Uma descoberta arqueológica recente em Israel trouxe à luz uma antiga inscrição que menciona “Jesus, nascido de Maria”. Essa descoberta é de grande importância tanto para a arqueologia bíblica quanto para a comunidade cristã, pois oferece uma evidência tangível dessas duas figuras centrais do Novo Testamento gravadas na pedra há cerca de 1500 anos.
Para a fé cristã, é muito importante poder entender os contextos da vida de Jesus, de seus parentes e discípulos, e até reconstruir o panorama histórico em que Ele viveu. Quando isso não é possível através de descobertas contemporâneas aos tempos bíblicos, artefatos ou documentos mais próximos ao período em que Jesus viveu também são muito valiosos, pois nos dão ideia de como as antigas comunidades cristãs se comportavam, o que sabiam sobre sua fé, e como prestavam culto a Deus através de suas expressões religiosas.
Além disso, cada pedra, inscrição ou documento antigo encontrado na Terra Santa é muito útil não só para que possamos entender a vida nos primeiros séculos do Cristianismo, mas também para que possamos comprovar que a Bíblia não está mentindo no que se refere aos acontecimentos e à história das pessoas que são mencionadas nela. Você também pode conferir outras descobertas arqueológicas que confirmam passagens bíblicas e personagens bíblicos clicando aqui.
O que é exatamente a inscrição sobre Jesus e Maria?
Trata-se de uma inscrição em grego de 1.500 anos com a frase “Cristo, nascido de Maria”, descoberta no norte de Israel, no Vale de Jezreel. A inscrição foi encontrada na entrada de um edifício do período bizantino ou início do período islâmico, provavelmente uma igreja, com base na inscrição e na presença de mosaicos decorativos no local.
A descoberta fornece novas informações sobre a presença cristã na região e sobre as práticas religiosas da época. Os arqueólogos acreditam que a inscrição pode ser uma bênção, provavelmente colocada na entrada da igreja para que as pessoas pudessem vê-la ao entrar no recinto. A inscrição também menciona o arcebispo Teodósio, que era o arcebispo regional da metrópole de Beit She’an, à qual Taiba pertencia no século V d.C.
Na pedra, é possível ler uma espécie de dedicatória que diz: “Esta obra do bispo mais temente a Deus e piedoso [Theodo]sius e do miserável Th[omas] foi construída desde a fundação… Quem entra deve orar por eles.” Acredita-se que a frase “Cristo nasceu de Maria” também era frequentemente usada no início de documentos ou textos como uma saudação, bênção ou afirmação de fé.
A descoberta fornece novas informações sobre a presença cristã na região do Vale de Jezreel.
“Esta é a primeira evidência da existência da igreja bizantina no vilarejo de et-Taiyiba e se soma a outras descobertas que atestam as atividades dos cristãos que viviam na região”, disse o Dr. Walid Atrash, da Autoridade de Antiguidades de Israel.
O Vale de Jezreel foi um centro importante para o cristianismo nos primeiros séculos, e a descoberta da inscrição fornece mais evidências sobre a comunidade cristã que habitava aquela região. A área já havia sido escavada anteriormente, quando uma igreja do período das Cruzadas e um antigo mosteiro também foram descobertos nas proximidades.
Quais circunstâncias levaram a descoberta da inscrição “Jesus nascido de Maria”?
A descoberta ocorreu durante uma escavação de salvamento realizada por Tzachi Lang e Kojan Haku no início da construção de uma estrada próxima à aldeia de Taiba, localizada no Vale de Jezreel. As leis do Estado de Israel afirmam que uma escavação de salvamento deve ser realizada antes de qualquer projeto de construção ser iniciado, pois é comum encontrar novos sítios arqueológicos com valiosos pedaços da história enterrados nos mais variados lugares em Jerusalém e proximidades.
“Não sabíamos o que esperar da obra, mas sabíamos que se tratava de uma área onde haviam sido encontrados vestígios arqueológicos. Quando nos deparamos com a inscrição, sabíamos que tínhamos uma igreja”, disse Yardenna Alexandre, arqueóloga da Autoridade de Antiguidades de Israel (IAA), ao The Jerusalem Post.
A pedra foi encontrada nas paredes da suposta igreja em ruínas, e não em sua entrada, o que pode indicar que poderia ter vindo de outro edifício próximo, tendo sido reaproveitada como material de construção, ou então que o edifício em algum momento do tempo tenha sido destruído e depois reconstruído.
Qual a importância desta descoberta arqueológica para o mundo cristão?
Jesus Cristo é o fundador do Cristianismo, e cada descoberta envolvendo o seu nome é carregada de muito significado. O fato de termos uma inscrição, ainda que do século V d.C., trazendo o seu nome e o nome de sua mãe, é certamente muito importante para entendermos como a tradição cristã foi passada de geração em geração.
Jesus é um dos poucos personagens históricos que pode ser rastreado através das décadas e dos séculos até os anos em que Ele realmente viveu. Todos os artefatos e contribuições arqueológicas que nos ajudem a fazer isso devem ser preservados e estudados, não importando se são de fontes bizantinas, gregas, católicas, protestantes ou mesmo produzidas por seus inimigos.
Nesta inscrição, temos um registro histórico daquilo que os cristãos da antiguidade sabiam sobre Jesus: que Ele nasceu da virgem Maria, exatamente como o Novo Testamento descreve.
Durante a época de Jesus e nos períodos subsequentes, havia uma diversidade de crenças sobre sua existência e natureza. Vários grupos, tanto dentro quanto fora do cristianismo, questionaram ou negaram aspectos específicos da narrativa do Novo Testamento sobre Jesus, incluindo seu nascimento. Essas crenças refletiam as complexas e variadas tradições religiosas e filosóficas da época.
O docetismo, por exemplo, foi uma heresia cristã primitiva que sustentava que Jesus não teve um corpo físico real. Segundo essa crença, Jesus apenas parecia ter um corpo humano. Isso implica uma negação do nascimento físico de Jesus, visto que, segundo essa crença, Ele nunca teria sido um ser humano de verdade.
Os gnósticos também tinham diversas crenças sobre Jesus, muitas das quais diferiam das narrativas ortodoxas. Alguns gnósticos acreditavam que Jesus era uma entidade divina que não experimentou um nascimento humano real, mas apenas aparentou ser humano para transmitir conhecimentos esotéricos.
Talvez por conta desse cenário conturbado dos primeiros séculos do Cristianismo, os antigos cristãos tenham sentido a necessidade de gravar em pedra e em vários outros documentos a frase “Jesus nasceu de Maria.”
Conclusão:
Temos em mãos uma descoberta arqueológica do século V d.C. que demonstra como o Cristianismo já havia se organizado no Vale de Jezreel e formado uma comunidade forte, o que provavelmente se refletia em várias outras localidades próximas a Jerusalém e até as mais distantes.
Vemos a expressão de um povo cristão que reconhecia Jesus e Maria como personagens centrais de sua fé, algo que provavelmente se repetia em todas as outras comunidades cristãs dos primeiros séculos. Ainda que seja apenas uma inscrição em um pedaço de pedra, sabemos que esta descoberta corrobora muitas outras já encontradas e que ainda serão descobertas posteriormente.
Aos poucos, por meio da arqueologia e outras ciências, vamos desenterrando o passado da fé cristã e expondo ao mundo, com toda a riqueza de detalhes, a Bíblia e seu contexto.