradas nos livros de Apocalipse e Mateus 24.

O texto principal da profecia das Setenta Semanas compreende 4 versículos do livro de Daniel e nos diz o seguinte:

Daniel 9:24-27

24 “Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade, para fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, para expiar a iniquidade, para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia e para ungir o Santo dos Santos.

25 Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Ungido, ao Príncipe, sete semanas e sessenta e duas semanas; as praças e as circunvalações se reedificarão, mas em tempos angustiosos.

26 Depois das sessenta e duas semanas, será morto o Ungido e já não estará; e o povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será num dilúvio, e até ao fim haverá guerra; desolações são determinadas.

27 Ele fará firme aliança com muitos por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; sobre a asa das abominações virá o assolador, até que a destruição, que está determinada, se derrame sobre ele.”

Vários grupos cristãos possuem visões um pouco diferentes em relação ao tempo e o cumprimento das profecias das Setenta Semanas de Daniel. Sabemos que nem sempre é fácil compreendermos uma profecia por completo até que ela se cumpra, no entanto, procuraremos trazer um estudo bíblico completo sobre este tema, com base nas Escrituras Sagradas e em outras informações históricas que nos parecem se encaixar com as profecias de Daniel 9:24-27.

 

Por que a Profecia das Setenta semanas foi entregue ao Profeta Daniel?

Por que a Profecia das Setenta semanas foi entregue ao Profeta Daniel

Antes de começarmos a estudar a fundo o conteúdo da Profecia das Setenta Semanas, precisamos entender porque Daniel recebeu diretamente de um anjo esta profecia:

Daniel recebeu a profecia das Setenta Semanas em resposta a uma oração intensa que ele fez a Deus, buscando entendimento sobre o futuro de Jerusalém e do povo de Israel. O contexto em que Daniel recebe essa revelação está ligado a uma série de fatores históricos, espirituais e proféticos que apontam para o papel central de Israel no plano redentor de Deus.

No início do capítulo 9 de Daniel, ele está estudando as profecias de Jeremias, que falavam sobre os 70 anos de cativeiro babilônico (Jeremias 25:11-12). Daniel entende que segundo os textos do Profeta Jeremias, esse período estava chegando ao fim e, movido por isso, começa a orar fervorosamente, confessando os pecados de Israel e intercedendo pela restauração de Jerusalém.

O Contexto de Jeremias 25:11-12.

Em Jeremias 25:11-12, Deus havia declarado que o povo de Judá e Jerusalém seria levado cativo à Babilônia por 70 anos, após os quais Babilônia seria julgada:

“Toda esta terra será desolação e espanto; e estas nações servirão ao rei da Babilônia setenta anos. Acontecerá, porém, que, quando se cumprirem os setenta anos, castigarei o rei da Babilônia e essa nação, diz o Senhor, por causa de sua iniquidade, e a terra dos caldeus; farei dela desolações perpétuas.” (Jeremias 25:11-12)

Essa profecia previa o exílio babilônico de 70 anos, que começou com a invasão da Babilônia em 605 a.C. e terminou com o decreto de Ciro, permitindo o retorno dos judeus a Jerusalém em 538 a.C..

O povo de Israel estava no exílio na Babilônia, como punição por seus pecados e sua infidelidade à aliança com Deus. Daniel, ao entender o fim do cativeiro, busca orientação sobre o que acontecerá com Jerusalém e o povo de Israel após o término desse período.

Daniel não apenas faz pedidos a Deus, mas também confessa os pecados do povo. Ele reconhece que a desobediência de Israel foi a causa da destruição de Jerusalém e do Templo, e roga pela misericórdia e perdão divino (Daniel 9:3-19).

Em resposta à oração de Daniel, o anjo Gabriel é enviado para dar a ele entendimento sobre o futuro de Israel e de Jerusalém, mostrando que o plano de Deus vai muito além dos 70 anos de cativeiro. O que Daniel recebe é uma visão ampla do plano divino para Israel e para a redenção do mundo, incluindo a chegada do Messias e os eventos finais.

A revelação das Setenta Semanas é uma extensão da profecia de Jeremias. Ela indica que, mesmo após o término do cativeiro babilônico, Israel enfrentaria um período muito mais longo até que o plano completo de Deus fosse realizado.

Um ponto muito importante que podemos afirmar ser uma das principais chaves para a interpretação desta profecia é o fato de no texto termos a clara indicação de que a Profecia das Setenta Semanas se refere exclusivamente ao povo de Israel e sua santa Cidade. Este importante detalhe já exclui várias interpretações modernas sobre o cumprimento desta profecia. Daniel está buscando respostas em relação ao seu povo e a sua santa cidade. Esta profecia não menciona a Igreja, os gentios, ou qualquer outro povo ou cidade que não pertença ao povo de Daniel. Portanto, qualquer interpretação que venha a afirmar que a Igreja de Cristo ou povos não judeus estão incluídos nela, não poderia estar correta. Entenderemos melhor isso mais a frente neste estudo quando formos conectar esta profecia a outros textos bíblicos.

 

Por que as Setenta Semanas de Daniel são semanas de anos e não de dias?

Por que as Setenta Semanas de Daniel são semanas de anos e não de dias?

Muitas pessoas tem dificuldade de entender a Profecia das Setenta Semanas de Daniel porque ela exige atenção a certos detalhes históricos, um pequeno cálculo matemático e também pensarmos em semanas de anos e não de dias. Vamos entender isso melhor:

O livro de Daniel fala de semanas de anos?

A resposta para esta pergunta é não!

Mas então por que a maioria dos estudiosos da escatologia interpreta a profecia das Setenta Semanas como sendo semanas de anos e não de dias?

Essa interpretação é baseada em princípios bíblicos e proféticos que fazem uso de dias simbólicos para representar anos. A ideia de que as “semanas” mencionadas na profecia representam semanas de anos (ou seja, cada semana seria equivalente a sete anos) é amplamente aceita na interpretação da escatologia pelos seguintes motivos óbvios:

Períodos de semanas de anos eram bem comuns para os israelitas e são mencionados na Bíblia em várias passagens.

A ideia de semanas de anos não só existe em outras passagens bíblicas como também é bem conhecida e usada pelos judeus.

Além das Setenta Semanas de Daniel, referindo-se a períodos em que uma “semana” equivale a sete anos. Aqui estão alguns exemplos com suas referências:

Gênesis 29:27-28.

Neste texto, encontramos o conceito de uma semana relacionada a anos no contexto da história de Jacó, Raquel e Lia:

“Cumpre a semana desta; então te daremos também a outra, pelo trabalho de mais sete anos que ainda servirás comigo. E Jacó assim fez, cumpriu a semana de Lia; então Labão lhe deu por mulher Raquel, sua filha.” (Gênesis 29:27-28, ARA)

Jacó havia servido a Labão por sete anos para casar com Raquel, mas foi enganado e recebeu Lia. Labão então instrui Jacó a “cumprir a semana” de Lia, ou seja, celebrar os sete dias da festa de casamento, e depois servir mais sete anos por Raquel. Aqui, o “cumprir a semana” é uma referência ao serviço de sete anos que ele deveria completar por Raquel.

Levítico 25:1-7.

Aqui, o conceito de “semanas de anos” é a base para o ano sabático:

“Disse o Senhor a Moisés no monte Sinai: Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Quando entrardes na terra que vos dou, então a terra guardará um sábado ao Senhor. Seis anos semearás a tua terra e seis anos podarás a tua vinha e colherás os seus frutos. Porém, no sétimo ano, haverá sábado de descanso solene para a terra, um sábado ao Senhor; não semearás o teu campo, nem podarás a tua vinha. O que nascer de si mesmo da tua sega não ceifarás, e as uvas da tua vinha não podada não colherás; ano de descanso solene será para a terra. Mas os frutos do sábado da terra vos serão por alimento: a ti, ao teu servo, à tua serva, ao teu jornaleiro, e ao estrangeiro que peregrina contigo; e ao teu gado, e aos animais que estão na tua terra, todos os seus produtos servirão de alimento.” (Levítico 25:1-7, ARA)

Este texto fala sobre um ciclo de seis anos de trabalho na terra, seguidos de um ano de descanso no sétimo ano, o que é uma aplicação de uma “semana de anos”. O ciclo sabático é contado da mesma forma que as “semanas” de anos, onde cada período de sete anos forma uma unidade completa.

Levítico 25:8-10.

Aqui temos a instrução sobre o Jubileu, que também segue a contagem de semanas de anos:

“Contarás sete semanas de anos, sete vezes sete anos, de maneira que os dias das sete semanas de anos te serão quarenta e nove anos. Então, no décimo dia do sétimo mês, no Dia da Expiação, farás passar a trombeta por toda a vossa terra. Santificareis o ano quinquagésimo e proclamareis liberdade na terra a todos os seus moradores; ano de jubileu vos será, e tornareis cada um à sua possessão, e cada um à sua família.” (Levítico 25:8-10, ARA)

Este é o estabelecimento do Ano do Jubileu, que ocorre após sete ciclos de sete anos, ou seja, 49 anos. O 50º ano era um ano especial de liberdade e restauração para o povo de Israel, em que propriedades voltavam aos seus donos originais e servos eram libertados. Novamente, vemos aqui a contagem de “semanas de anos”, onde uma semana equivale a sete anos.

Números 14:34.

Deus usa o conceito de anos por dias, similar ao conceito de semanas de anos, ao anunciar o castigo de Israel pela sua desobediência:

“Segundo o número dos dias em que espiastes a terra, quarenta dias, cada dia representando um ano, levareis sobre vós as vossas iniquidades quarenta anos e tereis experiência do meu desagrado.” (Números 14:34, ARA)

Depois que os espias retornaram com um relatório negativo sobre a Terra Prometida, levando o povo a duvidar de Deus, o Senhor decretou que os israelitas vagariam no deserto por quarenta anos, correspondendo aos quarenta dias em que espiaram a terra. Este princípio de “um dia representando um ano” reflete o conceito que também é aplicado nas Setenta Semanas de Daniel.

Ezequiel 4:4-6.

Aqui, Deus instrui o profeta Ezequiel a simbolizar o castigo de Israel e Judá, usando dias como representação de anos:

“Deita-te também sobre o teu lado esquerdo e põe sobre ele a iniquidade da casa de Israel; conforme o número dos dias que te deitares sobre ele, levarás sobre ti a iniquidade dela. Porque eu te dei os anos da sua iniquidade segundo o número dos dias, trezentos e noventa dias; assim, levarás sobre ti a iniquidade da casa de Israel. Quando cumprires estes, deitar-te-ás sobre o teu lado direito e levarás sobre ti a iniquidade da casa de Judá; quarenta dias te dei, cada dia por um ano.” (Ezequiel 4:4-6, ARA)

Deus ordena que Ezequiel simbolicamente “carregue” a iniquidade de Israel e Judá, deitando-se sobre o seu lado por um número específico de dias, onde cada dia representa um ano de castigo que as duas nações sofreriam. Aqui, a ideia de dias simbolizando anos é explicitamente estabelecida.

É também com base em todos estes textos bíblicos que podemos concluir que seria bem coerente o anjo Gabriel saber que Daniel compreenderia as semanas como semanas de anos e não de dias.

O significado da palavra hebraica usada não se refere a dias, mas sim a períodos de tempos mais longos.

A palavra hebraica usada em Daniel 9:24-27 é שָׁבוּעַ” (shavuá), que literalmente significa “período de sete” ou “setes”. Em seu contexto, não se refere diretamente a dias, mas a um grupo de sete unidades de tempo mais longas, se encaixando melhor períodos de anos.

Semanas de dias não caberiam na interpretação desta profecia.

Outro motivo obvio para afirmarmos que as semanas são de anos é não de dias é que se fossemos considerar que eram dias e não anos, absolutamente nada desta profecia poderia ou teria se cumprido em tão pouco tempo, sequer Jerusalém teria sido reconstruída e o restante da profecia não poderia se encaixar com nenhum acontecimento histórico ocorrido, pois aí teriamos um período de 490 dias, pouco mais de um ano.

 

Entendendo a Profecia das Setenta Semanas de Daniel.

Entendendo a Profecia das Setenta Semanas de Daniel.

Para que possamos entender melhor essa profecia, vamos fazer uma interpretação literal e clara dela usando os textos bíblicos, analisando-a versículo por versículo, considerando os seus pontos chave.

Qual o objetivo das Setenta Semanas?

Toda profecia bíblica tem um objetivo, e no caso da Profecia das Setenta Semanas este objetivo está registrado logo no início. Em Daniel 9:24 temos estes objetivos listados:

24 “Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade, para fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, para expiar a iniquidade, para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia e para ungir o Santo dos Santos.

Então, por este pequeno bloco de texto sabemos o seguinte:

Viria a seguir um período de “Setenta Semanas de Anos,” que equivalem a setenta “período de sete anos.” Em uma representação numérica simples ficaria assim: 70 x 7 anos = 490 anos.

Ou seja: O que o Anjo Gabriel realmente disse ao Profeta Daniel é que este período seria de 490 anos após seu início.

Mas o que aconteceria dentro deste período de 490 anos de tão importante a ponto de Gabriel vir anunciar isso ao profeta Daniel pessoalmente?

O texto diz neste mesmo versículo que durante este período de tempo os seguintes objetivos listados seriam cumpridos:

  1. A transgressão iria cessar.
  2. Os pecados teriam fim.
  3. Toda a iniquidade seria expiada, ou paga.
  4. A justiça eterna chegaria.
  5. A profecia seria selada, ou totalmente cumprida.
  6. O Santo dos Santos seria ungido.

Quando as Setenta Semanas começariam?

A resposta para esta pergunta também se encontra dentro do próprio texto da profecia. Logo no versículo 25 de Daniel o anjo Gabriel define este começo:

25 Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Ungido, ao Príncipe, sete semanas e sessenta e duas semanas; as praças e as circunvalações se reedificarão, mas em tempos angustiosos.

Então, segundo este texto profético as Setenta Semanas começam com um decreto expedido que determina a reconstrução de Jerusalém. Nos registros históricos e também na Bíblia temos 4 decretos posteriores a data na qual Daniel recebeu essa profecia, são eles:

1. O decreto de Ciro, o Grande (538 a.C. – Esdras 1:1-4)

Este foi o primeiro decreto, emitido por Ciro, o Grande da Pérsia, permitindo que os judeus voltassem do exílio babilônico e reconstruíssem o Templo em Jerusalém.

2. O Decreto de Dario I (520 a.C. – Esdras 6:1-12)

Este foi um decreto de Dario I que reafirma o decreto de Ciro, após as obras do Templo terem sido interrompidas. Dario ordena que a reconstrução do Templo seja retomada.

3. O Decreto de Artaxerxes I a Esdras (457 a.C. – Esdras 7:11-26)

O rei Artaxerxes I emite um decreto que permite a Esdras retornar a Jerusalém com um grupo de exilados, para implementar a Lei de Deus e restaurar a vida religiosa e social em Jerusalém.

4. O Decreto de Artaxerxes I a Neemias (445 a.C. – Neemias 2:1-8)

O rei Artaxerxes I, em outro momento, concede a Neemias permissão para voltar a Jerusalém e reconstruir as muralhas da cidade, que estavam em ruínas. Neemias é nomeado governador e supervisiona a reconstrução das defesas da cidade.

Entre todos estes decretos, a maioria dos estudiosos acredita que o decreto de Artaxerxes I a Esdras (457 a.C.) é o mais adequado para iniciar a contagem das Setenta Semanas, porque além de autorizar o retorno dos exilados, também se refere à reestruturação da vida civil e religiosa em Jerusalém. Ele aborda a cidade como um todo, o que encaixa melhor com a descrição de “restaurar e edificar Jerusalém” em Daniel 9:25.

Se contarmos 483 anos (69 semanas de anos) a partir de 457 a.C., isso nos leva aproximadamente ao ano 27 d.C., que coincide com o início do ministério público de Jesus Cristo, o que parece corroborar a ideia de que o “Ungido” é o Messias que seria revelado ao fim das 69 semanas.

Decretos do inicio das setenta semanas de Daniel

A divisão das Setenta Semanas.

No versículo 25 de Daniel também é mencionada uma divisão de períodos dentro das Setenta Semanas, pois ele afirma que: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Ungido, ao Príncipe, sete semanas e sessenta e duas semanas; as praças e as circunvalações se reedificarão, mas em tempos angustiosos.” Isso significa que o período de 490 anos seria dividido da seguinte forma:

1. Primeiro Período: Sete Semanas (49 anos)
Gabriel revelou que, a partir do decreto para reconstruir Jerusalém, haveria sete semanas (49 anos). Esse período provavelmente começou com o decreto de Artaxerxes em 457 a.C., conforme descrito em Esdras 7:11-26. Esse tempo marca a restauração e reconstrução da cidade e do templo.

2. Segundo Período: Sessenta e Duas Semanas (434 anos)
Após o período de sete semanas, segue-se um período de 62 semanas (434 anos). Esse período vai da reconstrução de Jerusalém até o aparecimento do Messias, o Príncipe. Ao final dessas 62 semanas, o Messias seria “cortado”, uma clara referência à crucificação de Jesus Cristo. Somando-se as sete e sessenta e duas semanas, temos um total de 69 semanas, ou 483 anos, que culminam com a morte de Cristo, por volta do ano 30 d.C..

3. Terceiro Período: Uma Semana (7 anos)
Após as 69 semanas, resta uma última semana, que muitos estudiosos entendem como os sete anos finais da história humana antes do estabelecimento do reino messiânico. Essa última semana é, muitas vezes, associada ao período da Grande Tribulação, descrito em Apocalipse.

Se fossemos interpretar a profecia de modo literal, sem colocarmos a última semana como algo que ainda vai acontecer no futuro, teremos exatamente o que está representado na figura a seguir:

Grafico da Profecia das etenta Semanas de Daniel literal preterista

 

Todas as Setenta Semanas de Daniel já se cumpriram no passado ou falta uma samana?

Todas as Setenta Semanas de Daniel já se cumpriram no passado ou falta uma semana?

A maioria dos teólogos e estudiosos da Escatologia acredita que apenas 69 semanas da profecia das Setenta Semanas de Daniel se cumpriu, faltando ainda a última semana.

De acordo com Daniel 9:26-27, entre as 69 semanas e a última semana, aconteceria um evento crucial: o Messias seria cortado (morto) e a cidade de Jerusalém seria destruída, o que realmente ocorreu no ano 70 d.C. com a destruição do Templo de Herodes pelas tropas romanas sob o comando de Tito.

“26 Depois das sessenta e duas semanas, será morto o Ungido e já não estará; e o povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será num dilúvio, e até ao fim haverá guerra; desolações são determinadas.”

Contudo, a maioria dos estudiosos da escatologia acredita que essa última semana será marcada pelo surgimento de um pacto entre o Anticristo e Israel, mas que, após três anos e meio (metade da semana), o pacto será rompido e começará um período de intensa perseguição, conhecido como a Grande Tribulação. Por conta disso não ter acontecido no passado, nem mesmo após a morte de Jesus Cristo é que a ideia do cumprimento completo desta profecia é descartado.

“27 Ele fará firme aliança com muitos por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; sobre a asa das abominações virá o assolador, até que a destruição, que está determinada, se derrame sobre ele.”

Este trecho do versículo 27 de Daniel se parece muito com o que sabemos sobre o reinado do Anticristo, de como ela governará por sete anos, mas no meio deste governo quebrará o acordo de paz revelando quem ele realmente é para perseguir os santos.

Jesus menciona esse evento em Mateus 24:15, advertindo sobre os dias de intensa angústia que se seguirão. Esse evento marca o início do Grande Dia da Ira de Deus, conforme descrito no Apocalipse 6-19.

Este trecho não foi cumprido pelo General Tito, ou por nenhuma outra personalidade histórica dos tempos de Jesus, deixando na compreensão de muitos a certeza de que ainda faltam acontecimentos para que esta profecia seja então considerada concluída.

Os objetivos da profecia das Setenta Semanas também não se cumpriram no passado.

Outro argumento muito importante que nos mostra que as Setenta Semanas não se cumpriram por completo é o fato de os objetivos da profecia também não terem acontecido: 1.Extinguir a transgressão, 2.Dar fim aos pecados, 3.Expiar a iniquidade, 4.Trazer a justiça eterna, 5.Selar a visão e a profecia, 6.Ungir o Santo dos Santos.

1. Extinguir a transgressão

Este objetivo pode ser entendido em dois sentidos. No sentido espiritual, a morte de Cristo trouxe uma provisão para o perdão dos pecados e o fim do domínio da transgressão sobre a humanidade. No entanto, o mundo ainda continua sob a presença do pecado e da transgressão. Isso sugere que esse aspecto foi iniciado, mas seu cumprimento final ainda está no futuro, ligado à consumação dos tempos.

2. Dar fim aos pecados

De maneira semelhante ao primeiro ponto, a morte de Cristo foi a oferta sacrificial que permite a remissão dos pecados, mas o “fim” total dos pecados ainda não ocorreu. Isso será plenamente realizado apenas no futuro, quando o pecado será completamente removido com a restauração final na segunda vinda de Cristo (Apocalipse 21:27).

3. Expiar a iniquidade

Este aspecto pode ser considerado como cumprido na cruz. A expiação pelos pecados foi realizada de forma definitiva por Jesus, que “foi entregue por causa das nossas transgressões” (Romanos 4:25). Portanto, neste sentido, a profecia foi cumprida.

4. Trazer a justiça eterna

A justiça eterna também é algo que Jesus introduziu através de sua obra redentora. No entanto, a plena manifestação dessa justiça será realizada no Reino vindouro, quando Cristo estabelecer sua justiça de forma completa sobre toda a criação. Portanto, isso também foi iniciado, mas o cumprimento final aguarda o futuro.

5. Selar a visão e a profecia

Selar uma visão ou profecia significa confirmar e dar validade ao que foi predito. Muitas das profecias messiânicas se cumpriram na primeira vinda de Cristo, especialmente aquelas relacionadas ao sofrimento do Messias. Contudo, outras visões e profecias, especialmente relacionadas ao fim dos tempos, ainda aguardam seu cumprimento. Isso sugere que esse propósito ainda está em andamento.

6. Ungir o Santo dos Santos

Este termo é interpretado de várias maneiras. Alguns estudiosos acreditam que ele se refere à consagração final do Templo celestial ou ao próprio Messias (Jesus) sendo ungido para o seu papel de Rei e Sacerdote. Embora a unção do Santo dos Santos no céu possa ter acontecido com a ascensão de Cristo, a plena manifestação disso ainda aguarda o estabelecimento do reino final de Deus na terra.

Embora alguns desses propósitos tenham sido cumpridos ou iniciados no tempo descrito pela profecia (até 34 d.C.), outros claramente não foram completados. Isso sugere que o cumprimento pleno das Setenta Semanas de Daniel tem uma dimensão futura, especialmente relacionada com a segunda vinda de Cristo e o estabelecimento do Reino de Deus.

Mas então, o que ocorreu para interromper as Setenta Semanas e empurrar a última semana apenas para o futuro?

Muitos acreditam que a “Era da Igreja” foi o evento responsável por isso.

Portanto, se formos representar as Setenta Semanas de Daniel usando como base uma interpretação futurista, precisamo inserir a igreja nesta equação, como um período de tempo indeterminado entre a semana 69 e a última semana. Neste caso teríamos algo muito aproximado do que está representado na figura a seguir:

Gráfico das Setenta Semanas de Daniel interpretação futurista

 

A Era da Igreja, o Tempo dos Gentios, a Dispensação da Graça e a última semana de Daniel.

A Era da Igreja o Tempo dos Gentios a Dispensação da Graça e a última semana de Daniel.

Muitos entendem que a última semana da profecia das Setenta Semanas de Daniel também não aconteceu no passado, porque Jesus mudou de alguma forma o seu cumprimento quando inseriu a sua Igreja no meio do plano divino.

A Profecia das Setenta Semanas fala exclusivamente do povo de Israel e isso está claro no texto quando afirma que “Setenta semanas estão determinadas sob o teu povo e a tua santa cidade.” Nós sabemos que o povo de Daniel eram os Israelitas e a sua santa cidade mencionada era Jerusalém, logo, gentios, ou não judeus não entram nesta profecia.

Após Jesus pregar e morrer na cruz, teve início a “Era da Igreja.” A Igreja de Cristo surge como um “novo ramo da videira” que não pode participar dos juízos determinados para Israel. Por causa disso, a maioria dos teólogos dispensacionalistas acredita que ocorreu um hiato, ou espaço de tempo indeterminado na história para que os povos gentios não só sejam salvos mas também sejam provados por Deus e tenham a oportunidade de aceitar o reino vindouro.

Oficialmente, é aceito que a “Era da Igreja” é o período iniciado no Pentecostes (Atos 2), quando o Espírito Santo foi derramado sobre os crentes, dando início à Igreja cristã, e continua até os dias de hoje. A igreja, composta de judeus e gentios, foi estabelecida como o corpo de Cristo na Terra para levar o Evangelho a todas as nações.

O propósito central da Igreja é anunciar o Evangelho de Jesus Cristo ao mundo, formando discípulos de todas as nações (Mateus 28:19-20).

Muitos teólogos acreditam que a Era da Igreja terminará com o arrebatamento, quando a Igreja será retirada da Terra, abrindo espaço para os eventos da Grande Tribulação e o foco profético em Israel.

Este período também é chamado por alguns de “Dispensação da Graça,” um termo usado principalmente no contexto do dispensacionalismo, A Dispensação da Graça refere-se ao período em que Deus oferece a salvação pela graça, mediante a fé em Jesus Cristo, ao invés de pelas obras da Lei.

Na Bíblia temos outro termo usado que coincide com a ideia da Dispensação da Graça e com a Era da Igreja. Este termo é o “Tempo dos Gentios,” que embora não seja exatamente a mesma coisa que os anteriores, é a base para justificar biblicamente o espaço de tempo aberto por Jesus entre a semana 69 e a semana 70 que aconteceria apenas no futuro.

Este termo refere-se ao período em que as nações gentílicas (não-judaicas) dominam Jerusalém e Israel. Historicamente, começou com a destruição de Jerusalém pelos babilônios em 586 a.C., e continuou com a ocupação persa, grega, romana e, em tempos mais recentes, a presença de potências estrangeiras no controle de Jerusalém e do povo judeu.

Durante esse período, Jerusalém e o povo judeu não têm total soberania. A cidade foi ocupada por várias potências gentílicas ao longo da história.

Após a destruição do Templo em 70 d.C. pelos romanos, os judeus foram dispersos por todas as nações, marcando um prolongado tempo de dominação gentílica.

Muitos estudiosos acreditam que o “tempo dos gentios” terminará quando Israel recuperar plena soberania sobre Jerusalém, o que, em escatologia, está relacionado ao retorno de Cristo e ao estabelecimento de Seu reino na Terra.

Por que a “Era da Igreja,” a “Dispensação da Graça” e o “Tempo dos Gentios” estão ligados?

O “Tempo dos Gentios” é mais amplo e inclui a dominação gentílica sobre Israel ao longo da história, algo que começou antes da Era da Igreja e continua paralelamente.

A “Era da Igreja” e a “Dispensação da Graça” são termos que se referem ao mesmo período na prática, mas com ênfases diferentes. A Era da Igreja foca na missão da Igreja no mundo, enquanto a Dispensação da Graça foca no método de salvação (pela fé em Jesus Cristo) durante esse tempo.

Portanto, enquanto compartilham características e estão conectados profeticamente, os três termos têm significados específicos dentro de diferentes contextos teológicos. Todavia estes períodos parecem ser uma justificativa lógica para as Setenta Semanas terem sido interrompidas para continuarem apenas no futuro com o reinado do Anticristo na última semana, já que o juízo sob Israel e a Santa cidade não pode vir até que se cumpra o tempo dos gentios conforma foi inclusive previsto:

“Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério, para que não sejais presumidos em vós mesmos: que veio endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios. E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o Libertador e ele apartará de Jacó as impiedades.” (Romanos 11:25-26)

“Cairão à espada e serão levados cativos para todas as nações, e até que os tempos dos gentios se completem, Jerusalém será pisada por eles.” (Lucas 21:24)

“Pois, segundo uma revelação, me foi dado conhecer o mistério, conforme escrevi há pouco resumidamente; pelo que, quando ledes, podeis compreender o meu discernimento do mistério de Cristo, o qual, em outras gerações, não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, como agora foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas, no Espírito, a saber, que os gentios são co-herdeiros, membros do mesmo corpo e co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho.” (Efésios 3:3-6)

Portanto. Parece coerente acreditar que realmente ocorreu uma interrupção na profecia das Setenta Semanas de Daniel, adiando os acontecimentos da última semana até que os povos gentios se convertam e sejam alcançados por Cristo.

Outro sinal mais claro disso são as incríveis semelhanças entre os acontecimentos da ultima semana de Daniel e o que está registrado no Apocalipse, pois ambos os textos parecem falar do Anticristo, de um governo dividido entre duas metades de tempo, de um acordo quebrado e perseguição aos santos.

 

A Última semana de Daniel, o Apocalipse e o Anticristo.

A Última semana de Daniel, o Apocalipse e o Anticristo

A relação entre a última semana de Daniel e as profecias do Apocalipse se dá porque o livro de Apocalipse expande e detalha os eventos dessa 70ª semana, revelando acontecimentos globais e espirituais que culminarão com o retorno de Cristo.

No início da última semana, o Anticristo firmará uma aliança com muitos, provavelmente com Israel e outras nações. Essa aliança durará três anos e meio (metade da última semana), mas ele a quebrará ao introduzir a “abominação desoladora”, um evento que será a culminação de sua rebelião contra Deus.

Jesus também menciona esse evento em Mateus 24:15, advertindo sobre os dias de intensa angústia que se seguirão. Esse evento marca o início do Grande Dia da Ira de Deus, conforme descrito no Apocalipse 6-19.

Existem diferentes visões sobre a aplicação dessa última semana:

Pré-milenista Dispensacionalista: Essa visão defende que as 69 semanas já foram cumpridas com a morte de Cristo, e a última semana será cumprida no futuro, com o início da Tribulação e o reinado do Anticristo. Há uma “pausa” no cumprimento da profecia entre as 69 e 70 semanas, conhecida como a era da Igreja.

Histórica e Preterista: Essas escolas de pensamento acreditam que as Setenta Semanas de Daniel já foram cumpridas no primeiro século, com a destruição de Jerusalém em 70 d.C. Eles argumentam que a profecia de Daniel é mais focada nos eventos imediatos que cercam o povo judeu do que em um período futuro.

Amilenista: Essa posição não vê um reinado milenar literal na terra, mas interpreta os eventos das Setenta Semanas de forma simbólica e espiritual, aplicando-os à história da Igreja e à luta contínua entre o bem e o mal.

A Cronologia do Fim.

Com base na interpretação pré-milenista, que é uma das mais aceitas no campo escatológico contemporâneo, a última semana de Daniel ainda está por acontecer. Os eventos futuros são alinhados da seguinte maneira:

Acordo de Paz do Anticristo – Início dos sete anos finais, marcando o período da Tribulação.

Rompimento da Aliança – Após três anos e meio, o Anticristo quebrará o pacto, iniciando a Grande Tribulação.

A Abominação Desoladora – O Anticristo se posicionará no Templo em Jerusalém, proclamando-se Deus.

O Juízo de Deus e o Retorno de Cristo – Após os últimos três anos e meio, Cristo retornará para derrotar o Anticristo e estabelecer Seu reino milenar.

 

Conclusão.

As Setenta Semanas de Daniel constituem um dos pilares mais relevantes para o estudo das profecias bíblicas, servindo como uma linha cronológica essencial para compreendermos o plano de Deus para Israel e para toda a humanidade. A profecia apresentada em Daniel 9:24-27 não apenas estabelece períodos específicos, mas também conecta eventos que transcendem os tempos do Antigo Testamento, apontando para o ministério, morte e ressurreição do Messias, bem como para o futuro juízo final. A última semana, frequentemente identificada como um período de sete anos, revela o tempo crucial da Grande Tribulação, quando o Anticristo fará uma falsa aliança com muitos e profanará o templo, trazendo grande sofrimento e angústia ao mundo.

Ao relacionarmos as profecias de Daniel com os textos de Apocalipse, encontramos uma visão coesa do cenário profético: os 42 meses, os 1260 dias e a expressão “um tempo, tempos e metade de um tempo” descrevem o mesmo período de três anos e meio — a segunda metade da 70ª semana. Durante este tempo, os santos enfrentarão perseguição intensa, enquanto Deus executará Seus juízos contra o sistema iníquo dominado pelo Anticristo e pelo dragão, Satanás.

Portanto, ao estudarmos as profecias, é fundamental adotar um posicionamento contextual e literal, levando em conta a relação entre o Antigo e o Novo Testamento. A visão futurista, que considera a última semana de Daniel como ainda não cumprida, se mostra a mais coerente, pois respeita a continuidade dos eventos descritos. Devemos analisar essas passagens com discernimento, reconhecendo que o cumprimento das profecias ocorrerá segundo o tempo soberano de Deus, culminando na segunda vinda de Cristo, que estabelecerá o Seu reino eterno e trará justiça definitiva sobre a Terra.

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PR. Monteiro Junior

Sou Pastor e eterno estudante de Teologia. Apaixonado pela História da Igreja e por todas as áreas importantes para o nosso crescimento espiritual. Estudo desde sempre temas ligados a Apologética, Arqueologia Bíblica e Escatologia e me dedico a ensinar e compartilhar o conhecimento deste temas.