Qual a diferença de um cristão bíblico para um cristão cultural?
Como sabemos se somos cristãos autênticos ou se só nos acostumamos a viver uma cultura?
Quando eu era um novo convertido em uma pequena igreja do interior costumava ouvir debates de irmãos mais velhos na fé sobre os acontecimentos dos últimos dias.
Muitos destes debates, devido ao pouco conhecimento teológico daqueles irmãos, giravam em torno de verdadeiras “lendas gospel,” ao invés de interpretações teológicas concretas.
Uma das teorias das quais me lembro e que hoje ainda me perturba a memória era a que afirmava que nos últimos dias, as pessoas abririam a Bíblia e as letras teriam sumido.
Acredito que eles se baseavam erroneamente em Amós 8:11 para tal afirmação.
“Eis que vêm os dias, diz o Senhor Deus, em que enviarei fome sobre a terra não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do Senhor” (Amós 8:11).
Penso que afirmavam isso por não entenderem como as pessoas poderiam ter sede e fome da Palavra de Deus já que possuíam a Biblia completa em suas mãos.
A única explicação que encontravam era deduzir que as Bíblias se apagariam.
É claro que eu não acreditava em tal teoria. No entanto vejo uma grande realidade contida nesta linha de raciocínio.
Mas o fato é que as letras, os versículos e capítulos da Bíblia não precisarão apagar-se, para que nós os percamos, basta deixarmos que esta secularização, este sincretismo, modismos, e estas mutações doutrinarias continuem ocorrendo na vida das igrejas e dos cristãos e o verdadeiro Evangelho se perderá, tornando-se apenas mais uma cultura ou religião morta.
O que é cristianismo cultural?
O cristianismo cultural é um costume, uma forma de vida, uma opção religiosa, ou mais precisamente uma ideologia.
O cristianismo cultural não está verdadeiramente preocupado com a causa de Deus e sim o quanto tirará de vantagem dessa causa.
O cristianismo cultural não está disposto a morrer e sim desfrutar, deleitar-se e nunca fará nada que incorra em sacrifício
Cristianismo cultural significa buscar o Deus que queremos em vez do Deus que Ele é.
É até comum termos a superficialidade em nossa compreensão de Deus e geralmente desejarmos que ele seja mais do tipo vovô bonzinho que nos mima e nos deixa fazer o que queremos.
É comum também sentirmos a necessidade de termos um Deus mais dentro das condições por nós estabelecidas.
Desejamos as vezes mais o Deus que sublinhamos em nossas Bíblias sem querer também o restante dele.
É o Deus relativo em vez do Deus absoluto.
Quando pensamos assim é bem provável que estejamos nos tornando cristãos culturais.
Cristianismo cultural é cristianismo tornado impotente.
É um cristianismo com pouco ou nenhum impacto sobre os valores e crenças de nossa sociedade.
Quando o conceito de vida secular é incorporado ao conceito de vida cristão, nenhum dos dois sobrevive.
O cristianismo cultural requer que Deus nos conceda paz pessoal e riqueza para provar que ele nos ama.
É o Deus amor, mas não o Deus santo.
Na realidade, Deus nos ama tanto que limpará o cristianismo cultural de nossas vidas, assim como o ourives purifica a prata queimando a impureza.
Como os brinquedos mutáveis com que as crianças brincam, frequentemente queremos que Deus seja ajustável, que se adapte aos nossos caprichos em vez de nós nos adaptarmos a Ele.
Por que nos tornamos cristãos culturais?
Um dos principais fatores responsáveis por mais da metade da Igreja Evangélica mundial ter se tornado uma cultura e não uma fé genuinamente bíblica são as teologias que apresentam um evangelho imediatista.
Ou seja, um evangelho que vem de encontro aos nossos problemas e aflições, que tem a única função de sarar, curar, e satisfazer nossas necessidades imediatas.
Não nos enganemos, a Igreja de hoje é produto da atmosfera que estamos gerando em nossos púlpitos em nossas reuniões e na mídia mercantilista de algumas denominações.
Por que os cristãos não oram mais?
Não oram porque não precisam, pois quando tem um problema participam de uma campanha mística em prol de causas impossíveis ou movimentos do tipo! Ofertam grandes somas de dinheiro, fazem um voto ou recorrem a amuletos e rituais.
Se isso enganosamente já resolve o problema então para que manter comunhão com Deus?
Estas práticas produzem crentes sem intimidade, sem vida espiritual. Pessoas que aprenderam uma religião e não uma fé, ou mais precisamente foram inseridas dentro de uma cultura.
Pra que orar se não tenho problemas aparentes?
Pra que jejuar se tudo vai bem em meu trabalho, ou empresa, se minha vida familiar, sentimental está caminhando?
Lembro-me de um tempo em que orávamos porque queríamos dons espirituais, desejávamos que outras pessoas fossem salvas e sentissem a alegria que sentíamos por causa de Cristo em nossas vidas.
Lembro-me de um tempo em que nossa fé não girava em torno de carros, casa própria, emprego, salários, vida sentimental e coisas do gênero.
Nós almejávamos os altos objetivos celestiais, o desvendar dos mistérios de Deus, o conhecer do seu Espírito.
Almejávamos experiências com o Pai! Tínhamos em mente que passaríamos por aflições, mas nos alegrávamos porque Jesus já havia vencido o mundo.
“Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo.”( João 16:33 )
Hoje ser cristão é ter e comer o melhor desta terra é usufruir do prazer desta vida.
Não vemos essa mensagem nos Evangelhos.
Vemos nos Evangelhos um chamado ao compromisso e a obediência a este objetivo.
Às vezes seguir a este chamado inclui não possuir nada, deixar sua família, amigos, bens, oferecer-se em sacrifício e principalmente negar a si mesmo.
Bem conheço as benesses do Evangelho, mas são consequência de uma vivencia com Deus, já que onde Ele está presente as trevas sempre batem em retirada.
Não quero este Evangelho cultural, pois tal doutrina apenas me apresenta aquilo que Satanás me oferece todos os dias para que eu desista de Jesus, riqueza, poder, felicidade, dinheiro e alivio do sofrimento.
Se o Evangelho é apenas isto que essa cultura gospel está apresentando na mídia, então quem tem dinheiro, casas, carros e família não precisa dele, pois já tem tudo que ele poderia oferecer.
Como saber se sou um cristão bíblico ou um cristão cultural?
Como saber se estou seguindo uma cultura ou se o verdadeiro Evangelho entrou em minha vida e em meu coração?
Destaco a seguir alguns pontos que nos mostrarão a diferença entre estes dois tipos de cristão.
Cristão Bíblico diferente do mundo:
O Cristão bíblico possui valores diferentes do mundo, preocupa-se com as coisas e causas de Deus.
Suas conversas envolvem temas na maioria das vezes espirituais. Possui um conjunto de valores que fogem da futilidade das coisas terrenas.
Cristão cultural se encaixa ao mundo:
Diferente do cristão bíblico o cristão cultural consegue manter os mesmos valores que qualquer pessoa não cristã tem.
Consegue se vestir da mesma forma, ouvir as mesmas músicas, falar dos mesmos assuntos e se preocupar com os mesmos problemas.
Este tipo de cristão não fará falta nenhuma no reino de Cristo e também não exerce nenhuma influência espiritual na vida de outras pessoas.
Cristãos bíblicos costumam gastar horas do seu dia em oração jejum e leitura da Bíblia:
Cristãos bíblicos costumam cultivar um verdadeiro relacionamento com Deus através de oração, jejum, leitura, estudo das Escrituras, pregação da Palavra. São os que costumamos chamar de servos e não somente crentes.
Tais pessoas estão preocupadas com os sonhos de Deus, as visões de Deus e para tais coisas costumam sacrificar seu tempo.
Preocupam-se com santificação pessoal e uma vida interior voltada ao Evangelho santo, não fazem alianças com o diabo permitindo que pequenos pecados as corrompam, cultivam e valorizam um ministério, uma chamada.
Também costumam estar bastante envolvidas com a batalha espiritual destes últimos dias.
Cristãos culturais apenas enfeitam as igrejas:
Cristãos culturais em sua maioria tem consciência de que devem orar, jejuar, ler a Bíblia e dar espaço a compromissos com Deus, porem nunca fazem isto!
Vivem presos a uma rotina mundana e materialista.
Afirmam constantemente que gostariam de ter mais tempo para oração, gostariam de ler a Bíblia, mas estão sempre ocupados ou as responsabilidades os estão exaurindo.
Trabalho faculdade, empresa, escola e compromissos sociais ocupam sempre o primeiro lugar na vida de um cristão cultural, nunca darão este lugar a Deus.
O Evangelho, Jesus e a sua palavra serão sempre um acessório na roupa espiritual de um cristão cultural.
Quando decidi não ser mais um cristão cultural.
Todos nós temos tendências a nos tornarmos cristãos culturais. As rotinas da vida e até mesmo rotinas das igrejas e grupos evangélicos muitas vezes podem nos distanciar de Deus a ponto de nos sentirmos seguros dentro do meio em que vivemos.
Um cristão radical me disse uma vez que um crente precisa estar constantemente enfrentando lutas e provas, pois do contrário cai no comodismo e é dominado por Satanás.
Embora não concorde com esta visão, vejo, no entanto certa realidade nisto, pois quando estamos passando por lutas nos voltamos para Deus, nos colocamos constantemente na dependência dele, ficamos mais alerta e cuidamos melhor da nossa fé.
Quando estamos passando por momentos de paz costumamos relaxar e dar mais espaço para nós mesmos e aos desejos da nossa carne, esquecendo que temos um inimigo que nos persegue dia e noite.
“Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar;”( 1 Pe 5:8)
Há algum tempo decidi deixar de ser um cristão cultural, pois percebi que estava fazendo tudo no piloto automático.
Pregava porque sabia, dirigia cultos e reuniões porque era o meu trabalho e obrigação, aconselhava pessoas, queria ser um bom pastor, elaborava projetos, pois esperava resultados tanto em crescimento para minha congregação como para massagear meu próprio ego.
Pude ver que mesmo minhas orações eram totalmente em cima de minhas necessidades e não para obter comunhão.
Consequentemente entendi que não queria a parceria de Deus no meu ministério e vida e sim buscava resultados e de preferência resultados que me agradassem.
Após um despertar de Deus em minha vida entendi que não posso simplesmente traçar planos e esperar que Deus se encaixe neles.
Devo me encaixar nos planos de Deus mesmo que isto signifique negar a mim mesmo.
Todos os tipos de crentes podem ser levados ao cristianismo cultural.
Alguns líderes podem vir a cair no comodismo das instituições e se acostumar com uma vivencia programada que poderá até gerar certa satisfação e falso senso de justiça, no entanto sabemos que o Evangelho é poder, milagres, conversão transformação de vidas, libertação e uma grande porção de obras sobrenaturais, resultados bem diferentes dos que obtemos quando estamos mergulhados em uma cultura.
O que devo fazer então?
Bom! Será bem difícil!
Se você percebeu que é um cristão cultural e não um cristão bíblico, dependendo do tempo em que leva sua fé de qualquer maneira, pode ter adquirido alguns vícios de comportamento.
Isto é muito sério, pois os vícios substituem uma verdadeira conduta cristã por falsos sacrifícios que na realidade fazemos por prazer e não por desejo de servir a Deus.
Existem pessoas que dirigem o louvor da igreja e por tal atitude acham que estão servindo a Deus, fazendo sua parte.
Mas ao mesmo tempo não refreiam sua língua, cultivam sentimentos lascivos, assistem pornografia, cobiçam pessoas e coisas que não são para si.
Nestes casos o cargo no coral da igreja, o ministério de pregação e evangelismo ou qualquer posição que estas pessoas ocupam servem como meio de justificação. Tolo engano de Satanás!
São vícios que nos matam espiritualmente e nos transformam em cristãos totalmente culturais, nos fazendo viver um teatro gospel ao invés de uma vida intima e verdadeiramente funcional com Deus.
Se eu fosse resumir os pontos principais para que alguém se torne um verdadeiro cristão digno de reconhecimento e respaldo bíblico mencionaria uma receita muito antiga.
Na verdade, muitos desanimam quando ouvem tais conselhos e sugestões.
Trata-se de oração, jejum, leitura e estudo das Escrituras, vigilância espiritual, pregação e amor ao próximo.
Guarde estes preceitos e ensinamentos contidos nesta mensagem, priorize estas coisas ao invés de priorizar louvor, reuniões ou outros costumes e culturas gospel. Volte-se para atitudes que realmente mudem seu interior e relacionamento com Deus e não supervalorize atitudes que apenas constroem em você uma fé teatral.
Para corrigir meus erros eu tomei as seguintes decisões:
Orar todos os dias cerca de uma ou duas horas – Isto eu propositei como prioridade e nenhum outro compromisso por mais importante que seja tomará o lugar deste propósito pois decidi colocar Deus em primeiro lugar em minha vida.
Às vezes estou cansado, ou queria ir visitar alguns amigos ou mesmo atrasei trabalhos e me sinto tentado a consumir estas horas comigo mesmo, no entanto não me permito quebrar este compromisso e mesmo lutando cumpro o prometido.
Menciono isto, pois não será fácil para você caro leitor cumprir com esta dura decisão já que aparecerão inúmeros motivos aparentemente justos para que você desista.
Jejuar ao menos uma vez por semana o dia inteiro – O jejum ainda é uma ferramenta poderosa para um cristão, tenho experimentado maravilhosos resultados quando jejuo.
Sinto-me tentado até teologicamente a não jejuar, constantes são os comentários de irmãos e até líderes que afirmam que o jejum não é necessário, que é coisa de crente fanático, porém não encontrei nenhuma justificativa bíblica para isto. Existem demônios que só saem com jejum e oração.
Certamente quem decidir jejuar e também orar sofrerá fortes investidas do inimigo e tentações para que desista.
Nossa carne usa argumentos poderosos para que não entremos em uma batalha espiritual mais intensa, mas não se preocupe o jejum é bíblico e nosso corpo está perfeitamente preparado para suportá-lo.
Com toda certeza jejum não mata! Existem crentes que não jejuam, mas se acabam em regimes para perder peso e muitas vezes por pura vaidade.
Um jejum equilibrado e com intervalos de alguns dias melhorará nossa vida espiritual e não terá impactos físicos além de nos dar consciência espiritual.
Ler as Escrituras e bons livros evangélicos – Um hábito esquecido por quase todos os cristãos do nosso tempo.
Devemos ter em mente que a leitura da bíblia e de bons livros evangélicos e até não evangélicos, nos proporciona inspiração, conhecimento e capacidade para pregar e entender a Deus e o contexto em que vivemos.
Ainda vale lembrar que as Escrituras testificam de Jesus, Elas nos revelam o coração de Deus e também alimentam nossa fé.
Conclusão:
Existem muitas atitudes as quais poderíamos tomar para não cairmos no erro de viver um cristianismo cultural e bem sabemos que todas elas se resumem em praticar o Evangelho que recebemos e vivermos realmente a Palavra que pregamos.
Não se conforme em viver um teatro gospel, lembre-se que o que diferencia as ovelhas dos bodes não são exatamente os pecados ou a fé, mas sim o que uns fizeram e outros não fizeram.
Estamos vivendo nossa história com Deus. Lutemos para que possamos vive-la de maneira que experimentemos grandes coisas dentro de um cristianismo bíblico que imita a Jesus!