Na primeira parte deste estudo, analisamos e refutamos diversos argumentos cessacionistas que buscavam negar a atualidade dos dons espirituais.
Demonstramos que a interpretação de 1 Coríntios 13:8-10 usada pelos cessacionistas é equivocada, que a ideia de um suposto “fim dos dons na história” não encontra respaldo bíblico, que a ausência de menção às línguas em algumas epístolas não é prova de sua extinção, que o paralelo com os 400 anos de silêncio não se sustenta e que os dons não se limitaram à autenticação dos apóstolos ou ao período fundacional da Igreja.
Entretanto, a argumentação cessacionista não se limita a esses pontos. Há outras objeções levantadas que também precisam ser respondidas à luz das Escrituras. Nesta segunda parte, vamos prosseguir refutando os seguintes argumentos:
- A alegação de que a suficiência das Escrituras torna os dons desnecessários;
- A ideia de que a maturidade da Igreja substituiu as manifestações espirituais;
- O medo de que os dons abram espaço para falsas profecias, heresias e enganos;
- A distinção artificial entre dons temporários e permanentes;
- E a comparação inadequada entre os milagres bíblicos e os relatos modernos.
Nosso objetivo continua sendo o mesmo: demonstrar que os dons espirituais nunca cessaram e que, ao contrário do que defendem os cessacionistas, eles permanecem como instrumentos indispensáveis para a edificação da Igreja, o fortalecimento da fé e o testemunho vivo do poder de Deus no mundo atual.
Não deixe de ler a primeira parte desse estudo aqui mesmo em nosso site: Os Dons Espirituais nunca cessaram: Refutando o Cessacionismo – Parte 01
Leia também nosso outro estudo onde mostramos todas as bases biblicas continuistas que comprovam através das Escrituras que os Dons e as Línguas não cessaram: Os Dons Espirituais e as Línguas não cessaram. Confira as provas bíblicas.
Refutando o argumento cessacionista da Suficiência das Escrituras em detrimento dos Dons.
O Cessacionismo defende que, como a revelação de Deus foi concluída na Bíblia, não haveria mais necessidade de profecias ou revelações sobrenaturais. Deus agora fala apenas por meio da Escritura, e manifestações carismáticas seriam vistas como acréscimos perigosos.
Esta ideia está errada porque:
A suficiência das Escrituras não elimina a ação do Espírito.
A Bíblia é, de fato, completa e suficiente como revelação de Deus para a fé e a prática cristã (2 Timóteo 3:16-17). No entanto, isso não significa que Deus deixou de agir sobrenaturalmente.
A suficiência da Escritura garante que nada precisa ser acrescentado ao cânon bíblico, mas não limita o Espírito em sua obra de distribuir dons para edificação da Igreja.
A própria Escritura prevê a continuidade dos dons.
O Novo Testamento não apresenta os dons como ameaça à autoridade bíblica, mas como parte do plano divino para o fortalecimento do Corpo de Cristo.
Paulo declara que os dons são dados “com vistas ao aperfeiçoamento dos santos, para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo” (Efésios 4:12).
Isso significa que eles não competem com a Escritura, mas cooperam com ela na missão da Igreja.
Revelações carismáticas não competem com a revelação bíblica.
Há uma diferença clara entre revelação canônica e revelação carismática. O cânon bíblico é único, fechado e normativo para toda a Igreja. Já as manifestações proféticas e espirituais têm caráter local e circunstancial, servindo para edificação, consolação e exortação (1 Coríntios 14:3).
Portanto, profecias e dons não acrescentam doutrinas novas à Bíblia, mas aplicam a verdade eterna da Palavra às situações presentes.
O cessacionismo confunde princípio com aplicação.
Ao alegar que os dons competem com a Bíblia, o cessacionismo cria uma falsa dicotomia.
Na verdade, os dons espirituais são meios pelos quais a Palavra é confirmada e aplicada na vida dos crentes.
Um dom de cura não adiciona nada à Escritura, mas manifesta a compaixão de Cristo revelada nela.
Uma palavra profética não cria doutrina, mas direciona a Igreja segundo os princípios já revelados nas páginas da Bíblia.
O próprio Novo Testamento prevê revelações locais após o fechamento do cânon.
Quando Paulo instrui os coríntios a não desprezarem as profecias (1 Tessalonicenses 5:20-21), ele sabia que a revelação bíblica ainda não estava completa, mas suas palavras têm valor normativo para todas as eras.
Se a profecia fosse apenas temporária até a conclusão do Novo Testamento, o apóstolo teria feito tal ressalva. Pelo contrário, ele adverte que não devemos desprezar, mas sim discernir, deixando claro que tais manifestações continuariam na Igreja.
O argumento cessacionista confunde a suficiência da Escritura com a suficiência da experiência cristã.
A Bíblia é suficiente como revelação, mas o Espírito continua atuando como poder e manifestação. Os dons não competem com a Escritura; ao contrário, são expressão prática da Palavra viva na comunidade de fé.
Refutando o argumento cessacionista que afirma que a maturidade da Igreja substitui os dons e os tornou desnecessários.
Alguns cessacionistas defendem que, após a era apostólica, a Igreja atingiu certo nível de maturidade doutrinária e estrutural. Assim, os dons espirituais, especialmente os de revelação e sinais, não seriam mais necessários, já que sua função teria sido apenas a de sustentar a fé da Igreja em sua infância.
Este argumento, porém, não resiste ao exame bíblico:
A maturidade da Igreja não elimina a necessidade do Espírito.
A maturidade cristã é fruto do Espírito, não substituto dEle.
Paulo escreve aos gálatas que “tendo começado no Espírito, estejais agora vos aperfeiçoando na carne?” (Gálatas 3:3). Ou seja, crescimento e amadurecimento espiritual jamais ocorrem pela substituição da obra do Espírito, mas por sua continuidade.
A edificação da Igreja depende dos dons até a volta de Cristo.
Em Efésios 4:11-13, Paulo afirma que os dons ministeriais foram dados “com vistas ao aperfeiçoamento dos santos, […] até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo”.
Essa meta não foi atingida na história da Igreja e só será plena na glorificação. Logo, os dons permanecem necessários até a consumação.
A Igreja do século I já era madura em vários aspectos, mas continuava recebendo dons.
Os coríntios, mesmo tendo acesso ao ensino apostólico e às Escrituras do Antigo Testamento, eram instruídos a buscar com zelo os dons espirituais (1 Coríntios 14:1). Isso mostra que maturidade e dons não são excludentes, mas complementares.
O argumento da “maturidade” se contradiz com a realidade histórica e atual.
Se a Igreja tivesse atingido maturidade plena já no período pós-apostólico, não teríamos registrado na história tantas heresias, divisões e crises doutrinárias ao longo dos séculos.
O testemunho histórico mostra que a Igreja nunca deixou de precisar da atuação do Espírito Santo, tanto em direção quanto em poder.
O Novo Testamento não apresenta qualquer ensino de substituição dos dons.
Paulo nunca ensina que os dons cessariam quando a Igreja alcançasse maturidade. Pelo contrário, exorta: “Procurai, com zelo, os melhores dons” (1 Coríntios 12:31) e “Não extingais o Espírito. Não desprezeis as profecias” (1 Tessalonicenses 5:19-20).
A maturidade da Igreja não substitui os dons espirituais, mas é resultado de sua presença.
É justamente pela ação contínua do Espírito que a Igreja cresce, é edificada e permanece firme até a volta de Cristo.
Portanto, dizer que os dons se tornaram desnecessários é inverter a lógica bíblica: sem os dons, não há maturidade plena.
Refutando o argumento cessacionista que afirma que os Dons abrem espaço para falsas profecias e heresias, perigos e enganos.
Um argumento recorrente dos cessacionistas é que a continuidade dos dons espirituais abriria espaço para falsas profecias, enganos e até heresias.
Afirmam que permitir manifestações sobrenaturais seria perigoso, pois colocaria a Igreja em risco de ser desviada por falsos mestres e falsas experiências espirituais.
Por que esse argumento não se sustenta biblicamente?
A existência do falso não anula o verdadeiro.
A Bíblia reconhece que haveriam falsos profetas (Mateus 24:11; 1 João 4:1), mas nunca ordena extinguir a profecia por causa disso. Pelo contrário, Paulo exorta: “Não desprezeis as profecias; julgai todas as coisas, retende o que é bom” (1 Tessalonicenses 5:20-21).
Se a mera possibilidade de falsificação fosse motivo para cessar os dons, também deveríamos cessar o ensino, já que há falsos mestres (2 Pedro 2:1).
O Novo Testamento ensina a discernir, não a rejeitar.
A resposta bíblica aos perigos espirituais não é eliminar os dons, mas exercitar discernimento:
“Amados, não creiais a todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus” (1 João 4:1).
Se os dons tivessem cessado, não haveria necessidade de instruções tão claras sobre como julgá-los e avaliá-los.
O Espírito Santo não é causa de confusão.
Paulo afirma: “Porque Deus não é de confusão, mas de paz” (1 Coríntios 14:33).
Quando os dons operam segundo a direção do Espírito, eles não trazem desordem, mas edificação. O problema não está nos dons, mas no mau uso deles.
Por isso Paulo não manda cessar línguas ou profecias, mas regular a prática:
“Portanto, meus irmãos, procurai com zelo o dom de profetizar e não proibais o falar em línguas. Mas faça-se tudo decentemente e com ordem” (1 Coríntios 14:39-40).
Jesus alertou sobre falsos milagres, mas prometeu os verdadeiros.
Cristo advertiu que alguns fariam milagres em Seu nome sem realmente pertencê-lo (Mateus 7:22-23), mas isso não anula sua promessa de que “estes sinais seguirão aos que crerem” (Marcos 16:17-18).
O fato de haver falsificações apenas confirma que existe um original verdadeiro.
Extinguir os dons seria desobedecer às Escrituras.
Rejeitar os dons por medo de abusos é exatamente o que Paulo proibiu: “Não extingais o Espírito” (1 Tessalonicenses 5:19).
O verdadeiro risco não está em buscar os dons espirituais, mas em rejeitá-los.
O argumento cessacionista parte do medo do falso, mas a solução bíblica não é negar os dons, e sim discernir os espíritos e manter o que vem de Deus.
O Novo Testamento nos mostra que dons espirituais são uma bênção indispensável para a edificação da Igreja, quando usados com sabedoria e sob a orientação do Espírito Santo. Extinguí-los por receio de enganos é, paradoxalmente, desobedecer ao próprio mandamento das Escrituras.
Refutando o argumento cessacionista que afirma que existem Dons temporários e permanentes.
Outro ponto levantado pelos cessacionistas é a ideia de que certos dons espirituais seriam temporários, como línguas, profecias e curas, usados apenas nos primeiros anos da Igreja para autenticar a mensagem dos apóstolos. Em contrapartida, outros dons, como ensino, fé e serviço, seriam permanentes e ainda válidos hoje.
Essa distinção, embora comum em círculos cessacionistas, não encontra apoio claro nas Escrituras.
A Bíblia não classifica dons em categorias de duração.
Em nenhum lugar do Novo Testamento há uma separação entre dons “temporários” e “permanentes”.
Todos são descritos como manifestações do Espírito distribuídas “para o que for útil” (1 Coríntios 12:7), sem qualquer indicação de prazo de validade. Criar essa divisão é impor ao texto algo que ele não diz.
A lista de dons é apresentada como complementar e contínua.
Em 1 Coríntios 12, Paulo menciona dons de sabedoria, conhecimento, fé, cura, milagres, profecia, discernimento de espíritos, línguas e interpretação.
Todos são colocados lado a lado, como partes do mesmo corpo, igualmente necessários para a edificação da Igreja (1 Coríntios 12:27-31).
Separar alguns como “temporários” seria distorcer a unidade do ensino apostólico.
O argumento ignora a função atual dos dons.
Se os dons de cura e milagres eram apenas para autenticar os apóstolos como os cessacionistas defendem, por que Tiago recomenda sua prática como instrução normativa para a Igreja?
“Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor. E a oração da fé salvará o doente” (Tiago 5:14-15).
Esse texto foi escrito décadas após o Pentecostes, e não sugere limitação temporal.
Todos os dons são necessários até a volta de Cristo.
Conforme já mencionamos anteriormente Paulo afirma claramente:
“De maneira que nenhum dom vos falta, esperando vós a revelação de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Coríntios 1:7).
Isso mostra que todos os dons foram dados à Igreja para todo o período de sua jornada até a volta de Cristo, não apenas para uma fase inicial.
Dons extraordinários não foram restritos a apóstolos.
Também já mencionamos anteriormente em outro tópico que Estêvão e Filipe, que não eram apóstolos, realizaram sinais e maravilhas pelo poder do Espírito (Atos 6:8; Atos 8:6-7).
Isso derruba o argumento de que dons miraculosos eram exclusivos ou limitados ao ministério apostólico.
A ideia de que existem dons temporários e dons permanentes não é bíblica, mas uma construção teológica criada para sustentar o cessacionismo.
As Escrituras apresentam os dons como manifestações diversas de um mesmo Espírito, dados a toda a Igreja, em todas as eras, até a volta de Cristo. Negar alguns dons como “temporários” é rejeitar parte daquilo que o Espírito distribui para a edificação do corpo de Cristo.
Refutando o argumento cessacionista que afirma que os Dons e milagres modernos não são comparáveis aos milagres bíblicos.
Esse argumento geralmente parte da ideia de que os milagres e dons espirituais relatados nas Escrituras possuíam um caráter único, inigualável e irrepetível, servindo exclusivamente para autenticar os apóstolos e a revelação inicial da Igreja.
Assim, curas, línguas, profecias e outros sinais que acontecem hoje seriam de “categoria inferior” e não poderiam ser comparados aos eventos bíblicos, e portanto seriam duvidosos.
No entanto, essa objeção falha por vários motivos:
A Escritura não faz distinção de categorias entre milagres apostólicos e milagres posteriores.
Em nenhum lugar a Bíblia sugere que os dons seriam mais poderosos ou “genuínos” apenas no período apostólico.
A distinção cessacionista entre “milagres extraordinários do passado” e “milagres menos significativos de hoje” é um argumento externo à Escritura, não fundamentado nela.
Mesmo na Bíblia, os milagres apresentaram variações em intensidade e forma.
Nem todos os milagres bíblicos foram grandiosos como a abertura do Mar Vermelho. Muitos foram discretos e pessoais, como a cura da febre da sogra de Pedro (Mc 1:30-31) ou o milagre de Eliseu fazendo o machado flutuar (2Rs 6:6).
A ideia de que apenas eventos espetaculares validam os dons ignora que o próprio Deus agiu de maneiras grandes e pequenas ao longo da história.
O propósito dos dons nunca foi apenas impressionar, mas edificar.
Paulo é claro quando diz:
“A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso” (1Co 12:7).
O valor de um milagre não está em sua grandiosidade, mas no fruto que ele gera, edificação, fé, salvação e testemunho de Cristo.
Assim, uma cura de enxaqueca hoje, embora aparentemente “menor” do que ressuscitar mortos, é igualmente uma demonstração do poder e cuidado de Deus.
Testemunhos históricos confirmam a continuidade de milagres comparáveis.
Desde os Pais da Igreja, passando por relatos medievais e reformados, até os grandes avivamentos modernos, sempre houve testemunhos de curas, profecias, línguas e outros sinais que se alinham ao padrão bíblico.
Negar a autenticidade desses eventos equivale a invalidar séculos de testemunhos cristãos.
A soberania de Deus impede limitar Seu agir.
A comparação entre “milagres bíblicos” e “milagres modernos” muitas vezes reflete mais uma incredulidade teológica do que um exame objetivo.
Se o Espírito Santo continua ativo, Ele pode operar milagres com a mesma intensidade de Atos dos Apóstolos ou com manifestações mais simples, de acordo com o propósito divino. Quem pode limitar o braço do Senhor (Is 59:1)?
O argumento cessacionista falha porque estabelece um padrão artificial e não bíblico de comparação entre os milagres do passado e os atuais.
O mesmo Espírito que operou em Cristo e nos apóstolos continua a operar hoje, e o fato de alguns milagres parecerem mais simples não os torna menos legítimos ou menos necessários para a edificação da Igreja e o testemunho do Evangelho.
Conclusão:
É importante mostrar que a ideia de cessação só se fortaleceu séculos após o Novo Testamento, e não é explicitamente bíblica. Um estudo histórico ajuda a reforçar a perspectiva continuísta.
O cessacionismo se fortaleceu apenas após os séculos IV-V, muito depois do período apostólico. Não há texto bíblico que indique um fim natural ou cronológico dos dons, o que mostra que a doutrina é mais histórica e teológica do que escritural.
Muitos cessacionistas se baseiam em tradições reformadas, como a Confissão de Westminster (1646), que ensina que “as revelações antigas cessaram” e que a Escritura é suficiente.
Confissões refletem interpretações históricas, mas não têm a mesma autoridade da Bíblia.
Muitos reformadores, apesar de escritos mais “racionais”, testemunharam manifestações espirituais.
O Espírito Santo não está preso a tradições humanas.
Também é importante lembrar que igrejas e grupos cristãos cessacionistas não negam o agir sobrenatural de Deus, acreditam em curas, em milagres e em varias outras formas de ação divina. O fato de não aceitarem a continuidade de alguns dons não os torna menos espirituais. Eles apenas entendem as Escrituras de maneira diferenciada dos continuístas.
No entanto, o Batismo com o Espírito Santo e os dons espirituais permanecem como ferramentas indispensáveis para a edificação da Igreja e para a missão no mundo.
Todos os sinais, milagres e manifestações de Atos, junto com os ensinamentos de Paulo e a promessa de Joel/Isaías, indicam que os dons espirituais são contínuos e universais,
“Não extingais o Espírito. Não desprezeis as profecias; julgai todas as coisas, retende o que é bom.” (1 Tessalonicenses 5:19-21)