É possível perdermos a fé por culpa de uma igreja, ou nos afastarmos de Deus por influência de um sistema religioso?
Nos últimos anos temos observado um fenômeno cada vez mais presente na sociedade atual: os “desigrejados”. São pessoas que, por diferentes motivos, optaram por não se vincularem a nenhuma igreja ou comunidade religiosa.
Os “desigrejados” frequentemente carregam feridas profundas em seus corações. As mágoas causadas por experiências negativas em igrejas podem ter abalado sua confiança na comunidade religiosa e os feito desistir completamente de manter um relacionamento com Deus através de uma congregação.
Esse talvez seja o principal e mais comum exemplo de quando a igreja que deveria fortalecer a fé, promover crescimento espiritual, fomentar a comunhão entre irmãos e fazer florescerem os frutos do Espirito, funciona completamente de forma oposta, afastando as pessoas de Deus, mitigando ou destruindo a fé.
É claro que a existência dos “desigrejados” não é somente culpa daquilo que acontece ou é vivenciado dentro das igrejas, no entanto temos hoje um ambiente tão confuso e cheio de misticismo, avareza, pecados, escândalos, legalismo, mundanismo, radicalismo e outras falhas e problemas, que acabam contribuindo para que muitas pessoas achem mais saudável saírem das igrejas do que continuarem dentro delas.
Nosso intuito aqui não é acusar igrejas ou exigir que elas sejam perfeitas, pois isto nunca aconteceu, nem mesmo na época dos cristãos primitivos, ou ainda no auge dos maiores avivamentos da história do cristianismo. Mas queremos lhe ajudar a reconhecer melhor as práticas que podem destruir sua fé e a fé de outros irmãos em Cristo.
Com esse conhecimento em mente podemos mudar o que está errado e evitar que nosso inimigo desvie e isole mais cristãos longe da comunhão tão necessária para o crescimento espiritual mutuo.
Como se comporta uma igreja materialista e gananciosa?
Antes que você pense que uma igreja materialista e gananciosa é apenas aquela que pede dinheiro várias vezes em todos os cultos, durante inúmeros momentos na semana, quero avisá-lo que a mentalidade do materialismo e da ganancia dentro das igrejas não se resume somente a este tipo de comportamento.
Uma igreja materialista além de se comportar dessa maneira também costuma colocar ênfase excessiva em bens materiais, prosperidade financeira e sucesso terreno. Em vez de focar na busca do Reino de Deus, esse tipo de igreja se concentra em conquistas materiais, distorcendo a verdadeira mensagem do evangelho e desviando o foco do propósito eterno.
São igrejas que em muitos casos costumam realmente estimular a ganancia nas pessoas.
Quando alguém humilde entra em um templo cujo foco é o enriquecimento financeiro logo se sentirá constrangido e impelido a buscar unicamente as recompensas materiais.
Este novo “cristão” acabará perdendo todo um contexto incrivelmente maravilhoso e valioso que o ajudaria a crescer na graça e no conhecimento e nunca firmar-se-á verdadeiramente na Fé, pois seu relacionamento com Deus se resumirá apenas em pedir, ofertar, investir e receber algo em troca pelo que tentou oferecer. Isso não é o Evangelho bíblico, é outra coisa!
Outro ponto que podemos observar em igrejas materialistas e gananciosas é que a sua mensagem, ou por que não dizermos seu “marketing” é cuidadosamente planejado para “fisgar” pessoas unicamente pelos seus interesses e desejos, deixando a poderosa Palavra de Deus em segundo plano ou usando-a de maneira distorcida, apenas como ferramenta nessa empreitada.
Igrejas materialistas usam sempre frases do tipo: “Venha para nosso culto e Deus vai te fazer prosperar,” ou; “Participe desta campanha, oferte tal quantia e você receberá muitas vezes mais.”
Estas igrejas costumam oferecer “receitas prontas” de sucesso e satisfação que se resumem a “sete semanas disso, ou daquilo” e determinadas quantias ofertadas como “sementes” para uma “colheita abundante!”
O mais triste desse comportamento é que este tipo de promessa atrai uma multidão de pessoas que não estão interessadas em Jesus, em arrepender-se de seus pecados, ou em mudarem realmente suas vidas.
Nem os líderes destas igrejas estão vendo o abismo para o qual estão se dirigindo e muito menos a multidão que os está seguindo está enxergando a sua ruina. O tempo está passando, a oportunidade está acabando e eles estão perdendo o melhor do Evangelho que é o Deus que está além das bençãos. E ao invés de se relacionarem com Ele de maneira pessoal para que possam conhecê-lo, eles estão focados somente no que Ele poderia lhes oferecer.
Nisso se cumpre o que Jesus falou: “Ele contou-lhes, também, uma parábola: “Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois no buraco?” (Lucas 6,39-42)
Cristãos precisam ser pobres e totalmente desprovidos de qualquer materialismo e ambição para não perderem a fé?
É claro que não acreditamos que um cristão precise ser pobre, ou que não deva possuir riquezas. No entanto o foco da mensagem do Evangelho nunca foi as riquezas, nem as bençãos ou prosperidade terrena.
Na verdade, encontramos várias passagens bíblicas que nos ensinam e desencorajam de perseguirmos esses ideais com a mesma paixão que o mundo sem Cristo o faz.
“Por isso, devemos estar satisfeitos se tivermos com o que nos alimentar e vestir. No entanto, os que ambicionam ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitas vontades loucas e nocivas, que atolam muitas pessoas na ruína e na completa desgraça. Porquanto, o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e por causa dessa cobiça, alguns se desviaram da fé e se atormentaram em meio a muitos sofrimentos.” (1 Timóteo 6:8,9,10)
Então não podemos tolerar ou aceitar que igrejas cujo foco constante são sempre bênçãos materiais estejam corretas. Mas também não podemos aceitar a mensagem de algumas igrejas que pregam a pobreza como virtude ou condição para se entrar no Reino de Deus.
Vale lembrar que muitos ricos e nobres, mesmo na época de Jesus, acabaram por se converterem a Fé e foram tremendamente usados por Deus, não só para abençoarem sua obra financeiramente, mas também para ensinar através de seu exemplo como podemos dominar o dinheiro e não sermos dominados por ele.
A postura que Deus espera dos seus filhos no que se refere ao dinheiro é uma postura de controle e dominação.
Quando alguém corre atrás de algo desesperadamente ou quando toda a sua energia e atitudes são sempre em prol daquela coisa, esse alguém é claramente um escravo daquilo que tanto lhe consome.
Muitos dos que correm atrás de riquezas na grande maioria das vezes nunca as alcançam!
Este é exatamente um dos principais fatores que leva alguns a perderem a fé, afastando-se da Verdadeira Igreja pois no caminho ao invés de terem tido um encontro verdadeiro com Deus, acabaram encontrando outro conhecimento distorcido sobre Ele através de uma igreja gananciosa e materialista que fez da Fé uma mercadoria e os iludiu com promessas de riquezas.
Aqueles que realmente servem a Deus não precisam correr desesperadamente atrás do dinheiro basta a confiança em Deus e a parceria com Ele em seus projetos.
“Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” (Mateus 6:33)
Nós não fomos chamados para sofrer em prol do dinheiro. Na verdade, a Palavra de Deus nos deixa claro isso quando nos diz: “Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão que penosamente granjeastes; aos seus amados ele o dá enquanto dormem” (Salmosl 127.2).
Andar com Deus e ser cristão é acreditar, é viver em parceria com Ele e crer que Deus já nos proveu o sustento antes mesmo de termos acordado.
Também precisamos entender que nem sempre andar com Deus significa vivermos em bênçãos constantes. Um cristão pode ficar pobre, passar dificuldades, mas aqueles que andam com Deus sempre experimentam do seu cuidado. Jesus nos ensinou isso em sua Palavra:
“Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves? Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida? E por que andais ansiosos quanto ao vestuário? Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham, nem fiam. Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé?” (Mateus 6:26-30)
“Não se preocupem, dizendo: ‘O que vamos comer?’ ou ‘O que vamos beber?’ ou ‘O que vamos vestir?’ Pois os pagãos é que correm atrás dessas coisas; mas o Pai celestial sabe que vocês precisam delas.” (Mateus 6:31-32)
A mensagem da igreja materialista e gananciosa é a mesma do Diabo no deserto.
Você já parou para observar que a mensagem pregada por igrejas materialistas e gananciosas costumam geralmente explorar os principais pontos fracos da natureza humana?
Um dos focos principais do “marketing” de uma igreja materialista e gananciosa para atrair pessoas são as necessidades que todo ser humano tem.
Promessas de melhora nos relacionamentos, saúde, prosperidade financeira, amor, felicidade e solução de todos os problemas da vida, são geralmente o centro de toda a mensagem que elas pregam.
Que ser humano não iria querer isso? Quem não precisa que as suas necessidades sejam supridas completamente?
Estas mesmas igrejas também prometem o sucesso, grandeza e realização pessoal, afirmando que Deus irá exaltar e engrandecer aqueles que são fiéis nas ofertas, sacrifícios, campanhas, orações, etc.
Elas incentivam os seus membros a serem ousados, a fazerem sacrifícios ofertando os seus bens mais preciosos, os seus salários, casa, carro, etc. Quanto maior a coragem e a oferta, maior a recompensa Devolvida por Deus.
Mas qual seria exatamente o problema com isso? Será que Deus não recompensa aqueles que são fiéis?
O problema é que essa mensagem se parece mais com a mensagem que o Diabo usou para tentar Jesus no deserto do que com o verdadeiro Evangelho.
Na passagem bíblica onde Jesus é tentado pelo Diabo no deserto (Mc 1.12-13; Lc 4.1-13), Satanás explora as necessidades, no caso a fome que Jesus sentiu, o desejo de realização e oferece-lhe tudo em troca de sua adoração. A recompensa eram todos os reinos da Terra, todos os desejos satisfeitos.
Portanto essa não é a mensagem do Evangelho! Nós não encontramos no Novo Testamento Jesus pregando uma mensagem igual a pregada pelas igrejas materialistas e gananciosas, quem prega assim é exatamente o Diabo!
A mensagem de Cristo e de seus discípulos tem o seu foco no arrependimento, na salvação individual pela fé, na pureza espiritual, nos frutos do Espírito, na santidade, bondade, amor ao próximo, oração, caridade e no dar ao invés do receber. Logo quem busca recompensas não pode estar de acordo com esta mensagem e fazendo parte do mesmo Evangelho.
Por que igrejas materialistas e gananciosas podem destruir a fé?
Basicamente igrejas materialistas e gananciosas pregam um evangelho misturado com outra coisa. Oferecem um outro caminho diferente do proposto por Jesus em sua Palavra.
Mesmo que encontremos elementos verdadeiros da fé cristã e da Bíblia na mensagem pregada por estas igrejas, todavia, o objetivo alcançado com a mensagem não é a conversão, muito menos a salvação da alma do pecador. Aliás, igrejas deste tipo praticamente não falam sobre arrependimento e salvação e quando alguém não se sente alcançado e salvo por Jesus, dificilmente esse alguém firmará compromisso moral com Ele.
Como o foco das igrejas materialistas é o dinheiro e as necessidades do homem e não um encontro verdadeiro com Deus, por causa disso a fé acaba sendo direcionada para aqueles sacrifícios, para aqueles rituais. É um jogo de ação e recompensa que acaba por frustrar aqueles que não conseguirem conquistar os seus objetivos.
Muitas pessoas costumam se afastar de igrejas assim quando percebem que estão sendo exploradas ou enganadas. Quando isso acontece é bem comum que estes convertidos cultivem grande revolta e muitos deles possivelmente nunca mais conseguirão abrir o coração para uma nova experiência com Deus em outro tipo de congregação.
Outra malefício que destrói a fé, causado por este tipo de igreja é a falta de profundidade, intimidade e conhecimento de Deus.
Pessoas que frequentam estas congregações não são desafiadas a irem além dos sacríficos, das ofertas. Permanecem estáticas. Não precisam desenvolver a intimidade com Deus. Não carecem de estudar teologia ou amadurecerem de qualquer outra forma. Basta que façam o que lhes é proposto, que sigam a receita proposta e pronto!
Igrejas assim ignoram que existe um caminho a ser seguido pelo cristão. Esta trajetória começa com a ação de ouvir a Palavra de Deus. Depois disso vem a fé. Após a fé, o reconhecimento dos seus pecados, arrependimento e confissão.
Então, após a confissão começa o crescimento espiritual, o crescimento na graça e no conhecimento, onde o cristão vai aprender a orar, ler as Escrituras, estudar, pregar, conviver, congregar, perdoar, desenvolver seus dons e frutos do Espirito.
Todas essas práticas foram ensinadas por Jesus e seus discípulos e elas são a essência do cristianismo.
Tudo isso fortalece a fé, prova a fé, trabalha a fé, amadurece a fé e firma o cristão na fé. Quando não se tem isso, não se tem uma fé completa pois uma coisa é crer que Deus é recompensador dos que o buscam e outra coisa é ser provado, ter experiências com Ele, conhece-lo de forma mais profunda através da teologia e de um estudo mais aprofundado em sua Palavra.
Igrejas materialistas não estão preocupadas com nada disso.
Por que devemos fugir de igrejas materialistas e gananciosas?
Embora tenhamos mencionado inúmeras linhas de raciocínio explicando o porque igrejas materialistas são tão nocivas, o maior motivo que podemos mencionar para que alguém fuja de igrejas assim é a mentalidade que elas constroem em seus convertidos.
Enquanto o Evangelho de Jesus prepara o homem para pensar nas coisas do céu, as igrejas materialistas preparam o homem para pensar e lutar principalmente por objetivos terrenos. E ao fazer isso nos tornamos os mais miseráveis dos homens conforme a própria Palavra de Deus nos diz:
“Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” (1 Coríntios 15:19)
Por mais que possamos fazer muitas coisas aqui na Terra, abençoar pessoas, conquistar objetivos, construir obras significativas que venham a contribuir para a sociedade e o bem de outros seres humanos, mesmo assim nosso objetivo principal é o céu e por este motivo não devemos nos apegar ou nos envolver por completo com o mundo em que vivemos.
“Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele.
Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo.
E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.” (1 João 2:15-17)
Portanto, quando alguém é estimulado constantemente a pensar em coisas terrenas, principalmente riquezas e bens materiais que são coisas que tem a capacidade de nos envolver grandemente, este alguém corre grande risco de se ver completamente dominado por algo tão envolvente.
Talvez por causa disso encontremos tantos versículos bíblicos e ensinamentos do próprio Jesus nos aconselhando a termos cuidado com o desejo de obter riquezas e para que nosso coração não se encontre dividido.
“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Ninguém pode servir a dois senhores: pois, ou odiará um e amará o outro, ou será fiel a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro.” (Mateus 6,24-34)
“Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam;
Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam.
Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.” (Mateus 6:19-21)