Os Dons Espirituais nunca cessaram: Refutando o Cessacionismo – Parte 01

O Cessacionismo é a visão teológica cristã que defende que alguns dos dons espirituais, mais especificamente os dons miraculosos, as “línguas estranhas,” profecias e curas, cessaram completamente após a era apostólica, ou por algum outro motivo não estão mais ativos da mesma forma nos dias de hoje.

Embora seus defensores tentem fundamentar essa ideia em alguns textos isolados, uma análise honesta das Escrituras mostra que essa interpretação é equivocada e carece de base sólida.

Desde o Antigo Testamento até o Novo, a promessa do Espírito Santo é clara: o derramamento e a operação dos dons seriam uma realidade contínua, destinada a todas as gerações de crentes até a volta de Cristo.

O próprio livro de Atos demonstra que o Pentecostes não foi um evento único, mas o início de uma obra do Espírito que se repetiu em diversas ocasiões, confirmando a continuidade do agir sobrenatural de Deus na igreja.

Nós já tratamos sobre toda essa base bíblica favorável a continuidade dos dons no artigo anterior e você pode acessá-lo aqui: Os Dons Espirituais e as Línguas não cessaram. Confira as provas bíblicas.

Neste artigo em especial, vamos focar principalmente em refutar os argumentos sensacionistas, analisando os textos e afirmações mais usadas por eles.

Ao final deste estudo, você irá concluir que os argumentos cessacionistas são frágeis e desprovidos de base bíblica. Mais do que isso, você compreenderá que os dons espirituais jamais cessaram, e negar essa verdade é rejeitar o próprio testemunho das Escrituras.

 

Refutando a errônea interpretação cessacionista de 1 Coríntios 13:8-10.

Um dos principais textos usados pelos cessacionistas para defender que os dons espirituais, especialmente o dom de línguas, já cessaram é 1 Coríntios 13:8-10:

“O amor jamais acaba; havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará. Porque, em parte, conhecemos e em parte profetizamos. Quando, porém, vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado.” (1 Coríntios 13:8-10)

A leitura superficial desse texto pode dar a entender que Paulo está dizendo que as línguas e os dons sobrenaturais teriam uma data de validade limitada à era apostólica.

No entanto, ao analisarmos cuidadosamente o contexto, vemos que essa interpretação é incorreta e que Paulo jamais afirmou que os dons cessariam antes do cumprimento pleno do propósito de Deus.

Quando cessacionistas usam este texto como base para defender sua teoria de que parte dos dons espirituais cessaram, eles cometem erros absurdos e ignoram completamente qualquer princípio exegético ou interpretativo.

O primeiro erro é interpretar este texto de forma isolada, sem considerar o contexto da carta e da mensagem que Paulo estava transmitindo.

O apóstolo não está dizendo que os dons espirituais cessariam na era apostólica, mas que eles são parciais e temporários em comparação com a plenitude do que receberemos quando estivermos na presença de Cristo.

O que significa “quando vier o que é perfeito”?

Os cessacionistas afirmam que “o perfeito” se refere ao fechamento do cânon bíblico, isto é, quando todas as Escrituras foram escritas e compiladas. Contudo, essa interpretação não encontra respaldo no texto.

O grego usa a expressão to teleion (τὸ τέλειον), que significa “o completo, o consumado, o perfeito”. Em nenhum lugar do Novo Testamento isso se refere às Escrituras.

Paulo está falando sobre uma realidade futura e eterna, quando veremos a Deus “face a face” (1 Co 13:12). Isso claramente aponta para a segunda vinda de Cristo e para a eternidade com Ele, não para um acontecimento histórico do século I:

“Agora, pois, vemos como em espelho, obscuramente; então, veremos face a face. Agora, conheço em parte; então, conhecerei como também sou conhecido.” (1 Coríntios 13:12)

Portanto, os dons espirituais, incluindo as línguas, continuam válidos até que venha o “perfeito”, que só se cumprirá na consumação final de todas as coisas.

O contraste entre amor e dons.

Outro ponto crucial é que Paulo não está diminuindo a importância dos dons, mas ressaltando que o amor é maior porque ele permanece para sempre.

Os dons têm um papel temporário na edificação da Igreja enquanto ela ainda está no mundo, mas o amor é eterno. Isso, longe de anular os dons, apenas coloca cada coisa em sua devida proporção.

Eliminando só o que convém.

Outro ponto curioso é que muitos cessacionistas usam este texto para defenderem a ideia de que as profecias cessaram, as línguas e outros dons cessaram, mas o mesmo texto também menciona o conhecimento, ou ciência: “havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará.”

O texto coloca profecias, ciência (conhecimento) e línguas no mesmo nível. Se línguas cessaram, também cessaram profecias e conhecimento. Mas os próprios cessacionistas continuam crendo em conhecimento e ensino bíblico. Essa interpretação é inconsistente.

Paulo reforça que os dons permaneceriam até a volta de Cristo.

Em 1 Coríntios, Paulo nos diz:

“De maneira que nenhum dom vos falta, esperando a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo.” (1 Coríntios 1:7)

Isso indica que os dons durariam até a manifestação final de Cristo, não apenas até o fim do período apostólico.

Ou seja, os dons só deixarão de ser necessários quando estivermos diante do Senhor na eternidade, pois nesse momento não haverá mais necessidade de profecias, línguas ou ciência espiritual, tudo será completo e pleno em Cristo.

Portanto, o erro cessacionista está em forçar uma interpretação escatológica (Segunda Vinda) para um evento histórico passado (fechamento do cânon). O texto de Paulo não apoia essa conclusão.

Se Paulo quisesse ensinar que os dons cessariam com a morte dos apóstolos ou com a formação do cânon bíblico, ele teria dito de maneira explícita. Mas em nenhum lugar da Escritura há essa declaração.

 

Refutando o Argumento Cessacionista do “Fim dos Dons na História.”

Outro argumento bastante usado por cessacionistas para embasar a ideia que alguns dons espirituais cessaram é o argumento histórico.

Seus defensores afirmam que, após a morte dos apóstolos, as manifestações sobrenaturais teriam desaparecido ou se tornado extremamente raras.

No entanto, quando analisamos as Escrituras, a história da Igreja e até o testemunho atual, percebemos que esse argumento não se sustenta.

O Suposto Desaparecimento dos Dons na História.

Os dons desapareceram após o século I?

Essa afirmação ignora registros históricos. Pais da Igreja como Irineu, Tertuliano e Justino Mártir relataram curas, profecias e manifestações espirituais em suas épocas.

Até mesmo Agostinho, que em seus primeiros escritos era cético quanto aos milagres, mais tarde afirma ter testemunhado ocorrências sobrenaturais em sua própria geração (Cidade de Deus, Livro XXII, cap. 8).

Irineu de Lião (séc. II).

Irineu, discípulo de Policarpo (que por sua vez foi discípulo do apóstolo João), escreveu claramente sobre os dons espirituais em sua época:

“Temos muitos irmãos na Igreja que possuem dons proféticos, que falam em línguas por meio do Espírito, e que também trazem à luz os segredos dos homens para o bem, e declaram os mistérios de Deus.” (Contra as Heresias, Livro V, cap. 6, §1)

Isso mostra que, já no século II, os dons estavam em plena atividade.

Tertuliano (séc. II – III).

Tertuliano também testemunhou curas e manifestações proféticas:

“Há entre nós ainda até o presente tempo dons proféticos, os quais vemos realizados em nossa congregação, de acordo com as necessidades do momento.” (Apologia, cap. 23)

Ele confirma que os dons espirituais eram realidade em sua comunidade cristã.

Justino Mártir (séc. II).

Justino Mártir, ao defender o cristianismo diante dos pagãos, mencionou a continuidade dos dons:

“Pois os dons proféticos permanecem conosco até o presente tempo. Entre nós podem ser vistos homens e mulheres que possuem dons do Espírito de Deus.” (Diálogo com Trifão, cap. 82)

Para Justino, os dons eram prova viva da presença de Deus no meio da Igreja.

Agostinho de Hipona (séc. IV – V).

Agostinho, no início de sua carreira, tendia a minimizar os dons. Porém, mais tarde, mudou sua visão ao testemunhar milagres em sua própria época:

“Ainda hoje se realizam milagres, em nome de Cristo, seja por meio de seus sacramentos, seja por meio das orações ou relíquias de seus santos. (…) É impossível enumerar quantos milagres, grandes e pequenos, são conhecidos por nós.” (Cidade de Deus, Livro XXII, cap. 8)

Ou seja, até Agostinho, um dos maiores teólogos da patrística, reconheceu que os dons e milagres não tinham cessado. Embora seu testemunho seja um pouco polemico por mencionar relíquias de santos, todavia não pode ser descartado.

Ondas de Avivamento ao Longo da História.

Na verdade, os dons não cessaram, mas se manifestaram em ondas ao longo da história.

Mesmo após o período patrístico, encontramos manifestações espirituais em várias épocas:

Montanistas (séc. II): apesar dos exageros, testemunhavam profecias e línguas.

Irmãos Morávios (séc. XVIII): conhecidos por experiências espirituais e missões avivadas.

Metodistas e Avivamentos (séc. XVIII – XIX): John Wesley relatou curas e manifestações sobrenaturais.

Pentecostalismo Moderno (séc. XX): a partir da Rua Azusa (1906), um avivamento mundial reacendeu a ênfase nos dons espirituais.

Mas como os cessacionistas lidam com todas essas informações? Eles simplesmente descartam, geralmente associando-as a heresias ou exageros.

 

Refutando o Argumento Cessacionista da ausência de línguas em algumas epístolas.

Outro ponto levantado por cessacionistas para justificar o fim de alguns dos, neste caso as línguas estranhas é que, como o dom de línguas não aparece em cartas posteriores de Paulo (como Romanos, Gálatas, Efésios ou Filipenses), isso indicaria sua cessação.

Mas esse raciocínio é falho e infantil: nem todas as cartas tratam de todos os assuntos. Romanos, por exemplo, não menciona a Ceia do Senhor, mas ninguém afirma que ela deixou de existir.

Em 1 Coríntios 14, Paulo dedica um capítulo inteiro para orientar sobre o uso das línguas na igreja, sem nunca sugerir que cessariam.

A ausência em algumas cartas não prova cessação, apenas mostra que não era uma questão relevante para aquelas comunidades específicas.

O cessacionismo se apoia em interpretações específicas de alguns textos e no silêncio histórico posterior, mas não há base bíblica explícita que declare o fim dos dons do Espírito.

Este tipo de interpretação que usa o “argumento do silêncio” é geralmente uma das principais ferramentas usadas por ateus e céticos quando querem atacar a fé cristã afirmando que personagens bíblicos nunca existiram ou acontecimentos bíblicos nunca aconteceram só porque outras fontes sobre o assunto não são encontradas. 

 

Refutando o argumento cessacionista do paralelo com os 400 anos de silêncio.

Cessacionistas também fazem paralelo com o período entre Malaquias e João Batista, quando não houve profetas canônicos.

Argumentam que, assim como naquele tempo, Deus teria encerrado novamente as manifestações espirituais após o período apostólico.

Essa interpretação falha por diversos motivos:

O silêncio foi temporário e soberano, não normativo. A Bíblia não apresenta os 400 anos como um modelo a ser repetido.

O silêncio não foi absoluto: livros históricos, como os Macabeus, relatam livramentos milagrosos e respostas de oração nesse período. Deus nunca esteve inativo.

Não há paralelo entre o silêncio interbíblico e a era da Igreja. Os 400 anos foram uma espera pelo Messias. Agora, após a cruz e Pentecostes, vivemos no tempo da plenitude do Espírito (Joel 2:28; Atos 2:17).

A promessa é de continuidade até a volta de Cristo: Jesus afirmou que o Espírito estaria para sempre com a Igreja:

“E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco” (João 14:16).

O período interbíblico foi uma exceção e não serve como padrão.

Além disso, os registros históricos e testemunhos ao longo dos séculos comprovam que os dons nunca cessaram, apenas se manifestaram em diferentes intensidades.

Na verdade, depois de tanto silêncio no Antigo Testamento, veio o derramar do Espírito em Pentecostes, inaugurando não uma era de restrição, mas de abundância espiritual que se estenderá até a volta de Cristo.

 

Refutando o argumento cessacionista de que os Dons eram apenas para autenticar os Apóstolos.

Um dos argumentos mais comuns entre os cessacionistas é a ideia de que os dons espirituais, especialmente os de sinais como milagres, curas e línguas, tinham como única função autenticar o ministério dos apóstolos.

Segundo essa visão, uma vez estabelecida a autoridade apostólica e registrado o Novo Testamento, os dons não seriam mais necessários.

Porém, essa interpretação não se sustenta diante do testemunho bíblico. Primeiro, os dons espirituais não aparecem somente em conexão direta com os apóstolos, mas também em outros crentes comuns. Por exemplo, Estevão e Filipe, que não eram apóstolos, realizaram sinais e prodígios pelo poder do Espírito (Atos 6:8; Atos 8:6-7).

Se os dons fossem exclusivos para autenticar os apóstolos, como explicar a atuação desses homens que serviam como diáconos?

Além disso, o apóstolo Paulo, ao escrever às igrejas, nunca limitou os dons apenas aos apóstolos. Pelo contrário, ele instrui comunidades inteiras sobre como usá-los de maneira ordeira e edificante (1 Coríntios 12–14).

Ele afirma claramente que os dons são concedidos pelo Espírito a cada membro do corpo de Cristo, “como lhe apraz” (1 Coríntios 12:7,11).

A função dos dons, portanto, não era somente autenticar uma liderança, mas edificar a Igreja até que todos cheguemos “à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus” (Efésios 4:13).

Outro ponto importante é que, se os dons fossem apenas para autenticar os apóstolos, eles deveriam ter cessado imediatamente após a morte do último deles. Mas não há qualquer registro histórico ou bíblico de que isso tenha acontecido. Pelo contrário, há testemunhos da manifestação dos dons em escritos cristãos dos séculos II e III, o que mostra que eles continuaram ativos muito depois do período apostólico.

Portanto, o argumento de que os dons serviram apenas para autenticar os apóstolos é frágil.

A Bíblia demonstra que os dons espirituais foram distribuídos a toda a Igreja e tinham como objetivo edificar, consolar, exortar e capacitar os crentes para a obra de Deus em todas as gerações.

 

Refutando o argumento cessacionista de que os Dons eram apenas para o período da Fundação da Igreja.

Outro argumento bastante comum entre os cessacionistas é a ideia de que os dons espirituais foram concedidos apenas para a fase inicial do cristianismo, servindo como ferramentas extraordinárias para a fundação da Igreja. Segundo essa interpretação, após a Igreja estar estabelecida, os dons já não teriam mais função e, por isso, cessaram.

No entanto, essa leitura é problemática por várias razões.

A própria Escritura nunca limita os dons a uma época específica.

Em nenhuma parte do Novo Testamento vemos os apóstolos afirmando que os dons seriam temporários ou restritos à era fundacional da Igreja. Pelo contrário, Paulo ensina que os dons são distribuídos pelo Espírito “visando ao bem comum” (1 Coríntios 12:7) e que devem permanecer até que a Igreja alcance sua plena maturidade (Efésios 4:13).

Essa maturidade só será plena quando estivermos diante de Cristo em glória, e não em um momento específico da história da Igreja primitiva.

O livro de Atos mostra uma continuidade e expansão dos dons.

Se os dons fossem apenas para a fundação da Igreja, esperaríamos vê-los restritos a Jerusalém ou apenas aos primeiros anos. Mas Atos registra sua manifestação em diferentes locais e períodos: em Samaria (Atos 8:14-17), em Cesareia (Atos 10:44-46), em Éfeso (Atos 19:6) e em muitos outros contextos.

Esses relatos não falam de um evento único e irrepetível, mas de uma experiência recorrente que acompanhava a propagação do Evangelho.

Os dons são parte da promessa de Cristo para todas as gerações.

Em Marcos, Jesus declara:

“Estes sinais hão de acompanhar aqueles que creem: em meu nome expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados.” (Marcos 16:17-18)

Note que a promessa é direcionada a “aqueles que creem”, e não a uma geração específica.

A história da Igreja confirma a continuidade.

Embora os cessacionistas aleguem que os dons cessaram no século I, há inúmeros relatos de manifestações espirituais nos séculos seguintes.

Escritores cristãos como Irineu de Lyon (século II) e Tertuliano (século III) mencionam milagres, curas e dons acontecendo em suas comunidades. Isso contradiz a tese de que os dons foram encerrados após a “fundação” da Igreja.

Assim, o argumento de que os dons foram apenas para o período fundacional não encontra base bíblica sólida. A Escritura aponta para sua permanência até que Cristo retorne, e a história mostra sua continuidade. Limitar os dons apenas ao início da Igreja é impor ao texto algo que ele nunca afirma.

Não deixe de ler a segunda parte de estudo aqui: Os Dons Espirituais nunca cessaram: Refutando o Cessacionismo – Parte 02

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PR. Monteiro Junior

Sou Pastor e eterno estudante de Teologia. Apaixonado pela História da Igreja e por todas as áreas importantes para o nosso crescimento espiritual. Estudo desde sempre temas ligados a Apologética, Arqueologia Bíblica e Escatologia, me dedicando a ensinar e a compartilhar o conhecimento relacionado principalmente a estes temas.

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