Depois de escrever diversos artigos e estudos bíblicos sobre os Dons Espirituais, o Batismo com o Espírito Santo e outras manifestações sobrenaturais descritas nas Escrituras e presentes na vida de milhões de cristãos ao redor do mundo, decidi abordar novamente o tema. Desta vez, falando mais especificamente sobre os equívocos do cessacionismo em relação ao Dom de Cura.
O que apresento aqui parte de uma reflexão pessoal. Tenho ouvido e lido muitas argumentações cessacionistas e, observando atentamente os debates que surgem em igrejas, fóruns e redes sociais, e percebo que há uma grande confusão teológica sendo perpetuada.
Por isso, desejo expor algumas dessas questões à luz das Escrituras e da razão espiritual.
Antes de tudo, é importante deixar algo muito claro: sou pentecostal, mas não acredito que os cessacionistas não possuam o Espírito Santo. Pelo contrário, admiro o trabalho de vários pastores e teólogos que se identificam como cessacionistas, calvinistas ou reformados, e que defendem sinceramente a cessação dos dons espirituais.
Reconheço o valor de seus estudos, a profundidade de suas pregações e o zelo que demonstram pelo verdadeiro Evangelho.
Muitos deles têm contribuído grandemente para a edificação do Corpo de Cristo, e seria injusto considerá-los inimigos da fé.
Contudo, creio firmemente que esses irmãos estão equivocados quanto à continuidade dos dons espirituais, especialmente no que diz respeito às curas, às línguas e às profecias.
O problema, ao meu ver, está na adoção de uma linha teológica construída fora das Escrituras, baseada em raciocínios humanos e interpretações forçadas que não resistem a uma leitura honesta do texto bíblico.
Essa teologia, chamada de cessacionismo, tem levado muitos a negar manifestações do Espírito Santo que continuam ativas e operantes na Igreja de Cristo até hoje.
Em estudos anteriores, já tratei das interpretações equivocadas de 1 Coríntios 13:8-10, da ideia de que os dons foram apenas para o tempo dos apóstolos, da falsa aplicação da suficiência das Escrituras para justificar o cessar dos dons, e até da teoria dos dons temporários. Portanto, não pretendo repetir aqui o que já abordei em detalhes.
Se você quiser se aprofundar nesses outros assuntos, convido-o a ler meus estudos anteriores disponíveis aqui mesmo no site.
Neste artigo, quero me concentrar na visão distorcida que muitos líderes cessacionistas têm espalhado sobre o Dom de Cura. E confesso que me surpreende ver homens de grande inteligência e erudição interpretando as Escrituras de forma tão limitada e contraditória nesse ponto
A Interpretação cessacionista distorcida e absurda das Escrituras Bíblicas sobre o Dom de Cura.
Constantemente vejo pastores cessacionistas afirmarem que uma das provas mais claras da cessação do Dom de Cura seria a grande pandemia do coronavírus, que enfrentamos a partir do ano de 2019.
Esses líderes alegam que, se o Dom de Cura realmente existisse nos dias atuais, bastaria que um cristão com esse poder fosse aos hospitais, impusesse as mãos sobre os doentes de Covid e todos seriam imediatamente curados. Depois, dizem eles, bastaria repetir o mesmo ato milhões de vezes e a pandemia seria erradicada do mundo.
Muitos teólogos cessacionistas utilizam esse raciocínio infantil e totalmente antibíblico como se fosse um argumento legítimo para sustentar sua posição teológica.
Inclusive, já o ouvi em vídeos do reverendo Hernandes Dias Lopes e também do próprio reverendo Augustus Nicodemus.
Em uma publicação no site do reverendo Augustus Nicodemus, ele defende a ideia de que o Dom de Cura era restrito ao tempo dos apóstolos, e que esse dom nunca falhava, mas que hoje já não existe mais:
“Aqueles que tinham o dom de curar – e parece que estava restrito aos apóstolos e seus associados – nunca falhavam. Cada vez que determinavam a cura, ela acontecia. Não há caso registrado de alguém com dom de curar, como Paulo e Pedro, terem comandado a cura e ela não ter acontecido. E estamos falando da cura de cegos, coxos, aleijados, surdos e mudos, muitos dos quais nem tinham fé.”
Mas onde está o erro bíblico dessa interpretação?
Primeiro, os cessacionistas compreendem o Dom de Cura de maneira equivocada.
É incorreto afirmar que aquele que possuía o Dom de Cura poderia usá-lo a qualquer momento que desejasse, como se bastasse impor as mãos sobre o enfermo para que ele fosse curado sem uma direção e Deus.
A Bíblia é clara ao mostrar que todo dom espiritual emana de Deus e está submisso à Sua vontade e direção.
O Dom de Cura não é um poder pessoal concedido ao crente para ser usado de modo autônomo, mas uma manifestação do Espírito Santo que ocorre segundo o propósito divino.
Portanto, é perfeitamente possível que tenham existido momentos em que os apóstolos oraram e Deus, por motivos específicos, não decretou a cura.
Da mesma forma, pode ter havido ocasiões em que os próprios apóstolos não sentiram direção do Espírito Santo para interceder por cura naquele instante.
As Escrituras registram, inclusive, que o apóstolo Paulo nem sempre curou todos os enfermos.
Um exemplo disso é o caso de Timóteo.
Paulo não realizou uma cura sobrenatural, mas deu uma orientação prática para aliviar seu problema físico, mostrando que o dom não funcionava de maneira automática, mas conforme a vontade soberana de Deus:
“Não continues a beber somente água; usa um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas frequentes enfermidades.” (1 Timóteo 5:23)
Outro caso é o de Trófimo, companheiro de viagem de Paulo (Atos 20:4), que ficou doente, e mesmo assim o apóstolo não o curou, apesar de possuir dons espirituais manifestos:
“Erasto ficou em Corinto, e deixei Trófimo doente em Mileto.” (2 Timóteo 4:20)
Esses textos revelam que esse dom não é um poder permanente ou pessoal do crente, mas uma manifestação do Espírito Santo, concedida “a cada um, como Ele quer” (1 Coríntios 12:7-11).
O próprio Paulo realizou muitos milagres de cura (Atos 14:8-10; 19:11-12; 28:8-9), mas em outros momentos Deus escolheu agir de maneira diferente.
Isso mostra que a verdadeira fé reconhece a soberania divina e não exige resultados automáticos.
A operação do Dom de Cura, portanto, depende exclusivamente da vontade de Deus, e não da vontade humana.
O cessacionismo falha ao tentar transformar uma manifestação do Espírito em um poder mecânico que, supostamente, deveria funcionar sempre que invocado.
A Bíblia, porém, nos ensina o oposto: que tudo procede da graça de Deus e se manifesta quando, onde e como Ele desejar.
A maior evidência Bíblica de que cessacionistas interpretam errado o Dom de Cura é a forma como Jesus curava.
O próprio Senhor Jesus, que tinha o Espírito sem medida (João 3:34), não curou todos os enfermos em todos os lugares.
Isso desmonta completamente o argumento cessacionista de que, se os apóstolos ou os crentes não curam todos, então o dom teria cessado.
Encontramos várias passagens em que Cristo, por motivos conhecidos ou desconhecidos, não curou todos os doentes:
“E jazia ali uma multidão de enfermos, cegos, coxos e paralíticos […] Estava ali um homem que, havia trinta e oito anos, se achava enfermo. […] Jesus disse-lhe: Levanta-te, toma o teu leito e anda.” (João 5:3, 5, 8)
O texto afirma que havia uma multidão de enfermos ao redor do tanque, mas Jesus escolheu apenas um homem para curar, o paralítico que estava ali havia 38 anos.
Ele não curou os demais, o que demonstra que a cura não dependia da necessidade, mas sim do propósito divino.
Mesmo sendo o Filho de Deus, Jesus não realizou muitos milagres em Nazaré, por causa da incredulidade do povo:
“E não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles.” (Mateus 13:58)
Isso mostra que o milagre não é automático; há condições espirituais e propósitos divinos envolvidos na manifestação do poder de Deus.
O próprio Jesus explicou que Deus nunca curou todos, nem mesmo nos tempos dos profetas.
A ação sobrenatural sempre foi soberanamente direcionada, nunca uma regra universal.
Cristo citou exemplos de curas seletivas no Antigo Testamento:
“Em verdade vos digo que muitas viúvas havia em Israel nos dias de Elias […] e Elias foi enviado a uma delas […] E muitos leprosos havia em Israel no tempo do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o sírio.” (Lucas 4:25–27)
Esses exemplos evidenciam que as curas, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, sempre ocorreram conforme a vontade de Deus, e não pela simples iniciativa humana.
Os dons espirituais continuam existindo, mas não funcionam como instrumentos automáticos nas mãos dos homens; eles operam de acordo com a vontade do Espírito Santo (1 Coríntios 12:11).
Portanto, ao analisarmos as Escrituras em relação às curas de modo geral, por que deveríamos concluir que o Dom de Curar concedido à Igreja Primitiva seria diferente do que já se via anteriormente?
É muito mais coerente compreender que o Dom de Cura atua de forma semelhante ao que observamos no ministério de Jesus e do próprio apóstolo Paulo e que a interpretação cessacionista está, na verdade, bem distante do que a Bíblia ensina.
Por que os cessacionistas erram ao desmerecer as curas nos dias de hoje?
Sabemos que até mesmo os cessacionistas acreditam que Deus ainda cura, porém não creem na continuidade do Dom de Cura.
O próprio cessacionista John MacArthur, ao ser confrontado em entrevistas, admite que não pode provar que Deus não cure hoje, apenas afirma que Deus não concede mais o “dom” da cura, uma distinção artificial e sem qualquer base bíblica.
Muitos cessacionistas afirmam que as curas modernas são falsas, frutos de charlatanismo, manipulação, mentiras ou até mesmo, como já ouvi alguns dizerem, produzidas por demônios.
Embora saibamos que fraudes e enganos realmente existam, é errado e desequilibrado enxergar todas as curas modernas sob essa ótica cética.
Seria intelectualmente desonesto e espiritualmente perigoso afirmar que milhões de testemunhos autênticos de curas, vindos de todas as partes do mundo, são falsos, ilusões coletivas ou fraudes religiosas.
Desde o século I até os dias atuais, há incontáveis relatos históricos e testemunhos cristãos de curas, libertações e milagres realizados em nome de Jesus Cristo.
Pais da Igreja como Tertuliano (século II), Irineu de Lyon (século II), Orígenes (século III) e Agostinho (século IV) registraram a ocorrência de curas e milagres em seus tempos como obra direta do Espírito Santo.
Nos séculos XX e XXI, há milhares de casos documentados, inclusive sob análise médica, de curas consideradas inexplicáveis pela ciência.
Descartar todos esses relatos como engano seria negar tanto as evidências espirituais quanto as factuais.
Esses testemunhos formam uma evidência viva da continuidade do agir de Deus.
Em todo o mundo, especialmente em contextos missionários, há relatos consistentes de curas imediatas após orações feitas em nome de Jesus.
Essas curas frequentemente resultam em conversões, arrependimento e glorificação de Deus, exatamente como vemos descrito no livro de Atos dos Apóstolos.
Curiosamente, até mesmo nas redes sociais de pastores e teólogos cessacionistas, sempre que algum deles aborda o tema da cessação do Dom de Cura, os comentários de seus seguidores estão repletos de testemunhos de pessoas relatando curas alcançadas por meio da oração ou da imposição de mãos.
O apóstolo Tiago, em uma das últimas cartas do Novo Testamento, prescreve a prática da oração por cura dentro da Igreja como norma cristã, e não como uma exceção ou dom extinto:
“Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele… e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará.” (Tiago 5:14-15)
Se o mesmo Espírito que agia em Atos habita em nós, e se o mesmo nome de Jesus continua sendo invocado, por que deveríamos esperar resultados diferentes?
Por que o Dom de Cura cessaria, mas as curas e outros dons não?
Outra ideia completamente desconexa com as Escrituras é acreditar que o Dom de Cura cessou, mas que as curas continuam.
Conforme já mencionei, os cessacionistas admitem que Deus ainda pode curar soberanamente, mas argumentam que, por motivos inexplicáveis, o Dom de Cura cessou.
O Novo Testamento mostra que o “Dom de Cura” é uma capacitação constante do Espírito, concedida a certos membros do Corpo para a edificação da Igreja (1 Co 12:7).
Se o Espírito ainda habita na Igreja, por que cessaria seletivamente esse dom, mantendo outros dons, como ensino, fé, ou mesmo a cura por meio da intercessão e clamor?
O texto bíblico nunca sugere tal seletividade. Cessar apenas alguns dons é uma invenção sistemática, sem base textual.
Mesmo aqueles que acreditam que os dons serviram apenas para autenticar os apóstolos estão equivocados, já que encontramos outros cristãos que não eram apóstolos exercendo o Dom de Cura.
Tanto Felipe quanto Estevão manifestaram curas de forma clara e registrada no Novo Testamento:
“E descendo Filipe à cidade de Samaria, pregava-lhes a Cristo. E as multidões unanimemente prestavam atenção ao que Filipe dizia, ouvindo e vendo os sinais que fazia. Pois os espíritos imundos saíam de muitos que os tinham; e muitos paralíticos e coxos eram curados. E havia grande alegria naquela cidade.” (Atos 8:5-8)
Felipe não era apóstolo, mas um dos sete diáconos escolhidos (Atos 6:5).
O texto utiliza o verbo “erchomai” (fazendo) no grego, indicando ação contínua, ou seja, Felipe realizava curas de modo recorrente, como um dom ativo, não um evento isolado.
Estevão, também diácono, realizava curas e milagres entre o povo:
“E Estevão, cheio de fé e de poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo.” (Atos 6:8)
O texto é direto: “grandes sinais” (em grego megas semeia) e “prodígios” (terata) são termos usados em Atos para designar milagres visíveis, incluindo curas físicas.
O que isso revela sobre o Dom de Cura?
Nem Felipe nem Estevão receberam imposição de mãos apostólica para curar; foram escolhidos por terem “bom testemunho, serem cheios do Espírito Santo e de sabedoria” (Atos 6:3).
O Espírito Santo os habilitou para sinais e curas, confirmando que o dom não dependia de cargo apostólico, mas da presença e do poder do Espírito.
Se homens que não eram apóstolos podiam curar, o argumento cessacionista de que o Dom de Cura cessou com os apóstolos colapsa por completo.
Mas e quanto às curas promovidas por falsos pastores e estelionatários da fé?
Também já ouvi cessacionistas afirmarem que um dos motivos para o Dom de Cura ter sido “extinto” seria que Deus sabia que ele seria usado por homens maus em proveito próprio, para se exaltarem ou se promoverem.
Esse, também, é um argumento infantil e sem base bíblica.
Se aplicássemos essa lógica a todas as dádivas concedidas por Deus, não receberíamos mais nada, pois o ser humano é capaz de se exaltar com tudo e usar quase tudo para seu próprio benefício.
Mas então, falsas curas não existem? E se existem, devemos aceitá-las?
As curas promovidas por falsos pastores e estelionatários da fé não invalidam a existência do verdadeiro Dom de Cura, apenas o falsificam.
A existência de imitações prova que há algo autêntico a ser imitado.
Satanás não falsifica o que não existe.
Jesus reconheceu que haveria pessoas realizando sinais e milagres “em nome Dele”, mas que não pertencem a Ele.
Isso mostra que nem todo milagre é prova de aprovação divina; o poder sobrenatural pode existir, mas a origem e o propósito podem ser distorcidos.
Muitos “milagres” em certas igrejas modernas não são espirituais, mas encenações, manipulações psicológicas ou técnicas de sugestão:
“Também, movidos por avareza, farão de vós negócio com palavras fictícias.” (2 Pedro 2:3)
Pedro mostra que há líderes que exploram a fé para lucro pessoal, usando “palavras fictícias”, ou seja, enganos, simulações e mentiras.
Esses são os estelionatários da fé, e o apóstolo afirma que o juízo sobre eles não tardará (2 Pe 2:3b).
O Dom de Cura verdadeiro é resultado da ação do Espírito Santo e não pode ser fabricado.
Ele não depende da vontade humana, nem da manipulação de um líder, mas do Espírito Santo operando como quer e quando quer:
“Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente.” (1 Coríntios 12:11)
Quem “vende” ou “agenda” milagres está usurpando o lugar de Deus e profanando o dom.
Quando há cura genuína, ela glorifica a Cristo, gera arrependimento e confirma a Palavra (Mc 16:20), jamais exalta o homem.
O papel do cristão maduro é discernir as curas e milagres, não negá-los.
Devemos permanecer firmes no ensino de Jesus e dos apóstolos, crendo que o mesmo Espírito que operava no primeiro século ainda atua hoje, curando, libertando e confirmando o Evangelho.
A Bíblia nos ordena a testar os espíritos:
“Amados, não creiais a todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo.” (1 João 4:1)
Conclusão.
O dom de cura não cessou porque o amor de Deus não cessou, a compaixão de Cristo não cessou, e a obra do Espírito Santo na Igreja não cessou.
As curas genuínas continuam sendo sinais vivos do Reino, testemunhos do poder da cruz e proclamações da esperança futura.
Portanto, o verdadeiro cristão não deve temer o dom de cura, nem idolatrá-lo, mas reconhecê-lo como expressão da graça divina em um mundo ainda marcado pela dor e pela enfermidade.
Enquanto houver sofrimento humano, o Espírito continuará operando curas para lembrar à Igreja e ao mundo que a restauração final se aproxima.
E até aquele dia, os dons são os lampejos da eternidade no presente, provas de que o Cristo ressuscitado continua vivo e agindo entre nós.
“Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente.” (Hebreus 13:8)