As provas da existência de Jesus Cristo e as polêmicas citações de Flavio Josefo.

As provas da existência de Jesus Cristo e as polêmicas citações de Flavio Josefo.

Algumas das citações históricas fora das fontes bíblicas, mencionadas pela maioria dos cristãos que pretendem provar a existência de Jesus Cristo, são as citações de Flávio Josefo.

Flávio Josefo foi um historiador judeu do século I d.C. que escreveu extensivamente sobre a história do povo judeu e os eventos ocorridos durante o período do Segundo Templo em Jerusalém.

Existem duas passagens principais em suas obras que mencionam Jesus Cristo, direta e indiretamente, são elas:

Testimonium Flavianum:

Esta é a passagem mais famosa e discutida, que se encontra em “Antiguidades Judaicas” (Livro 18, Capítulo 3, seção 3) e descreve Jesus da seguinte forma (tradução livre):

 

“Por esse tempo viveu Jesus, um homem sábio, se é que se pode chamá-lo de homem. Ele realizou feitos incríveis, foi um mestre de pessoas que recebiam a verdade com prazer. Ele atraiu a si muitos judeus e muitos gregos. Era o Cristo. Quando Pilatos, por denúncia dos principais entre nós, o condenou à cruz, aqueles que antes o haviam amado não cessaram de falar dele. Pois ele apareceu a eles no terceiro dia, vivo novamente, como os profetas divinos tinham predito esses e outras dez mil coisas maravilhosas sobre ele. E a tribo dos cristãos, chamados assim por causa dele, não desapareceu até hoje.”

 

Menção secundária: Tiago irmão de Jesus:

Há uma outra menção mais breve a Jesus em “Antiguidades Judaicas” (Livro 20, Capítulo 9, seção 1), onde Josefo menciona Tiago, o irmão de “Jesus, chamado Cristo”.

 

“… ele (Ananus, o sumo sacerdote) convocou o conselho dos juízes e trouxe diante deles o irmão de Jesus, chamado Cristo, cujo nome era Tiago, e alguns outros, e os acusou de transgredir a lei, e os entregou para serem apedrejados.”

 

Neste estudo iremos analisar um pouco mais a fundo as citações de Flavio Josefo, principalmente o “Testimonium Flavianum” sobre Jesus e tentar determinar se estes textos podem ser usados para provar que Jesus Cristo realmente existiu e que Ele não foi um personagem fictício inventado por cristãos.

Você também pode ler todos os capítulos dessa série clicando nos links a seguir: 

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Qual o problema com as citações de Flávio Josefo sobre Jesus Cristo?

As citações de Josefo em relação a Jesus Cristo são problemáticas e polêmicas, pois apresentam uma descrição de Jesus que só um convertido ao cristianismo poderia fazer.

Texto do testimonium flavianum em francês
Texto do testimonium flavianum em francês

Ele usa termos para se referir a Jesus como: “se é que se pode chamá-lo de homem,” “Era o Cristo,” e ainda confirma a ressurreição de Jesus, afirma que os ensinos de Cristo são a verdade, atribui milhares de profecias judaicas antigas a Ele.

Seria pouco provável que Flavio Josefo tenha realmente escrito algo assim, já que não era um cristão convertido, tampouco confirma em suas outras obras que Jesus Cristo fosse o Messias.

Se ele acreditasse realmente nisso, teria certamente dado mais importância a figura de Jesus, e não somente feito uma citação isolada em uma pequena porção de texto.

Portanto, a citação de Flávio Josefo a Jesus é motivo de muitos debates, onde alguns afirmam que ela seria falsa, ou teria sofrido interpolações posteriores. Em contrapartida outros a consideram verdadeira.

Então podemos levantar 3 possibilidades no que se refere a estes registros históricos escritos feitos por Flavio Josefo:

1 – O texto é todo original, escrito por Josefo e pode ser usado como prova extra bíblica da existência de Jesus.

Se aceitarmos este ponto de vista teremos que assumir que Flavio Josefo foi um cristão totalmente convertido e como mencionamos anteriormente, isso não seria nada coerente.

2 – O texto é completamente falso e não pode ser usado como prova extra bíblica da existência de Jesus.

Se partirmos desse pressuposto, também incorreremos em vários outros problemas, pois existem outras versões do Testimonium Flavianum em outras línguas que contem este mesmo texto com algumas variações.

Então teríamos que afirmar que todas as versões foram falsificadas e isto também não pareceria coerente, já que elas possuem um texto bem parecido e vieram de fontes diferentes.

3 – O texto teria sofrido interpolações posteriores, portanto é em parte falso, mas ainda assim poderia ser usado como prova extra bíblica da existência de Jesus.

De todas as possibilidades, a possibilidade de interpolação parece ser a opção menos problemática, pois é possível que Flávio Josefo tenha realmente mencionado Jesus de alguma forma e os cristãos alteraram o texto para fazer uma afirmação mais positiva sobre ele, incluindo títulos messiânicos como “Ele era o Cristo”.

Esta terceira possibilidade parece ser mais plausível e não excluiria os registros de Josefo da coletânea de textos antigos que contém provas da existência de Jesus Cristo.

 

O texto de Flávio Josefo é verdadeiro, é todo falso, ou interpolado?

Escritos em Latim de Flávio Josefo 1524
Escritos em Latim de Flávio Josefo 1524

Quando mencionamos que as citações de Flávio Josefo são polêmicas é exatamente porque não podemos proferir um juízo conclusivo sobre a sua autenticidade.

Cristãos podem defender sua autenticidade e certamente vão encontrar muitas razões e provas para fazê-lo, enquanto céticos também poderão afirmar com razão que se trata de uma falsificação total ou mesmo parcial. Vejamos alguns argumentos favoráveis e contrários a este texto:

Alguns argumentos usados para afirmar que o texto de Josefo é falso:

  1. Josefo não era cristão, era um Judeu e, portanto, nunca teria afirmado ser Jesus o Messias. Aliás, Orígenes [254dc] afirma em seus escritos que, Josefo não considerava jesus o messias, o que é perfeitamente coerente com a mentalidade de Josefo.
  2. O texto de Flavio Josefo não é mencionado por outros autores antes de Eusébio de Cesareia. Como exemplo disso temos: Crisóstomo [347 d.C] que dedicou boa parte do seu trabalho a Josefo e que não menciona nada semelhante. Nem mesmo Teófilo [180dc], ou Clemente de Alexandria [215dc], nem Irineu [200dc] que foi compilador de quatro Evangelhos. Ou mesmo outros como Orígenes [254dc], Hipólito [235dc], Anatólio [280dc], Minucio Felix [250dc] e outros apologista cristãos. É de se esperar que uma citação assim por parte de Josefo tivesse sido comentada por outros escritores.
  3. Alguns afirmam que o texto quebra o fluxo narrativo da obra de Flavio Josefo e começa com um estilo literário diferente do usado por ele.

Alguns argumentos usados para defender a autenticidade do texto:

  1. Existem outras versões do manuscrito de Flavio Josefo em outras línguas, que também contém basicamente as mesmas expressões com algumas variações, como por exemplo um manuscrito árabe do século X que se encontra no “Livro dos Títulos” escrito por Agápio de Hierápolis um escritor cristão árabe que era o bispo melquita de Mambije (Hierápolis Bambice). Além da variação do manuscrito árabe também podemos citar menções a uma versão siríaca mencionada por Miguel, o Sírio, um patriarca siríaco de Antióquia da Igreja Ortodoxa Siríaca, e uma versão do “Testimonium” encontrada em cinco fragmentos da “Guerra Judaica”, numa tradução para o Paleoeslavo, que remonta aos séculos XI-XII. Em todas estas versões temos termos como “Ele era o Cristo” aparecendo ou como “Ele era tido como sendo o Cristo”
  2. Os questionamentos e desconfianças ao Testimonium Flavianum no que se refere unicamente a Jesus só começaram a surgir convenientemente na época do Iluminismo por volta do século XVII quando esta corrente de pensamento combatia a Igreja Católica, antes disso o texto era amplamente respeitado.
  3. Embora o texto de Josefo contenha frases como “Ele era o Cristo,” termo o qual Josefo provavelmente nunca usaria, em contrapartida ele usa termos como “um homem sábio, um obreiro de feitos surpreendentes, um professor de pessoas que aceitam a verdade com prazer” para descrever Jesus. Estes não seriam rótulos usados por um cristão para descrever Cristo, já que os cristãos da época já o consideravam como Deus. Além disso Josefo enfatiza em seu texto que Jesus conquistou “tanto judeus como gregos,” esta última citação nunca seria adicionada por um escriba cristão pois os mesmos sabiam que Jesus ministrou principalmente aos judeus.

Alguns argumentos usados para defender a interpolação:

  1. Como já foi mencionado anteriormente Flavio Josefo não era cristão, mas um historiador judeu, por isso ele nunca usaria termos como “Ele era o Cristo,” “se é lícito chamá-lo de homem,” tampouco confirmaria a ressurreição de Jesus ou que Ele cumpriu as profecias e também que seus ensinamentos eram a verdade. No entanto quando usa termos como: “nesse mesmo tempo apareceu Jesus, que era um homem sábio” ou “… suas obras eram admiráveis. Ele ensinava os que tinham prazer em ser instruídos na verdade e foi seguido não somente por muitos judeus, mas mesmo por muitos gentios,” segundo alguns defendem, estas frases se parecem com o vocabulário e estilo literários empregados por Flavio Josefo em outras passagens de seus textos. Portanto é possível sugerir que tenham ocorrido interpolações e misturas de textos.
  2. Alguns afirmam que é possível que as interpolações tardias possam ter sido feitas pelo próprio Eusébio de Cesareia propondo que o Testimonium apresenta três frases (“aquele que realizou feitos surpreendentes”, “a tribo dos cristãos” e “ainda até hoje”) que não são usadas em nenhum outro lugar em toda a literatura grega, exceto Eusébio. No entanto esta ideia não é bem aceita e muitos concordam que Josefo poderia usar expressões semelhantes.
  3. Em outras versões do “Testimonium” encontradas em línguas diferentes, temos variações do texto que parecem se aproximar mais do que teria sido um comentário mais neutro da parte de Josefo, não mencionando que Jesus era o Cristo, mas afirmando que assim pensavam seus seguidores. Alguns acreditam que esta possa ser a versão mais próxima do original do que Flavio Josefo realmente disse, sem as distorções ou adições supostamente cristãs.

 

Se os textos de Flávio Josefo sofreram interpolações, então eles são falsos?

Quando alguns mencionam a possível interpolação tardia aos textos de Flávio Josefo no que se refere a Jesus Cristo, podem querer passar a ideia de que tal interpolação descredenciaria o texto, e por conta disso ele deve ser totalmente descartado.

No entanto, isso não prova que o texto seja falso, mas apenas mostra que ele pode ter sofrido adições e modificações tardias. Porém o núcleo do que Flávio Josefo realmente escreveu ainda pode estar lá. Isto é possível ocorrer principalmente em textos antigos que são copiados por vários escribas e em várias línguas.

No caso do texto em questão, o “Testimonium Flavianum” a principal problemática encontra-se nos termos que afirmam que Jesus era o Cristo e que não seria licito chama-lo de homem. Porém em basicamente todo o resto do texto existe um amplo consenso por parte de vários estudiosos, tanto cristãos, como judeus de que existe um núcleo autêntico realmente escrito por Josefo, onde ele menciona Jesus Cristo. Aliás, em outras versões deste mesmo texto encontramos isso de forma clara, como na versão árabe por exemplo.

Esta conclusão é bem coerente já que Josefo menciona em outros momentos os cristãos, Tiago irmão de Jesus e também João Batista.

Muitos dos que tentam apagar qualquer menção de Josefo a Jesus, o fazem na verdade por pura perseguição ou desonestidade intelectual, tentando remover qualquer menção a Cristo durante os primeiros séculos, a fim de fortalecerem a ideia de que ele foi inventado posteriormente pela Igreja Católica.

É curioso constatar que os mesmos que fazem isso, não tentam desacreditar ou apagar outros Judeus radicais com menos significância religiosa, que foram também mencionados por Flávio Josefo, como por exemplo: Simão bar Kokhba, que liderou a revolta judaica contra o domínio romano na Judéia entre os anos 132 e 135 d.C. Josefo descreve Bar Kokhba como um líder militar que atraiu seguidores e conseguiu estabelecer um breve período de independência judaica antes de ser derrotado pelos romanos.

Josefo, em “História dos Judeus” (Livro 7, Capítulo 12, seção 6), relata as atividades de um outro autoproclamado Messias, chamado Teudas, que liderou uma revolta na Judéia durante o reinado de Herodes, o Grande. Teudas afirmava ser um libertador enviado por Deus para conduzir os judeus à libertação do jugo romano.

Por que Josefo mencionaria outros nomes sem tanta significância e não mencionaria o próprio Jesus Cristo, mesmo que minimamente?

Portanto é perfeitamente plausível acreditar que Flavio Josefo não só mencionou Jesus Cristo, como também o descreve ao menos com alguns atributos como “um sábio, fazedor de obras incríveis e professor,” tal como era visto por muitos dos seus seguidores e até pelos que não criam nele como Messias.

 

Comparando outras versões dos textos de Flávio Josefo sobre Jesus.

Existem muitos textos de Flavio Josefo encontrados em várias bibliotecas. Na Biblioteca Ambrosiana em Milão encontramos o Ambrosianus 370 (F 128), do século XI, o mais antigo desses manuscritos gregos que contém o Testimonium e abrange quase toda a segunda metade das Antiguidades.

Cerca de 120 manuscritos gregos de Josefo foram identificados, dos quais 33 são anteriores ao século XIV, representando dois terços do período Comneno e cerca de 170 traduções latinas de Josefo, algumas das quais remontam ao século VI.

Graças a esta abundância de manuscritos dos textos de Flávio Josefo, podemos fazer comparações com os manuscritos gregos e por meio destas comparações identificar interpolações, ou talvez até tentar determinar o que Flavio Josefo possivelmente teria realmente escrito.

Vamos comparar apenas duas destas versões, a versão grega e versão árabe:

Texto do grego:

“Por esse tempo viveu Jesus, um homem sábio, se é que se pode chamá-lo de homem. Ele realizou feitos incríveis, foi um mestre de pessoas que recebiam a verdade com prazer. Ele atraiu a si muitos judeus e muitos gregos. Era o Cristo. Quando Pilatos, por denúncia dos principais entre nós, o condenou à cruz, aqueles que antes o haviam amado não cessaram de falar dele. Pois ele apareceu a eles no terceiro dia, vivo novamente, como os profetas divinos tinham predito esses e outras dez mil coisas maravilhosas sobre ele. E a tribo dos cristãos, chamados assim por causa dele, não desapareceu até hoje.”

Texto do Árabe:

“Naquela época, havia um homem sábio chamado Jesus cuja conduta era boa; suas virtudes foram reconhecidas. E muitos judeus e outras nações se tornaram seus discípulos. E Pilatos o condenou à crucificação e à morte. Mas aqueles que se tornaram seus discípulos pregaram sua doutrina. Eles disseram que ele apareceu para eles três dias após sua crucificação e que ele estava vivo. Ele era considerado (por eles) como o messias sobre quem os profetas haviam falado maravilhas. “

Podemos notar algumas diferenças entre estes textos, que embora não alterem o sentido, mas omitem ou adicionam detalhes importantes a nossa discussão:

  • A versão grega culpa os judeus pela morte de Jesus, enquanto a versão árabe menciona apenas Pilatos.
  • A versão grega menciona “Ele era o Cristo” enquanto a versão árabe omite essa parte.
  • Enquanto a versão grega passa a ideia de que Flávio Josefo acreditava na ressurreição, nas profecias sobre Jesus ser o Cristo a versão árabe por sua vez apenas narra que os seus discípulos eram quem criam nestas coisas.

Ao pegarmos apenas estas duas variações já podemos identificar que é possível que a segunda versão seja realmente o que Flávio Josefo escreveu, pois se parece mais com o que um judeu não-cristão escreveria sobre Jesus Cristo.

Existem outras versões com variações significativas, em textos de Flávio Josefo em diferentes línguas, mas também em grego e latim

 

As citações de Orígenes desmentem o Testemonium Flavianum?

Orígenes de Alexandria ou Orígenes de Cesareia
Orígenes de Alexandria ou Orígenes de Cesareia

Origines, também conhecido como Orígenes de Alexandria, foi um influente teólogo, estudioso e escritor cristão dos primeiros séculos da era cristã. Ele nasceu por volta do ano 185 d.C. em Alexandria, no Egito, e faleceu por volta do ano 253 d.C. em Cesareia Marítima, na Palestina.

Os escritos de Origenes em seu livro “Contra Celsum,” são constantemente mencionados como prova de que o “Testimonium Flavianum” onde Flavio Josefo menciona Jesus Cristo é uma falsificação. Mas será que isso é mesmo verdade?

No seu livro “Contra Celsum,” uma obra apologética do cristianismo escrita em resposta aos ataques do filósofo pagão Celso, Origines acusa Flávio Josefo de não ter querido admitir que Jesus era o Messias. Vamos conferir o texto na integra:

 

“De fato, no livro 18 de Antiguidades judaicas, Flávio Josefo registra que João batizava prometendo a purificação aos batizados. E o mesmo autor, embora não acreditasse que Jesus era o Cristo, procura a causa da queda de Jerusalém e da ruína do templo. Segundo ele, o atentado contra Jesus fora a causa destas desgraças para o povo, porque tinham condenado à morte o Cristo anunciado pelos profetas. Mas, apesar de tudo, ele não está longe da verdade ao afirmar que estas catástrofes aconteceram aos judeus para vingar Tiago, o Justo, irmão de Jesus chamado Cristo, porque o tinham matado, apesar de sua evidente inocência. A esse Tiago, Paulo, o verdadeiro discípulo de Jesus, diz que o viu e o chama de “irmão do Senhor”, não por causa de seu parentesco de sangue ou por sua educação comum, mas por seus costumes e doutrina. Portanto, se Josefo diz que as desgraças da devastação de Jerusalém aconteceram aos judeus por causa de Tiago, com quanto maior razão poderá afirmar que tais desgraças ocorreram por causa de Jesus Cristo, cuja divindade é atestada por tantas igrejas, integradas por homens que fugiram da devassidão e dos vícios, e se conservam unidos ao Criador e tudo referem à sua santa vontade.” (Contra Celsum, Livro I, Capítulo 47)

 

O que podemos concluir deste fragmento de texto é principalmente que Origenes afirma que Flávio Josefo tinha uma opinião sobre Jesus, que Ele não era o Messias.

Isso parece bem coerente já que sabemos que que Flavio Josefo na verdade reconhecia Vespasiano como um Messias e não um Jesus judeu.

No entanto, como Flavio Josefo teria uma opinião em relação a alguém que segundo os céticos foi introduzido no cenário histórico cerca de 3 ou 4 séculos depois, através de falsificações de documentos ou interpolações?

Logo, para usarem as citações de Origenes como argumento da falsificação dos textos de Josefo para a “não existência” de Jesus, a opinião de Josefo sobre Jesus deveria ser nenhuma, já que Jesus nunca teria existido para Flavio Josefo!

Então, ainda que possamos usar as citações de Origenes para de certo modo provar que ouve interpolação no “Testimonium Flavianum” e que provavelmente isso poderia ter ocorrido á partir do século VI, para isso temos que admitir que Flavio Josefo conhecia o “Jesus chamado Cristo” e que não acreditava que Ele era o Messias dos judeus e por isso recebeu essa menção nos textos de Origenes.

Dessa maneira a citação de Origenes para um cético que acredita que Jesus foi apenas um mito cristão inventado, perde todo o sentido, já que o uso do “Testimonium Flavianum” por parte daqueles que querem provar que Jesus existiu não visa provar que Flavio Josefo o via como o Messias, mas apenas que Flavio Josefo o conhecia e o mencionou em seus escritos.

 

Ainda podemos usar os textos de Flávio Josefo como provas de que Jesus Cristo existiu?

Os textos de Flavio Josefo só poderiam ser deixados de fora da lista de referências extra bíblicas sobre a existência de Jesus Cristo, caso fosse comprovado sem sobra de duvida que eles são completamente falsos e não foram escritos por Flavio Josefo.

Mesmo em caso de comprovada a interpolação por parte de copistas ou escribas cristãos, se ainda tivermos o núcleo textual de Flávio Josefo onde ele menciona Jesus Cristo, os cristãos, a crucificação ou a doutrina de Jesus ainda no primeiro século, o fato de ele ter crido em Jesus como Messias, ou ter manifestado qualquer conversão a fé cristã é completamente irrelevante.

Mas por que pensar assim? É bem simples. Mesmo se removermos dos textos os termos polêmicos onde Josefo afirma “Ele era o Cristo, se é que pode ser chamado de homem, etc” ainda assim temos uma referencia histórica onde Flávio Josefo menciona Jesus como um homem que existiu realmente, foi considerado sábio, atraiu discípulos, foi crucificado por Poncio Pilatos, que muitos acreditavam que ele ressuscitou ao terceiro dia e seus seguidores já estavam presentes e organizados no período do primeiro século.

Mas isso não seria confiar em algo duvidoso?

Como já mencionamos anteriormente, existem inúmeras versões do “Testimonium Flavianum” em outros manuscritos. Também temos citações parecidas as de Flávio Josefo feitas por seus contemporâneos Tácito, Plínio o Jovem, Luciano de Samósata, Celso e outros críticos de Jesus que contem semelhanças de pensamento com a menção feita a Jesus por Flavio Josefo.

Ou seja, o que Josefo diz, ainda que interpolado, vai bem de encontro com a mentalidade do que se sabia em relação a Jesus e seus seguidores na época.

Tentar forçar a ideia de que os fragmentos de documentos variados onde Josefo menciona Jesus são falsos, ou sofreram interpolações, e por conta disso todos os documentos deveriam ser descartados ou “silenciados” é anticientífico e nenhum personagem histórico nunca foi tratado com este nível de desconfiança ou rigidez.

Se aplicarmos este mesmo nível de desconfiança a qualquer outro texto histórico, não teremos nenhum personagem histórico confirmado. Poderíamos classificar Alexandre o Grande como mito, Júlio Cesar e muitos outros.

O máximo que podemos concluir sobre este texto em questão escrito por Josefo é que ele possui argumentos conflitantes que precisam ser melhor analisados e que por conta disso o texto pode ser classificado como duvidoso em alguns trechos e em relação a outros aspectos, mas nunca rejeitado por completo, no que se refere a referência histórica que faz a Jesus.

Você também pode ler todos os capítulos dessa série clicando nos links a seguir: 

 

Fontes pesquisadas:

Flávio Josefo, Seleções de Flávio Josefo, Editora das Américas, 1974, tradução de P. Vicente Pedroso.

Maria Antónia Costa Pereira – REVISTA LUSÓFONA DE CIÊNCIA DAS RELIGIÕES – Ano III, 2004 / n.º 5/6 – 191-199

James Carleton Paget, Some Observations on Josephus and Christianity, Journal of Theological Studies 52.2 (2001) pp. 539–624. Uma resenha sobre todas as teorias relativas, estudiosos e evidências.

Shlomo Pines, Uma Versão Árabe do Testimonium Flavianum e suas Implicações , ( Jerusalém : Academia de Ciências e Humanidades de Israel, 1971)

Alice Whealey, Josefo sobre Jesus: a controvérsia do Testimonium Flavianum desde a Antiguidade Tardia até os Tempos Modernos , Peter Lang Publishing (2003). Like ou TF são vistos há séculos.

Ambrogio Donini, “História do Cristianismo”, Lisboa, Edições 70, s/d

JOSEFO, Flávio. História dos hebreus. Rio de Janeiro, CPAD, 1991, 2, p. 203. V. tb. YAMAUCHI, Edwin. Josephus and the Scriptures. Fides et historia 13, 1980, p. 42-63.

MARTIN, Michael. The case against Christianity, Philadelphia, Temple Univ. Press, 1991, p. 49.

Referência: STROBEL, Lee. Em defesa de Cristo: um jornalista ex-ateu investiga as provas da existência de Cristo. São Paulo: Editora Vida, 2001.

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Monteiro Junior

Pastor e estudante das Escrituras, idealizador do Projeto "O Pesquisador Cristão." Estudou Teologia e Sistemas de Informação. Atualmente dedica-se a pesquisas relacionadas a História do Cristianismo, Novo e Antigo Testamento. Acredita e defende a "busca e compartilhamento do conhecimento nos tempos modernos..."

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